
“Tenho a sensação de que os pais fundadores se cansaram, e sinceramente dá para culpá-los? Não dá para pensar em tudo! Cisneis negros, Lady Murphy, chega uma hora em que você simplesmente aprova, cruza os dedos e torce para dar certo, ou adota o moedismo. Uma pseudo filosofia de vida em que as decisões mais importantes são tomadas jogando uma moeda. Foi apresentada no quadrinho da Disney Flip Decision, um dos meus prediletos, no qual o Pato Donald é convencido pelo Professor Pardal a tomar as decisões importantes jogando uma moeda. A vida é uma aposta, deixe a moeda dar a resposta.
Já tivemos este tipo de problema antes. Na eleição de 1800, Jefferson e Burr terminaram empatados com 77 votos no colégio eleitoral, que era o número necessário na época. Foi quando o congresso tentou dar o que os Pais Fundadores não tinham imaginado e ’’puff’: a 12º Emenda nasceu! E ela diz que se os Estados não confirmam é a Câmara que escolhe o presidente e o Senado escolhe o vice-presidente. A Câmara está uma bagunça, mas o Senado é bem democrático na escolha do vice, uma pessoa, um voto. Mas, se houver um empate, é aqui que o Pato Donald entra, tudo se resolve, jogando uma moeda! Uma solução muito elegante, mas não há elegância na política, é tudo um inferno”.
Frank Underwood. House of Cards, 5º Temporada, Episódio 5
Esta cena memorável, provavelmente retorna subitamente a muitas mentes que a assistiram. Ela foi exibida pela primeira vez ao grande público em maio de 2017, quando já em crise por ocasião do caso do Russia Gate, não se sabia se Donald Trump terminaria seu mandato. Esta cena, quase que ’’profética’’, submerge em meio a este caos nos Estados Unidos, onde ultimamente parece, a grosso modo, com uma partida de futebol ou basquete, em que a cada minuto as coisas podem mudar totalmente. Ou o caso de ficção citado.
Não cabe aqui uma análise geral das situações ocorridas durante a luta entre as instituições a partir da imposição de emendas e leis, levando-nos a recapitular as diversas épocas diferentes em que isso se passou na história estadunidense. Apenas vale retomar algumas das ressalvas levantadas por Underwood, onde em momentos de exceções, e fortes enfrentamentos políticos no país, nascem emendas a partir de acordos políticos, envolvendo as forças belicosas, e que no caso disso não ser possível no momento, Trump assumirá em janeiro sem grandes problemas seu segundo mandato, graças a posição de vantagem no senado, assim como na Suprema Corte de Justiça, onde tem maioria para quaisquer recursos ou processos que venham aparecer ao longo dos próximos meses. Neste caso, o moedismo não seria necessário, porém a política não é tão simples, ainda mais a estadunidense.
Aqui deve ser feito um retorno para o impacto cultural e ideológico do Cometa Trump, que ainda está muito longe da compreensão de vários especialistas e analistas que se somam ao discurso Clinton/Obamista por ’’inocência’’ ou ’’má fé’’, de que tal eleição apenas poderia ter Joe Biden como vencedor, e que qualquer coisa fora disso será fraude. Isso ocorre porque muitos são ainda orientados por uma ideia dos Estados Unidos enquanto o principal centro do mundo nos aspectos político e civilizacional, ou porque são adeptos da ideia de que este país com Trump se ’’desvia’’- diriam no Brasil, corrompe- de seu caminho original. E qual seria ele? O traçado pelos ’’Pais Fundadores’’ dos Estados Unidos.

Mais uma vez recorrendo a cinematografia- instrumento de muitas respostas para o presente caos-, é importante citar como na atual década, a ideia de ’’desvio’’ do ’’Princípio dos Pais Fundadores’’ aparece com frequência. Em pelo menos dois grandes sucessos da década passada é possível ver isso, o filme e a subsequente franquia do “The Purge” (2013), assim como “The Post” (2017), onde seus diretores, James De Monaco e Steven Spielberg, membros de diferentes gerações de cineastas, tratam de diferentes temas- violência e liberdade de expressão/imprensa-, porém convergentes na ideia de que os princípios dos ’’Pais Fundadores’’ foram corrompidos. Não por acaso os dois grandes temas destes filmes são hoje os mais debatidos sobre a política interna estadunidense no governo Trump.
