“O preconceito é um empecilho para o audiovisual chinês no ocidente” – Fernanda Ramone, empreendedora cultural

Crédito: Financial Times.

Os campos da economia, política e cultura estão naturalmente interligados. E no cenário internacional de hoje, eles fazem parte das estratégias estabelecidas pelos países, no intuito de promoverem uma imagem favorável aos seus objetivos nacionais, mas acima de tudo de adquirirem o poder de influenciar e servirem de modelo a ser seguido pela maioria. A cultura e os produtos que podem resultar da sua indústria como filmes e séries documentais, ou de ficção propagam ideias e ideais em suas histórias que, em especial seus criadores, mas também aqueles que investiram e participaram do processo de criação como autoridades e instituições, gostariam que o público em geral de outros países e regiões assumissem como suas, ou estivessem de acordo com eles. Chama-se isso de Soft Power, ou Poder Suave, conceito primeiramente abordado pelo teórico das Relações Internacionais dos Estados Unidos, Joseph Nye.

A China, país que já disputa com os Estados Unidos a posição de maior economia mundial, tem um projeto a longo prazo, em conjunto com seus parceiros e vizinhos regionais, de criar na Ásia um segundo polo de poder econômico, político e cultural, estabelecendo um equilíbrio de poder mundial entre Ásia e as potências do Atlântico Norte. Para abordar um pouco mais sobre esta questão, em especial os desafios que os chineses ainda encontram para consolidarem o seu Soft Power, a Revista Intertelas entrevistou a mestre em gestão da indústria cultural (Universidade de Pequim) e consultora judicial na Gestão de Projetos da Indústria Criativa Fernanda Ramone. Ela que é autora do capítulo “A Produção Cultural na China” no Guia Brasileiro de Produção Cultural 2010-2011, publicado pelo Sesc SP, morou nove anos na China, atuando como correspondente da BandNews TV. Trabalhou ainda na Rádio Internacional da China e promoveu o DocBrazil Festival, em Pequim e outras cinco cidades chinesas.

Fernanda Ramone. Crédito: arquivo pessoal.

Antes de entrarmos no assunto propriamente dito, conte quais são os seus projetos atuais que envolvem a China.

Já há algum tempo venho desenvolvendo projetos que busquem promover o legado dos chineses no Brasil e as relações políticas, culturais, econômicas e históricas que ambos os países ao longo dos séculos vêem desenvolvendo. A aproximação de Brasil e China ocorre muito antes do que se pensa, pois Portugal foi um dos países europeus a também colonizar a China. Assim, no passado, a pedido do imperador, duas embarcações com chineses aportaram no Rio de Janeiro, por exemplo, em uma tentativa de substituir a mão-de-obra negra pela amarela. Duas embarcações de Macau vieram e chegaram na Tijuca.

Porém, em razão dos chineses terem uma cultura muito diferente do africano, acabou que a substituição desejada não foi possível. No entanto, a presença destes chineses deixou um legado arquitetônico, histórico e artístico inclusive na cidade, pois vieram muitos pintores para o Rio também. Escrevo sobre este legado para um site de Macau. Ao mesmo tempo, no Brasil, realizo um projeto de guia gastronômico da culinária chinesa, em conjunto com visita a pontos históricos em cidades como Rio, São Paulo e Salvador que tenham vínculos com a presença histórica chinesa, além de semelhanças do passado colonial português, que tanto o Brasil, quanto a China resguardam.

Outro projeto é o Festival da China Feminina (FestYin). A pauta do feminismo está muito em voga hoje em dia. Particularmente o feminismo na China chama a minha atenção, pois ele é híbrido. Ele é Yin e Yang, incluindo o homem, não tendo este radicalismo que o movimento no ocidente acabou adquirindo. Eu creio que o feminismo é a luta pelo direito comum, não apenas de mulheres. E mesmo para tanto, é preciso incluir os homens nesta discussão, se almejamos o fim de uma sociedade de valores patriarcais.

Mas a China, assim como o Brasil, ou até outros países asiáticos a exemplo de Japão e Coreia, ainda é bastante patriarcal, não?

É muito patriarcal, porém de uma forma diferente do que se observa em outros países asiáticos como Japão e Coreia. O machismo e o patriarcado na China hoje são coisas mais sutis. Destes três, acredito que o Japão seja o caso mais extremo. E a Coreia pode-se dizer é um meio termo, que se aproxima mais da China.

