A integração latino-americana em uma perspectiva intercultural

Crédito: Jornalismo NIC

Quando se discute a hegemonia idealista norte americana e seus impactos nas demais culturas, o debate acerca da integração latino-americana ressurge. Afinal, esse pensamento de união entre os países da América Latina ainda é possível? Após o fim da Guerra Fria e a dissolução formal dos dois mundos ideológicos, vários diálogos internacionais surgiram com a possibilidade de fortalecimento das culturas locais, a fim de ampliar a proteção da integralidade das características políticas, econômicas, sociais e culturais dos Estados. Entretanto, desde os anos 90 existe um plano de desenvolvimento de integração que impulsionaria o bloco. Longos estudos foram feitos para identificar os eixos estratégicos dessa atuação.

O foco do plano seria aumentar a capacidade de integração desses atores políticos numa perspectiva de enfrentamento às teorias americanas. A América Latina é frutífera em acordos regionais. Existe uma lista extensa de cooperações como: o Mercado Comum da América Central, a Comunidade do Caribe, a Comunidade Andina, o Mercosul, a Aliança do Pacífico e outros acordos em processo de construção. Porém, mesmo após os avanços entre os países, a região permanece isolada. Os países do Mercosul, apesar das inúmeras potências criativas, não têm um comércio integrado de maneira eficaz e que concorra com as estruturas americanas.

Alguns dos melhores filmes latino-americanos. Crédito: Opera Mundi

No caso do Brasil, as exportações para o Mercosul caiu cerca de 35% entre o período dos anos 90 e 2015. Entretanto, para a China, o Brasil já exporta mais do que para os seus próprios signatários. Apesar dos inúmeros acordos, a intensidade de negócios permanece pouco relevante na região. Isso se dá entre muitas questões, em virtude da imposição liberal praticada pelo mercado norte americano não só pelas vias econômicas, mas, sobretudo pela interferência política nos modelos democráticos na América Latina.

Essa prática prejudica, e muito, as transações latinas no que se refere à difusão da sua própria cultura.  Um exemplo disso é desarticulação do ensino de espanhol no bloco, considerado nos tratados como peça chave no processo de consolidação da integração. Nesse embate de lutas ideológicas, compreende-se que na contemporaneidade, os novos fluxos de bens, serviços, capitais e tecnologias estão sob a base da produção de conhecimento. Diante disso, a intelectualidade na América Latina representa uma parcela muito importante na propagação de ideais que suscitem o bem estar social atrelado ao desenvolvimento econômico sustentável.

Primeira edição do FLICC Mercado Audiovisual Latinoamericano realizado no México, em 2014. Crédito: GameOver.vg

As riquezas culturais na América Latina são intensas, mas pouco difundidas. A produção musical, as artes populares, a gastronomia e o audiovisual carregam uma considerável parcela do PIB dos países integrantes. Argentina, Brasil e México são os líderes da produção cinematográfica. Segundo dados da ANCINE, o número de pessoas que assistem a produção nacional aumentou consideravelmente.

Esse crescimento de 15 para 30 mil espectadores no quadro comparativo entre 2012 e 2017 representa não só uma pauta estratégica para a integração cultural na América Latina, mas como uma agenda definitiva de desenvolvimento alternativo para a região. Isso depende basicamente de encontros regionais que aumentem o diálogo entre os Estados para que um caminho em defesa do saber local seja priorizado. Ademais, os agentes sociais precisam refundar o conceito de integração latino-americana na contemporaneidade. Somente com uma participação popular transdisciplinar será possível construir um panorama menos utópico na região.

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por Anders Noren

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