Evidentemente que esta concepção ’’liberal progressiva’’ oposta ao liberalismo reativo, representado hoje pelo trumpismo não se trata de mero vocabulário ou de uma verborragia encarnada nos debates presidenciais Trump x Biden. Ela expõe duas concepções da sociedade estadunidense, que se tornaram irreconciliáveis devido ao impacto representado pelas atuais transformações a nível mundial a partir da emergência da Ásia, bem como o avanço da Revolução Científico-Técnica. Mas como se chegou a este ponto?
A Crise de 2008, responsável direta pelo enfraquecimento do sistema financeiro controlado pelos bancos estadunidenses- observação, não da financeirização-, expôs a realidade da impossibilidade do dólar permanecer como única moeda de reserva internacional, visto que o seu lastro era baseado na pura e simples fé religiosa. O sistema controlado pelos bancos tradicionais, muitos dos quais orientadores da política estadunidense desde o fim da Segunda Guerra Mundial, tais como JP Morgan Chase, Bank of America e o Citi Group, perderam um considerável espaço político para as empresas de tecnologia e aplicação virtual do Vale do Silício. Ao mesmo tempo, as empresas minerais e petrolíferas, grandes ’’catapultas’’ da economia física estadunidense, foram perdendo espaço para grandes empresas de serviço, por sua vez também ligadas ao setor de tecnologia.
Entre 2008 e 2016, a sociedade estadunidense não apenas passou por uma radical intensificação das políticas de financeirização neoliberais, como também estas mesmas empresas citadas efetivaram esta transformação. A Amazon, por exemplo, caracterizada por ser até 2010 uma empresa nacional nos Estados Unidos, porém pequena, cujo plantel não chegava a 30 mil empregados, e tendo como única atividade o comércio de livros e alguns bens de consumo, cresceu velozmente na última década, alcançando o posto de uma das 10 maiores corporações do país e no mundo.
A título de exemplo, ela salta de 12,4 bilhões de dólares em 30 de junho de 2010 para 258,3 em 2020 no mercado de ações, ao mesmo tempo em que a toda poderosa Exxon Mobil teve um crescimento bem menor de 291 para 361,5 bilhões. Portanto, boa parte do crescimento econômico- financeirizado- dos Estados Unidos hoje é determinado por estas empresas do ramo tecnológico (Netflix, Apple, Microsoft entre outros)- ainda que a bolsa de ações em Wall Street seja composta por pura especulação.

Esta mudança do caráter do capitalismo nos Estados Unidos, é reflexo direto da Crise de 2008, assim como a entrada em um novo estágio de financeirização. Trump apareceu como uma espécie de reação a este movimento por parte de grupos dos Estados Unidos prejudicados com a Crise de 2008, mas que por sua vez não consegue oferecer uma solução definitiva para uma série de problemas anteriores, internos ou externos, e sistêmicos.
Embora durante o governo Trump, a taxa de desemprego tenha diminuído se comparado aos cerca de 9,6% em 2010, o número de pessoas sem-teto nos Estados Unidos estava em crescimento já em 2019, com 567 mil, os moradores de aluguel já eram boa parte da população, conhecida como ’’Geração do aluguel’’. Em 2020, cerca de 40 milhões de estadunidenses estão sob risco de perderem seus tetos onde vivem em consequência de condições financeirizadas de moradia! As tensões oriundas disso tem tido duas soluções de mesma face no país, mais financeirização, agora com moedas virtuais e a digitalização da economia, e uma política de Lei e Ordem de ambos os lados para conter o ’’caos social’’, seja ele vindo dos grupos organizados de negros e antifascistas, ou de paramilitares supremacistas brancos.
