Egito: o lar árabe dos livros brasileiros

Feira Internacional do Livro do Cairo. Crédito: Mohd Tarmizi/Wikipedia.

De acordo com os dados referentes ao idioma árabe enviados pela Fundação Biblioteca Nacional (FBN) para a Agência de Notícias Brasil-Árabe (ANBA), a primeira tradução do português para o árabe apoiada pelo programa foi o livro “Dois irmãos”, escrito por Milton Hatoum e levado para o árabe pela Editora Dar Al-Farabi, do Líbano, em 2001. Apenas nove anos depois uma nova tradução seria feita com apoio do programa: “Nur na escuridão”, de Salim Miguel (1924-2016), pela mesma editora.

Embora Machado de Assis (1839-1908) e Clarice Lispector (1920-1977) liderem, entre todos os idiomas, as traduções a partir dos originais em português, as editoras árabes e de outros países também apresentam interesse pelos autores contemporâneos do Brasil. “Ao longo do tempo, vimos que muitos autores contemporâneos começaram a aparecer nos nossos pedidos de apoio e acho que tem muito a ver com as feiras literárias, que são importantíssimas para difundir a literatura brasileira. Nas feiras, muitos dos autores estão presentes”, diz a coordenadora de Cooperação Institucional do Centro de Cooperação e Difusão da FBN, Camilla Ramos Ribeiro. Desde 1991, mais de 1.300 traduções foram feiras a partir do programa. Em 2023, após a recriação do Ministério da Cultura, foram apoiadas 125 editoras.

Ana Maria Machado é uma das autoras que já tiveram livros traduzidos para o árabe. Crédito: Reprodução da ANBA.

Entre os árabes, literatura contemporânea e infantil

Em 2012 e em 2013 a editora Sphinx, do Egito, traduziu para o árabe, “Esaú e Jacó”, de Machado de Assis, “Canaã”, de Graça Aranha (1868-1931), “O Consumo”, de Cristina Von, “Você conhece a Joana?”, de Maria Eugenia, e “O menino que achou uma estrela”, de Marina Colasanti. Também em 2013, a editora Al Arabi traduziu “Sinfonia em Branco”, de Adriana Lisboa. A editora Sefsafa publicou em árabe “Várias histórias”, de Machado de Assis, em 2015, mesmo ano em que “Ladrão de cadáveres”, de Patrícia Melo, foi divulgado pela Al Arabi.

A Editora Sefsafa voltou a traduzir Machado de Assis em 2017, com “Memórias póstumas de Brás Cubas”, e em 2018, com “Dom Casmurro”. Em 2018, a obra de Julián Fuks chegou ao árabe pela editora egípcia Mars, com o livro “A resistência”, e a de Tatiana Salem Levy, pela Al Arabi, também do Egito, com “A chave de casa”. No ano seguinte, “A vida invisível de Eurídice Gusmão”, escrito por Martha Batalha, chegaria às livrarias em árabe por meio da Dar Al Adab, do Líbano.

Programa de Apoio à Tradução e à Publicação de Autores Brasileiros no Exterior já contribuiu para que 17 traduções no Egito, três do Líbano e uma na Alemanha obtivessem recursos para levar ao árabe as histórias dos autores brasileiros.

A egípcia Sefsafa voltaria em 2022 a obter apoio do programa para duas novas traduções ao árabe: “Eles marchavam sob o sol”, de Cristina Judar (ainda a ser lançado) e “Setenta”, de Henrique Schneider. “Infâmia”, de Ana Maria Machado, foi publicado pela Al Arabi, do Egito no ano passado, enquanto “Torto arado”, de Itamar Vieira Junior e “O guardião dos nomes”, de Leonardo Garbanzo, estão próximos de serem impressos: Vieira Junior, pela Logha Publishing e Garbanzo pela Al Arabi, ambas egípcias. Por fim, a Sphinx Agency, da Alemanha, irá ainda traduzir “Serafim Ponte Grande”, de Oswald de Andrade (1890-1954). Camilla afirma que começa a observar, além da ficção, um outro gênero de interesse das editoras estrangeiras nos livros brasileiros: quadrinhos e livros infantis, como é o caso de “O Consumo”, “Você conhece a Joana?” e “O menino que achou uma estrela”.

A concessão do apoio

Após o lançamento do edital, as editoras inscrevem seus projetos, que são, por sua vez, analisados por uma comissão de cinco pessoas. Após a aprovação das editoras, elas têm até dois anos para publicar a obra apoiada. Uma parte fundamental de análise no processo seletivo“, diz Camilla, é o currículo dos profissionais da tradução. Ela diz ainda que grande parte das editoras interessadas em obter o apoio é “acionada” pelo mailing da própria FBN, mas que o Instituto Guimarães Rosa tem um papel fundamental em trazer editoras para o projeto.

O último edital, lançado em setembro do ano passado, contou com R$ 1 milhão disponíveis para os projetos de tradução. O próximo edital deverá ser publicado entre junho e julho, mas os valores ainda não foram definidos. “Os novos autores conseguem mostrar a nossa realidade de forma atrativa para o estrangeiro, por isso que achamos que temos esse ‘boom’ desses autores [contemporâneos] lá fora”, diz. “Eles conseguem levar nossa realidade ao mundo de uma forma atrativa”, avalia.

Fonte: Texto originalmente publicado no site da Agência de Notícias Brasil-Árabe (ANBA).
Link direto: https://anba.com.br/egito-o-lar-arabe-dos-livros-brasileiros/

Marcos Carrieri
Agência de Notícias Brasil-Árabe (ANBA)

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