Kim Ji Ha e a poesia coreana

O poeta Kim Ji Ha (Kim Chi Ha). Crédito: https://news.joins.com/article/20921348

Você já leu a poesia coreana? Como acha que ela é? Quais seriam os elementos de seus estilos? Hoje vamos falar um pouco de um dos mais importantes ícones dela: a obra do poeta coreano Kim Ji Ha (ou Kim Chi Ha). Ele nasceu em fevereiro de 1941, com o nome Kim Yeongil, mas passou a adotar o pseudônimo Kim Ji Ha logo após o sucesso de seu primeiro poema publicado, História Noturna (no original Jeonyeok iyagi, ainda sem tradução para o português).

Formou-se em estética pela Universidade Nacional de Seul por volta de 1966 e sua obra é marcada por essa estética que visa mostrar uma profunda consciência política dissidente. Essa formação aparece muito em sua obra através do uso das palavras e de imagens bastante simples para contar os horrores do setor político. Muitos dos elementos de seu texto remetem a sua vida política: o autor questionou o autoritário governo de Park Chung Hee, marcado pelo autoritarismo de inspiração militar e pela industrialização sul-coreana. O próprio sobrenome que escolheu para si, Ji Ha, está relacionado com a palavra “subterrâneo”.

Mas não encontramos só os temas políticos. O seu registro na biblioteca Digital da Literatura Coreana lista 39 títulos traduzidos para várias línguas mundiais (e algumas participações em eventos internacionais), os quais tratam do pensamento coreano, a religião desde a nativa às presenças católicas, passando ainda pelo credo coreano donghak, pelo budismo e pelo zen. Infelizmente, temos notícia de somente um de seus livros traduzido para o português: “Os Cinco Bandidos”, lançado pela editora 7 Letras, traduzido por Joon Moon, em 2018.

“Os Cinco Bandidos”, na verdade, é uma coletânea com 5 poemas do autor, sendo um deles homônimo do título do livro. Os demais são: Os cinco elementos, A canção da cerejeira bandida, Camicase e O mar de merda. Logo na primeira página, os editores retomaram uma frase do próprio autor para explicar os seus objetivos com a escrita politicamente engajada, pois diz Kim: “O poeta deve dar esperança e a visão de um futuro melhor aos pobres”. Kim Ji Ha usa as suas palavras para contar ao leitor um pouco sobre esse tempo na Coreia. Ele fala de um período de muita brutalidade, pois viveu a Guerra da Coreia, aos nove anos, cenas dramáticas que certamente lhe marcaram.

Crédito: Mateus Nascimento.

A obra também representa uma vida de lutas: os conteúdos do livro fazem sátira ao governo militar, a participação dos empresários e a própria estrutura governamental sul-coreana. Kim utiliza-se do estilo tamsi, que privilegia o uso de oralidade na escrita dos poemas. Essa junção da crítica ao poder com a oralidade na escrita tornou o seu texto bastante conhecido entre os anos 1960 e 1980, o que lhe rendeu uma perseguição insana: prisão, tortura, segundo conta, sentenças de prisão perpétua e uma condenação à morte, contando 8 anos na prisão.

No período em que esteve preso, sua obra tornou-se notória no país que ele mais criticou, o Japão (o poema “Camicase” é dedicado a Yukio Mishima), e ganhou um prêmio bastante significativo que lhe rendeu apoio internacional: o Prêmio Lótus (em 1975). Kim foi solto em 1980, após o assassinato do presidente, alvo de suas críticas. Interessante destacar que por esses motivos factuais a obra de Kim Ji Ha é rica em imagens da história sul coreana.

Fonte: Texto originalmente publicado no site do MidiÁsia.
Link direto: https://www.midiasia.com.br/category/sugestoes-de-obras/page/2/

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por Anders Noren

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