Na política externa, a unidade programática é tão grande quanto na interna, onde o fracasso na contenção da China e desestabilização completa do bloco euroasiático, trouxe uma resposta reversa, que foi a perda de prestígio geral. A agressiva política com a União Européia- iniciada com Obama e não com Trump! – não desintegrou o bloco, pelo contrário, empurrou vários dos seus países na direção da China, como a Itália, e forçou os alemães a repensarem o seu caminho e o da Europa. A acusação mútua de ’’agente da Rússia e China’’ entre Trump e Biden para estimular o nacionalismo para si, chega a ser algo digno de piada.
As eleições estadunidenses não se tratam de uma luta de bem contra o mal, Estados Unidos e China/Rússia/Irã. As atuais eleições expõem um processo ruptural no próprio modelo de capitalismo existente no país, que passa por uma luta de frações sociais e políticas não representadas na atual ordem, oriunda de 1865 e reafirmada no fim da década de 1960.
As empresas de tecnologia e aplicações, que hoje assumem o leme deste processo, responsáveis por uma série de transformações políticas no mundo desde 2010, e que inclusive estiveram por trás da vitória de Trump, chegam paulatinamente ao comando, impondo os próprios interesses. Basta observar por exemplo que aplicações como a Amazon e a Uber lançarão sua própria moeda virtual, lastreada nas ações de mercado, tornando-as tão poderosas em um futuro próximo- caso mantenham o atual de ritmo de crescimento- quanto bancos como JP Morgan, contudo sem fiscalização ou legislação alguma!
Portanto, não é por acaso que as redes sociais, assim como a big data estejam agora no centro do debate. A discussão sobre fake news, por exemplo, envolve mais do que agências de notícias ou ’’boatarias políticas’’, o controle das mídias sociais e as informações de seus usuários é o centro da questão, que na opinião da atual gestão da Casa Branca– que nem sempre foi essa-, deve ser restrito, e aplicado na lei antitrust, a semelhança de corporações comuns e bancos.
É exatamente por isso que todas as principais empresas do Vale Silício- vale dizer que Kamala Harrys, candidata a vice-presdidente de Biden, foi Procuradora Geral da California– estão apoiando a Joe Biden, e realizam em concomitância uma campanha de censura contra Trump e de coisas que possam danificar a campanha democrata, como por exemplo a restrição da circulação da matéria do The New York Post sobre as aventuras da família Biden na Ucrânia, Rússia, China e Iraque.
Em meio a tudo isso, e cientes ambos os lados da impossibilidade de uma conciliação momentânea por questões de sobrevivência econômica e política, existe certa semelhança com o período anterior a Guerra de Secessão em 1860, quando uma situação parecida desenvolveu-se em relação ao sistema escravista. Embora isso pareça exagerado em termos constitucionais, o caos político, o enfrentamento e a degradação das próprias instituições que se desidratam, são aquelas validadas pelo pacto vigente desde 1865, e reafirmada no fim da crise na década de 1960- quando as indústrias e os bancos multinacionais assumiram o leme da economia estadunidense, destruindo as adversárias menores.
No entanto, esta não é uma guerra convencional, suas características híbridas, semelhantes a aquelas aplicadas em países inimigos, torna o solo estadunidense um campo de batalha, cuja polarização leva a incapacidade de se saber por exemplo, o que é real e o que é falso para boa parte da população engajada ou ligada de alguma forma a este conflito. O lado mais retrógrado dessa guerra, capitaneado pelos bancos e empresas industriais minerais e petrolíferas é o que pode vir a ser um forte impedimento ao pleno desenvolvimento das forças produtivas da Revolução Científico-Técnica no país. Porém, é o grupo apoiado por boa parte da sociedade prejudicada pela Crise de 2008, bem como as anteriores. Esta é a grande contradição do atual processo, e não o problema racial no país em sí, como apontam alguns, ainda que isso se correlacione direta e corretamente.