Crédito: Facebook do FestYin.

Como você percebe a abordagem destas questões bastante atuais na produção audiovisual de Coreia e China, dois países asiáticos que atualmente vêm ampliando presença cultural em outras regiões do mundo?

Creio que a Coreia está mais à frente atualmente, no que diz respeito a sua produção audiovisual e cultural, abordando temas bastante contemporâneos de forma crítica. Na China, isto também existe, mas o trato com questões sensíveis como esta vai depender de região para região. A presença da mulher na cultura chinesa é muito forte, ela tem um papel e uma posição de destaque, levando em conta, certamente, os meandros. Como ocorre com a Coreia. Contudo, existe aquela característica da mulher meiga, que o FestYin tenta analisar e compreender.

O objetivo é buscar compreender como a figura da mulher na China foi construída ao longo dos 100 anos. De forma geral, posso dizer que teve momentos que as mulheres assumiram um protagonismo maior, teve outros que ficaram nos bastidores, mas de uma forma, ou outra, elas têm uma posição de poder definitiva. O maior símbolo disse é a Imperatriz Orquídea Anchee Min, que era uma concubina e tornou-se imperatriz, governando a China por quatro décadas.

Crédito: Custo Justo.

Nós sabemos que o Soft Power é a capacidade de um país de influenciar, até induzir o pensamento de outros. Para isso são utilizados diversos artifícios da indústria cultural como cinema, onde se trabalha muito a criação de uma imagem, de uma ideia sobre a cultura e o retrato de um país que não corresponde à realidade muitas vezes. Como isso ocorre na China?

A China sempre teve o objetivo de promover a sua cultura para além do Sudeste Asiático, para além do oriente. Ela sempre quis chegar ao Ocidente. Desta forma, pode-se observar que eles estão produzindo e consumindo, através de sua produção audiovisual, a imagem de uma mulher que é muito mais livre e independente do que realmente são na sociedade chinesa. Aliás, esta constatação não ocorre apenas na China, mas em praticamente todos os países, em especial com o cinema mais comercial, blockbuster. De qualquer forma, os chineses perceberam que não adiantava mais fazerem 600 filmes por ano e apenas eles e o Sudeste Asiático consumirem. São bilhões de investimento direcionados a esta área, desde a política de Hu Jintao, ex-presidente chinês, antecessor do atual Xi Jinping.

Apesar deste cenário, a China no ocidente segue tendo uma imagem complexa e negativa, além de uma presença menor de seu conteúdo audiovisual, ainda que tenha todo este poder econômico? Ela hoje perde espaço em várias áreas culturais para países como Coreia e Japão.

Creio que o Japão é um caso à parte. Já, ao compararmos com a Coreia, que está realmente hoje tendo uma influência cultural bastante significativa nas gerações jovens do ocidente através do K-Pop e dos K-dramas, a China ainda se leva muito a sério. A Coreia conseguiu romper isso e tem uma certa cultura que o Rio de Janeiro tem, a cultura do esculacho, do rir de si próprio, do ser irônico, sarcástico, crítico e engraçado com os seus problemas e as contradições da sua cultura.

O passado imperial chinês é um bom ativo cultural para a China, mas ao mesmo tempo também a limita, porque ainda há uma certa dificuldade em criticar, rir, ou digamos tornar mais quotidiano e comum histórias das gerações de séculos passados que os chineses caracterizam como grandiosas. A Coreia consegue fazer isso, chegando a um resultado bastante interessante, na soma do tradicional com o moderno. Falando especificamente dos tempos atuais, o que é a música “Gangnam Style” do cantor “Psy”, se não uma paródia, um esculacho da cultura de ostentação da classe média e rica coreana?

Outra questão importante é levar em conta o tamanho e a formação histórica destes dois países. A China por ser maior, tanto em território, quanto em população, tem questões bastante delicadas e problemas que os coreanos não têm. A questão da desigualdade de desenvolvimento das regiões do país é uma delas, assim como a imensa diversidade de povos que compõe a sociedade chinesa, alguns inclusive que apresentam grupos políticos com interesses de não pertencer ao país, leva a eles serem muito cuidadosos na hora de abordar certos temas no cinema e na produção audiovisual em geral. A China, não faz muito tempo, deixou de ser majoritariamente rural. Ela ainda se abriu para o mundo muito recentemente e teve certa influência do processo de ocidentalização em algumas regiões.

