Regimento Imortal e Força Expedicionária Brasileira fazem homenagem aos participantes da Segunda Guerra Mundial

Crédito: Mariana S. Brites/Revista Intertelas.

No ano de 2019, a Embaixada da Rússia no Brasil e o Consulado da Russia no Rio de Janeiro, em parceria com a Associação Nacional da Força Expedicionária Brasileira (FEB), prestaram homenagem aos participantes da Segunda Guerra Mundial e seus descendentes. Tal iniciativa ocorreu no dia 5 de maio, durante a marcha do Regimento Imortal, movimento que surgiu na Rússia, em 2012, para relembrar as vidas que pereceram durante o conflito e consolidar a memória da participação da União Soviética na guerra. O movimento hoje conta com simpatizantes em vários outros países, tanto de familiares de veteranos, ou vítimas do conflito, quanto de pessoas que apenas almejam homenagear todos que contribuíram para a derrota do nazifascismo.

No dia 6 de maio, o vereador do Partido Socialismo e Liberdade (Psol) Leonel Brizola Neto abriu a Celebração dos 74 anos do Fim da II Guerra Mundial, que ocorreu no Plenário da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Estiveram presentes várias autoridades consulares de outros países, como dos Estados Unidos e da Venezuela. Nesta ocasião, proferiram algumas palavras ao público presente o embaixador da Rússia no Brasil Sergei Akopov, assim como os palestrantes João Claudio Platenik Pitillo, historiador, pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), especialista sobre a participação da União Soviética na Segunda Guerra e colunista da Revista Intertelas; João Henrique Barone, pesquisador associado do Centro de Estudos e Pesquisa da História Militar do Exército Brasileiro e o membro do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil Carlos Daróz.

Akopov, iniciou sua intervenção relembrando que os povos da ex-União Soviética pagaram um preço imaginável defendendo a sua liberdade, a sua independência, ao mesmo tempo que libertaram os demais povos da Europa do nazifascismo. Segundo o diplomata, 27 milhões de vítimas, entre eles 16 milhões de civis, morreram na guerra. “A contribuição crucial do povo soviético sobre o fascismo é evidente. Foi exatamente nos arredores de Moscou, em 1941, onde o exército de Hitler, que até então tinha atravessado toda a Europa, sofreu a sua primeira derrota. Em 1942, em Stalingrado, e, em 1943, nos campos e batalha de Kursk, os soldados soviéticos mudaram o rumo da história e derrotaram as froças nazistas. Cerca de 70% das tropas de Hitler pereceram em combate com os soviéticos…

…Neste contexto gostaríamos de sublinhar que achamos importante e inestimável a contribuição de cada país, na coalização anti-Hitler. A nossa vitória comum demonstrou a solidariedade e fraternidade de combate de todos os membros da aliança anti-nazifascista. Esta fraternidade constituí uma grande herança da Vitória. O nosso dever é mantê-la e consolidá-la. o dever diante todos que defendiam a pátria, todos que conquistaram a liberdade para os países da Europa e do Mundo do nazismo, nunca esqueceremos os soldados brasileiros que lutaram contra o nazismo na Itália. São eles os únicos representantes da América Latina a participar da Segunda Guerra Mundial”.

Sobre a nova onda que promove no mundo um estímulo ao conflito e ao revisionismo histórico, Akopov fez questão de salientar: ” a luta contra o fascismo revelou a grandeza do espírito humano, os grandes e trágicos acontecimentos desta guerra já se tornaram história, mas estou seguro que a grandeza de nossos antepassados ficarão para sempre na memória. A história ensina que os países e os povos têm a obrigação de entender como e de onde surgem as novas ameaças. As lições da guerra avisam que o estímulo à violência e a indiferença resultam em tragédias…

…Por isso, tendo em vista as ameaças do terrorismo, do ultranacionalismo e do neonazismo, devemos permanecer firmes à memória dos nossos ancestrais. Temos a obrigação de defender a nossa ordem mundial, baseada nos princípios consagrados na Carta das Nações Unidas, que versam sobre a igualdade entre os países, solução das controvérsias por meios pacíficos, não uso de força e não ameaças contra qualquer país, não ingerências em assuntos internos”, enfatizou o diplomata.

Na sequência o historiador Pitillo forneceu detalhes sobre as três principais batalhas do Front Leste, mencionadas pelo embaixador. Ele ainda afirmou que apesar da tentativa de uma onda revisionista histórica atual, cujo objetivo é promover a ideia de que a União Soviética não teria fornecido a contribuição principal para a Vitória sobre os nazistas, os fatos comprovam que o sucesso soviético deu-se em razão de recursos próprios e, acima de tudo, do compromisso popular em proteger o país e o sistema político que possibilitou a ascensão social de muitos que antes se encontravam em condição de extrema pobreza.

O pesquisador Barone relembrou histórias particulares de soldados brasileiros que comprovam o também compromisso destes homens e mulheres em defender o país e derrotar os nazistas. O Brasil que entrou na guerra depois de ter diversas embarcações destruídas pelos alemães e que resultaram em mortes. Por fim, Daróz trouxe um tema ainda pouco conhecido: a participação feminina na guerra, em especial das aviadoras soviéticas. Segundo o pesquisador, as chamadas Bruxas da Noite, como foram denominadas pelos nazistas, foram um exemplo de resiliência e comprometimento na defesa da União Soviética e acabaram plantando a semente para a participação das mulheres no mundo da aviação posteriormente.

Da esquerda para a direita: João Claudio Platenik Pitillo, Sergei Akopov, Leonel Brizola Neto, Carlos Dároz e João Henrique Barone. Crédito: Artem Fomin/Consulado da Rússia no Brasil.

No dia 9, segundo informado pelo consulado da Rússia no Rio, quando é celebrado o Dia da Vitória na Rússia, representantes da FEB estiveram em Moscou para participar das comemorações. No dia 8 de maio foi assinado um protocolo de intenções entre as organizações de veteranos do Brasil e Rússia.

Veteranos de Rússia e Brasil assinam em Moscou, protocolo de intenções para cooperação e intercâmbio Técnico-Científico, Cultural e Humanitária. Crédito: Consulado da Rússia no Rio de Janeiro.

Conforme o consulado, o protocolo foi celebrado pelas Associação dos Ex-Combatentes do Brasil – Seção Rio de Janeiro, Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira (ANVFEB), Sociedade dos Amigos da Marinha do Brasil (SOAMAR-Brasil), Sociedade dos Amigos da Marinha do Rio de Janeiro (SOAMAR-Rio) e União Internacional de Organizações Públicas “Comitê de Veteranos de Guerra”. De acordo com o que foi publicado na página no Facebook do consulado russo: “o presente Instrumento contratual tem por objetivo a Cooperação e Intercâmbio Técnico-Científico, Cultural e Humanitária com vistas ao desenvolvimento de projetos e atividades voltadas para estreitar laços históricos e culturais para maior divulgação sobre a participação do Brasil e da Rússia na II Guerra Mundial”.

Alessandra Scangarelli Brites 

Jornalista (PUCRS), pesquisadora e tradutora. Especialista em Politica Internacional (PUCRS) e Mestre em Estudos Estratégicos Internacionais (UFRGS). Foco de análise e atuação: relações internacionais e estudos do audiovisual russo e asiático.

Confira reportagem sobre o evento:

 

 

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