A título de exemplo, a promessa dos setores empresariais que estão com Trump de amenizar a desindustrialização e recriar parques produtivos no país- ainda que ela seja cheia de limitações práticas-, é o que angaria os votos dos eleitores negros e latinos empobrecidos que outrora trabalhavam nestas empresas direta ou indiretamente, assim como o eleitorado branco que trabalhava nas fábricas- o esvaziamento de Detroit e Chicago são exemplos disso. Importante ressaltar que a discussão sobre a limitação da comercialização das armas nem mais em pauta se encontra, bem como a campanha de setores no movimento Black Lives Matter, Defund the Police (Desinvestimento da Polícia) foi completamente soterrado por este braço de setores liberais cosmopolitas, em razão da recepção pelos trabalhadores dessa área, muitos negros e latinos, assim como a população das cidades médias e pequenas.

Joe Biden e seus apoiadores, reconhecedores desta situação fazem um discurso muito tênue em relação a Trump, onde se busca usar o fracasso do tratamento da pandemia no país e o racismo como catalizadores de votos. Porém, ele não empolga, pois seu histórico mafioso torna-se cada vez mais público, assim como sempre foi conhecido por ser um político medíocre, e sua grande captalizadora de votos- e futura presidenta!- , Kamala Harris não teve a aceitação tão esperada em setores situados fora do atual ’’nicho eleitoral’’ democrata.
No entanto, o mais decisivo é a onda de caos e desordem social- associada na campanha eleitoral aos democratas, mas que foi fruto de décadas de neoliberalismo- que tomou conta dos Estados Unidos durante 2020, derivados dos impactos da Covid-19. O slogan Lei e Ordem da campanha de Trump, ao levar isto em conta, foi vitorioso e angariou muitos votos indecisos, algo que poucos atentaram. A análise formidável do analista geopolítico e jornalista Pepe Escobar há meses atrás, ainda durante o auge dos protestos nos Estados Unidos, sobre o resgate deste slogan da campanha de Richard Nixon, merece congratulações, foi a mais certeira observação!

A violência e emergência dos grupos armados não é apenas consequência da política racial existente nos Estados Unidos, ainda que seja parte dela, mas sobretudo o reflexo do fracasso social de um modelo que impele a todos essas ações como ato de sobrevivência na sociedade dos indivíduos, onde é cada um por si. Questionemos por um momento breve, sem necessariamente responder, onde foram parar os autores dos massacres em vilas afegãs e iraquianas, que retornam aos Estados Unidos mutilados, desempregados, depressivos e traumatizados, com apenas uma medalha e um obrigado por parte do governo? Bingo!
Frente a isso, os setores envoltos da campanha de Biden- Big tecs, funcionários liberais como advogados, professores e médicos, organizações não governamentais e outros-, cuja perda da narrativa é concreta, e a derrota política em vias de consumar-se, apenas resta uma única opção. Ousada, difícil e radical, mas preparada a algum tempo, e em execução a meses: Aplicar o Regime Change nos Estados Unidos.
Esta não seria a primeira vez que um presidente estadunidense é derrubado por não se curvar aos interesses de determinados setores políticos e econômicos. John F. Kennedy (1960-1963), ficou conhecido por seu fracasso em Cuba, e acabou assassinado sob circunstâncias desconhecidas. Richard Nixon que se retirou do Vietnã, e que se aproximou da China em 1972 caiu com o famigerado Caso Watergate. Aliás, não é demais lembrar que a ressurreição deste caso na mídia pelo filme The Post logo no primeiro ano do governo Trump, em plena midiatização do Russia Gate é muito sugestivo. Algo que aliado a série de acusações de que o presidente estadunidense seria uma ameaça à segurança nacional, põe na mesa esta possibilidade, que já esta sendo desenvolvida há meses, contudo muito pouco observada por aqueles que analisaram e hoje olham este processo como unicamente eleitoral.
O racismo nos Estados Unidos não é apenas um problema de governo, mas sobretudo uma questão de Estado, algo pouco discutido no país, e fora dele mais ainda. O stopim social causado pelo assassinato de George Floyd em maio, cuja ação inicial foi espontânea, bem rapidamente foi girado por vários setores midiáticos no país contra Trump, cujos traços facilmente fazem concluir que se tenta repetir uma Color Revolution Made in USA. Ele não apenas percebeu o que se passava, como reagiu de uma forma apenas possível nos Estados Unidos, conclamando a lei de insurreição escravista de 1809- uma lei constitucional vigente!- e uma repressão violenta que contou com forças federais e a Guarda Nacional. O que faz do aparecimento do Black Lives Matter não é um mero acaso nesta questão.