Mas, a questão de você construir um Soft Power, englobando toda esta complexidade cultural de povos internos da China, buscando conviver harmoniosamente em uma unidade nacional, com o respeito necessário, mas que também possa fazer críticas e debochar de si é algo que talvez em um futuro apenas seja possível alcançar.

Se formos comparar este quadro com o da Coreia que, digamos é ainda bastante homogenia, percebemos que a situação é mais fácil para o sul-coreano avançar neste sentido que o chinês. E ainda é preciso levar em conta a ideia de que com o advento do comunismo e a disputa com o ocidente capitalista levaram que se criasse uma imagem da China no ocidente bastante pejorativa e que é difícil romper, pois o preconceito é muito grande.

Sobre a questão da representação negativa no cinema em si, percebe-se que China tenta uma aproximação com os Estados Unidos ao participar de produções de Hollywood e exigindo ser incluída no processo criativo de histórias que incluam a presença da China, ou de personagens chineses. Ao mesmo tempo, ela também almeja a criação de filmes próprios com o tamanho dos produzidos em Hollywood, contudo o resultado acaba não sendo tão satisfatório para o público no ocidente.

Algumas pessoas chegam a considerar algumas produções chinesas como uma cópia menor de filmes dos Estados Unidos. Há exceções com as indústrias de Hong Kong e Taiwan obviamente do continente. Já a Coreia foca em produções de menor orçamento, que muitas vezes o público só tem acesso pela internet, mas tem uma aceitação muito maior, como você avalia esta situação?

Além do cenário que expliquei anteriormente, temos que levar em consideração a evolução do cinema chinês na parte continental em si, que de uma geração a outra teve crises e problemas que acabaram trazendo certas limitações. Mesmo tendo dinheiro, eles tiveram problemas sobre o que produzir em termos de conteúdo e criação. Por exemplo, de 1970 a 1980, durante a Revolução Cultural, diretores e produtores tinham de pensar com cuidado o que poderiam, ou não fazer.

Após o término deste período, houve a abertura da economia e uma onda de produções do ocidente chegou ao público chinês continental pela primeira vez. De certa forma, por um tempo, o cinema chinês acabou perdendo espaço para produções do exterior. Faz parte do processo do impacto que o primeiro contato causa, pois durante a Era Maoísta, que passou pelas invasões do imperialismo europeu e japonês, além da divisão territorial da China, a guerra civil, a Segunda Guerra Mundial e a busca pela independência e unificação do país, ficou muito fechada nela mesma, assistindo produções sobre o império e sobre a Longa Marcha.

Assim, de repente, chegam os filmes de Hollywood onde se trata de outras questões como inteligência artificial, realidade virtual, tecnologia, uma série de outros temas que chegaram há pouco tempo no país. Estas novidades os chineses tiveram de absorver e fazer a sua antropofagia de forma muito rápida, para alcançar o restante do mercado mundial. Para você ter uma ideia em 2004, quando cheguei em Pequim para morar, estava passando o filme do “ET” (1982) de Steven Spielberg no cinema. Um filme da década de 1980… Então, é preciso levar em conta que o chinês precisa de tempo para ter referências do seu lugar de origem que sofre atualmente grandes transformações, entender onde isso o toca, absorver todas estas novidades da atualidade e do cinema em um ritmo frenético, para se equiparar com o que o mundo esta produzindo e assistindo.

Maiores indústrias por número de produções cinematográficas, segundo dados do Instituto de Estatística da UNESCO

Rank Country Films Year
1 India India 1,813 2018
2 Nigeria Nigeria 997 2011
3 China China 874 2017
4 United States United States 660 2017
5 Japan Japan 613 2018
6 South Korea South Korea 339 2016
7 France France 300 2017
8 United Kingdom United Kingdom 285 2017
9 Spain Spain 241 2017
10 Germany Germany 233 2017
11 Argentina Argentina 220 2015
12 Mexico Mexico 176 2017
13 Italy Italy 173 2017
14 Brazil Brazil 160 2017
15 Turkey Turkey 148 2017

