O futebol e as narrativas audiovisuais do Jogo Aberto na hora do almoço

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Renata Fan e Denilson. Crédito: http://noticiasdeparauapebas.com/

Terminou a temporada do futebol brasileiro, está acabando o ano. Neste 2019, uma produção audiovisual especializada no esporte mais apreciado pelos brasileiros e brasileiras – e transmitida por aquele que é o meio de comunicação mais presente nos lares de norte a sul, leste a oeste do país, a televisão – viveu momentos de consagração.

Falo do Jogo Aberto, um dos programas de maior ibope na TV aberta na hora do almoço, e que, na emissora em que é veiculado – a Band – é um dos três com maiores índices de audiência. Também com frequência o programa, ou seus personagens ou temas em discussão aparecem entre os assuntos mais comentados na rede social Twitter. O êxito da atração, no ar há 12 anos, motivou este articulista a dedicar uma análise mais, digamos, científica.

Crédito: Divulgação.

Denominado “Futebol na hora do almoço: narrativas audiovisuais do ‘Jogo Aberto’”, o trabalho foi apresentado no 8º Seminário Cinema em Perspectiva, promovido pela Universidade Estadual do Paraná (Unespar) e pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em setembro último. O artigo completo acaba de ser publicado nos anais do evento.

Trata-se de uma análise dialógica do discurso sobre as narrativas audiovisuais engendradas pelo programa, com o objetivo de identificar peculiaridades que levam ao sucesso da atração. Assim, a concepção de linguagem dos estudos do Círculo de Bakhtin foi o referencial teórico e metodológico basilar da averiguação em questão.

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Crédito: Divulgação.

O Jogo Aberto é uma espécie de mesa-redonda, que vai ao ar das 11h às 13h. É comandado pela jornalista Renata Fan, desde a estreia, em fevereiro de 2007. Aliás, Renata Fan é a primeira mulher na história da televisão brasileira a ser âncora de uma mesa-redonda dedicada ao futebol.

Das 11h até 12h30, o programa vai ao ar para todo o Brasil. Na primeira meia hora, é constituído essencialmente de matérias, chamadas pela apresentadora. A partir das 11h30 e até 12h30, a Renata Fan junta-se ao comentarista e ex-jogador de futebol Denílson. Nesse período, os fatos são noticiados e comentados pela dupla, sempre com muito humor e provocações entre ambos.

Crédito: Divulgação.

A última meia hora – das 12h30 às 13h – é a parte chamada de “debate”. Além de Renata Fan e Denílson, participam os jornalistas Paulo Roberto Martins e Chico Garcia, o narrador Ulisses Costa e o ex-goleiro Ronaldo Giovanelli, todos no mesmo cenário, no estúdio em São Paulo. De um estúdio em Belo Horizonte, o jornalista Héverton Guimarães também participa. Essa última meia hora não é exibida para todo o Brasil, embora quem sintoniza por parabólica ou determinados pacotes de TV por assinatura acessa o canal da Band em São Paulo e consegue assistir ao programa, que também é veiculado em tempo real, na íntegra, pela internet (via YouTube).

O sincretismo de linguagens – com trilha e efeitos sonoros sendo componentes decisivos – foi entendido como marca das narrativas audiovisuais analisadas. Essas narrativas foram entendidas como enunciados, discursos, constituídos dos comentários pronunciados pelos participantes, das provocações, dos chistes, das réplicas e tréplicas durante o debate. E, reitere-se, a inserção de trilha e efeitos sonoros é decisiva para que o hibridismo entre jornalismo e entretenimento seja inerente às narrativas audiovisuais construídas pelo programa, e seja a marca da atração.

O jornalista Paulo Roberto Martins. Crédito: Divulgação.

Outra regularidade identificada é o reenquadramento de discursos outros nos enunciados/discursos apresentados pelo programa. Por exemplo, o incorporar falas de outras pessoas que nada têm a ver com o tema debatido mas, que, ao serem inseridas enquanto ocorre o debate, são ressignificadas, e servem ora para reforçar, ora para ironizar, ora para rechaçar o que está sendo dito ao vivo. Tudo isso está tratado de forma mais aprofundada no artigo. Para conferir, acesse os Anais do 8° Seminário Cinema em Perspectiva. O artigo está na página 387.

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por Anders Noren

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