O Black Lives Matter, movimento/organização não governamental, cuja presença nos protestos foi marcante, já havia em 2016 apoiado publicamente Hillary Clinton na Convenção Nacional Democrata, o que causou inclusive conflitos internos com membros da organização/movimento que apoiavam o senador Bernie Sanders– um problema que este ano não aconteceu, pois todos apoiaram a Biden! Esta organização/movimento, que conta com apoio da família Obama, assim como empresas e figuras públicas negras nos Estados Unidos, passou então a estar no centro midiático em muito pouco tempo, visto que seu nascimento oficial data de 2013. Ela opera não apenas como um braço da máquina liberal cosmopolita estadunidense dentro do país, mas também direcionada sobretudo para fora.

É importante ressaltar que muitos membros e membras desta organização/movimento vão para países africanos oferecer bolsas e cursos educacionais, cujo o objetivo oficial é ’’reparação histórica’’. Nunca é demais lembrar que este continente é um importante centro de disputa geopolítica hoje entre as grandes potências, onde a China possui a vantagem atrativa de não ter exercido o imperialismo e relações coloniais com estes países. Aos que chamam isso de teoria da conspiração, é possível responder com a teoria da coincidência, em virtude do momento histórico em que tudo isso ocorre, junto com o poder das estrelas do Partido Democrata ligadas à Família Obama em plena ascensão.
O único, e principal problema do Black Lives Matter, é que ele não se põem na posição de alternativa sistêmica, mas retoma conceitos já ultrapassados da identidade com fim em si mesma- nada diferente do discurso liberal. Basta ver apenas as corporações que hoje mudam seus discursos, rótulos e entre outras coisas relacionadas à marca, sob pressão desta organização/movimento, com uma lógica eminentemente consumista, pois neste modelo de democracia, é o consumo que torna o indivíduo cidadão. Contudo, isso não atrai boa parte da sociedade estadunidense que para além de ser latina e asiática, não inclui parte dos próprios negros que lutam para ter um teto para onde morar diariamente. Portanto, em oposição a outros processos de Regime Change de sucesso, onde foi possível mobilizar um grupo grande e coeso, nos Estados Unidos, isso não será possível apenas com o Black Lives Matter.
Voltando ao processo eleitoral, retoma-se a citação inicial de House of Cards, onde Franklin Underwood, vê-se, então, mediante a manifestações e um processo de semanas a ser julgado pelas instituições sobre as eleições. Esta ’’previsão’’ precisa e invejável, que também no processo de desenrolar-se, está sendo aquecida há meses com a divulgação de pesquisas eleitorais que apontam uma vitória folgada de Biden, assim como as declarações de Hillary, Obama e afins sobre a falta de confiabilidade do próprio processo eleitoral. As instituições, entretanto, teoricamente hoje trabalham para resguardar a vontade dos votantes/colégios eleitorais, que neste caso apontam para a permanência de Trump, situação que reforça saídas não convencionais para um golpe, através da descredibilização das instituições e, por fim, a acusação de subversão das mesmas- em outras palavras autogolpe.
Qual a única saída desta situação para os setores envoltos de Joe Biden? Uma conspiração aberta que já está em processo, uma revolução (ou não) midiatizada via streaming. O clima no dia da eleição neste caso é apenas uma palhinha para o que está em desenvolvimento hoje, e pode vir a desembocar no futuro, dado o tamanho colossal das estruturas que isso vem movendo e moverá a níveis internos e externos. Níveis que envolvem desde uma guerra entre setores da inteligência, a até mesmo o uso de países aliados, ou com quem as facções possuem alguma espécie de relação, que vão desde a Ucrânia a Honduras, grupos terroristas e de narcotraficantes. Uma guerra que hoje em um mundo submerso, pode vir a aparecer na superfície, trazendo consequências inimagináveis.