O que o ocidente fez em 100 anos, eles estão fazendo em 30. Ainda em relação ao cinema é importante salientar que os filmes produzidos serão passados em áreas rurais, onde os costumes tradicionais e mais conservadores ainda persistem. Trata-se de um público que você já tinha e não pode perder. O número de idosos também é significativo, pois a China já começou a envelhecer, levando o governo a acabar inclusive com a política de apenas um filho. Assim, temas como feminismo, LGBTs e outros podem ser delicados de abordar. Isso precisamos refletir a respeito se queremos tentar compreender um pouco a posição de um produtor que vive e atua neste mercado. Não é à toa que o público chinês gosta muito de comédias do tipo pastelão, que tem um conteúdo mais inocente, que parece infantil até, o que para o ocidente é difícil compreender.

Levando em conta este quadro e ainda adicionando questões como a censura que muitos países têm e a China não é diferente, tendo até um departamento mais rígido neste sentido, como um profissional do cinema estrangeiro poderia melhor atuar neste mercado? Afinal, o futuro do audiovisual na China é bastante promissor, onde se realiza investimentos não só na produção de filmes, mas na criação de novas salas de cinema e tal, impulsionando tanto a produção e a coprodução de filmes, quanto a distribuição e exibição de obras cinematográficas, o que é indiretamente benéfico para realizadores de países estrangeiros como o Brasil, cujas produções apresentam temas, muitas vezes, bastante polêmicos.

 Olha é importante abordar diversas questões aqui. Primeiro sobre o Brasil. Sinceramente eu acredito que nós ainda somos bastante conservadores no que produzimos. Eu não trabalho com filmes feitos para a massa, mas mesmo se formos pegar estas produções basicamente quem faz é a Globofilmes, ou os mesmos de sempre. E estas pessoas têm uma visão muito delas sobre o que venha a ser o mundo e os demais países. Eles ainda resguardam uma ideia de China bastante ultrapassada, de uma China que já não existe mais. Então, não há necessariamente uma abertura para cooperar por parte do Brasil ainda. E existe outra questão difícil: todas coproduções são um processo bastante burocrático e complexo.

Crédito: Globo Filmes

Até você poder chegar na parte artística, antes precisa ultrapassar todo um caminho de negociações e conversas de mercado, de questões administrativas, de prestação de contas que, muitas vezes, não permitem que você chegue ao resultado final de ter um filme pronto. Muitos projetos não vão adiante tanto pelas limitações burocráticas, quanto também por uma falta de profissionalismo, conhecimento de mundo, porque em uma coprodução são dois países, duas culturas, ou mais dialogando. Por isso, as coproduções que o Brasil tem são com os países culturalmente mais próximos, e que já se sabe os meandros burocráticos e se está preparado para enfrentar os problemas que possam aparecer. A China ainda é uma novidade e como relatamos antes, há muito desconhecimento sobre ela e muitas ideias preconcebidas.

Agora estamos em uma crise econômica, as pessoas não têm dinheiro nem para produzir aqui, imagina na China. Então, na área do documentário houve iniciativas em um passado recente, onde se tinha dinheiro e a vontade de fazer, e o conhecimento também, que foi o caso do brasileiro Walter Salles que fez um documentário sobre o cineasta chinês Jia Zhangke e a Maria Farinha Filmes que fez um filme analisando a primeira infância em vários países e a China foi um deles.

Claro, que o documentário é um gênero que os profissionais são mais inclinados a terem um conhecimento maior de mundo e também os custos são menores. Além disso, o Brasil já tem uma tradição de documentaristas muito boa, o que ajuda também. Mas se formos pegar outros gêneros e outras partes do mercado audiovisual brasileiro você percebe que há um desconhecimento igual ao do público e da sociedade brasileira em geral. Nós somos ainda muito vinculados a Europa, nossa atenção está muito lá, e toda esta influência atual asiática que vem com países como China, Índia, Coreias e a própria Rússia é visto ainda como exótico e causa estranheza, inclusive de profissionais do cinema e do mundo artístico.

As pessoas não têm uma base de formação sobre o que seja a Ásia. E quando têm é algo bastante retirado do que a Europa e os EUA pensam, ou do que foi construído por nós mesmo, sendo, muitas vezes, percepções não muito boas, repletas de preconceitos. Ainda existe aquela ideia de asiáticos, ou chineses como pessoas estranhas, que comem cachorro e tal. E ainda não há uma abertura do tipo, vamos tentar saber como eles são na realidade. Nós já temos um desconhecimento imenso dos vizinhos na América do Sul, imagina do resto.  Então, tem toda uma cultura até racista eu diria, de uma elite europeia e brasileira que atua em conluio e que não entende o modus operante do oriental e acha diversas coisas estranhas.