Esta guerra civil, hoje é híbrida, pode vir a ter características quentes como a do século XIX, e que está a vista ao longo dos últimos meses e no dia final deste processo eleitoral (ou não). Para os céticos de tais afirmações, mais uma vez recomenda-se uma obra prima cinematográfica, “Joker”– Coringa- (2019), onde se relacionado à cena final de caos total em Gotham, por ocasião de uma explosão social junto com a confusão institucional da incerteza eleitoral até janeiro, em semelhança ao citado de “House of Cards”, chega-se ao ponto em que tudo tende a desaguar. Não se trata de futurologia, mas de uma humilde observação acerca de um presente movimento em curso.

Também não é fácil saber quem sairá vencedor deste conflito, pois em 1860, quando os escravistas perderam a guerra contra o norte, foi uma situação de exceção nas Américas, onde no resto do continente boa parte da oligarquia conseguiu persistir no escravismo e servilismo, e resistir enquanto grupo, quando estas instituições acabaram. E este é o caráter do atual movimento, onde os Estados Unidos encontram-se em uma linha de cruzamento, onde grupos sedentos por sangue lutam encarniçadamente pelo poder de sentar-se no Salão Oval, para escolher onde será o próximo bombardeio ’’tecnológico’’ ou de mísseis cruzeiro.
Contudo, fica um importante recado final. Os efeitos imprevisíveis desta violenta luta impactarão especialmente os países subordinados ou ocupados pelos Estados Unidos, podendo trazer grandes confusões e mudanças políticas, que em certa medida já são possíveis de assistir em países como o México. A Guerra Civil Híbrida, que pode vir a ser quente, na qual sucumbe hoje Washington, certamente, é uma oportunidade de movimentação política nestes países, uma caríssima e bem rara na historia.
Referências:
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ESCOBAR, Pepe. Nixon-Trump vs. the Strategy of Tension. In: Strategic Culture Foundation. 2020. Disponível em: https://www.strategic-culture.org/news/2020/06/18/nixon-trump-vs-strategy-of-tension/.
______. POTUS Punk vs Dem Dementia. In: Strategic Culture Foundation. 2020. Disponível em: https://www.strategic-culture.org/news/2020/10/15/potus-punk-vs-dem-dementia/.
GAZETA DO POVO. Geração aluguel dos EUA fica cada vez mais distante da Casa própria. 2012. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/geracao-aluguel-dos-eua-fica-cada-vez-mais-distante-da-casa-propria-33ygfnzpk8zvffv1evh8t1366/.
G1. Hillary diz em entrevista que Biden não deveria reconhecer eventual derrota na noite da eleição. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/eleicoes-nos-eua/2020/noticia/2020/08/25/hillary-diz-em-entrevista-que-biden-nao-deveria-reconhecer-eventual-derrota-na-noite-da-eleicao.ghtml.
JOHNSTONE, Caitlin. Election 2020: The United Politics of America. In: Consortium News. 2020. Disponível em: https://consortiumnews.com/2020/10/22/election-2020-the-united-politics-of-america/.
NATIONAL ALLIANCE TO END HOMELESSNESS. State of Homelessness: 2020 Edition. 2020. Disponível em: https://endhomelessness.org/homelessness-in-america/homelessness-statistics/state-of-homelessness-2020/.
REVISTA INTERTELAS. O ABC do Impeachmant de Trump. 2019. Disponível em: https://revistaintertelas.com/2019/11/07/o-abc-do-impeachmant-de-trump/.
REVISTA VEJA. O impasse que pode levar ao despejo de milhões de pessoas. 2020. Disponível em: https://veja.abril.com.br/economia/o-impasse-nos-eua-que-pode-levar-a-um-despejo-de-milhoes-de-americanos/.
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______. Exxon Mobil Total Assets. Disponível em: https://ycharts.com/companies/XOM/assets.
Vídeos:
BRASIL 247. Pepe Escobar explica o poder negro e a superpotência em caos. 2020
CGTN AMERICA. The heat: Right-Wing U.S. Militias. 2020
RT ESPAÑOL. EE.UU: En jaque ante la covid. 2020
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