A mentalidade colonizada e submissa à Europa e aos Estados Unidos influencia muito certamente. E isso podemos incluir o público artístico também.

Certamente, as pessoas no Brasil ainda acreditam na suposta cordialidade que o europeu e o brasileiro têm para fazer negócios e acham que o chinês só quer levar vantagem, que o chinês é explorador etc. Olha, eu não posso falar de oriente, porque oriente é algo enorme. Mas especificamente sobre China, é possível dizer que lá só se faz o que é permitido. Ou seja, eles vão aos locais fazer negócio onde há acordo, eles não fazem guerras para estabelecer laços econômicos à força.

Assim, se o acordo feito com o chinês não foi bom para você, então, na realidade, foi você que aceitou ser lesado. Algumas coisas ocorrem porque o Brasil não leva em conta os seus interesses nacionais, porque a elite brasileira acha que o certo é abrir o mercado, sair vendendo e destruindo tudo. Somado a isso, a nossa mente colonizada aceita ser explorada por europeus e norte-americanos que chegam aqui com um trato mais cordial, supostamente dizendo que se importam conosco, que gostam do Brasil e dos brasileiros e todos caem na conversa.

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Agora um país como a China que está interessada no negócio, que diz eu preciso disso, aqui está o dinheiro, você faz o que quiser com ele, não estou interessada na sua cultura, no seu país, só quero saber do negócio, é considerada grossa e exploradora. Mas, o mundo dos negócios é assim, e é preciso perder esta forma estilo “capitanias hereditárias” de fazer e pensar as coisas, mas vai demorar e muito ainda. Diga o que é mais brutal: um país que te dá o dinheiro para ter o seu petróleo e diz que com este dinheiro você faz o que quer, ou seja a forma como China atua, ou o país que dá o dinheiro mas ainda quer dizer o que você deve fazer com ele, como os europeus atuam?

O que são as transnacionais dos EUA e Europa e de outras nações que muitas vezes alteram leis nacionais dos países onde se instalam, apenas para terem lucro? Países soberanos como a China são poucos hoje, os que o Estado tem o real controle sobre a sua estrutura política e econômica, o resto são governados por transnacionais.

Crédito: Oxfam Blogs.

E como a China pode enfrentar esta imagem negativa que foi criada dela, na sua opinião?

Acho que começa com os próprios chineses abrindo-se mais para tentar compreender a cultura de outros países, como estes países os veem, saberem o que querem passar da cultura chinesa para estas nações e trabalhar nesta questão com uma estratégia mais atualizada. Contudo, é compreensível que isso não ocorra assim tão prontamente, pois como já falei a China abriu-se para o mundo há poucos anos e a modernização está ocorrendo de forma frenética.

Nem todos conseguem acompanhar. As gerações mais jovens já conseguem, pois já nasceram em uma China mais aberta, mas as mais maduras, de trinta e tantos anos para cima, têm hábitos e costumes mais inclinados a permanecerem fechados em suas próprias culturas. Ao imigrarem eles ainda se deparam com este preconceito, ficando ainda mais encerrados em seu mundo chinês, em suas Chinatowns distribuídas em diversas grandes metrópoles pelo ocidente.

A estratégia atual chinesa em promover vários eventos com a mesma agenda cultural que inclui dança do dragão e outras atrações tradicionais culturais, todos os anos, sem apresentar algo novo e que dialogue com a cultura local, também não contribui. Isso os sul-coreanos já estão mais avançados, eles encontram um denominador comum ao misturar novo com moderno e que dialogue com a cultura local.

É uma via de mão dupla. O Japão também faz, mas é unilateral, eles detectam que a cultura local quer, aí criam algo, partindo da cultura deles, adaptando para a de outro país e assim vendendo. Porém, não vejo nos japoneses uma vontade de que o brasileiro possa fazer o mesmo com a cultura deles, como vejo que sul-coreanos e os próprios chineses que estão neste caminho almejam genuinamente fazer.

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por Anders Noren

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