
A vitória de Joe Biden como presidente dos Estados Unidos foi recebida com comemoração por diversos setores da esquerda brasileira. A nocividade de Biden pode ser questionada a partir de vários aspectos. Uma análise mais apurada de seu passado comprova que seus compromissos estão atrelados às piores alas do imperialismo estadunidense e que o belicismo deverá ser um elemento marcante de seu governo.
Desse modo, a política externa de Biden para a América Latina e para o mundo não deverá ser nem um pouco agradável. A candidatura de Biden contou com uma verdadeira manipulação de cobertura. Sua vice-presidente, Kamala Harris, foi bastante utilizada por ser mulher e afrodescendente e o importante intelectual de esquerda Noam Chomsky chegou a afirmar que Biden era um mal menor.
Imperialistas humanitários
No entanto, Biden esconde em sua biografia mais envolvimentos com guerras do que se pode imaginar. Ele pertence à ala do imperialismo estadunidense conhecida como “imperialistas humanitários”. Esse setor tem como membros de maior destaque figuras como Hillary Clinton, Barack Obama e Bill Gates. Os imperialistas humanitários apresentam-se como defensores de pautas raciais, ambientais e de gênero.
Porém, possuem compromissos com o expansionismo estrangeiro estadunidense por meio de revoluções coloridas, golpes de Estado e guerras quentes. Para piorar, Biden recebeu amplo apoio nas eleições de diversos representantes da ala imperialista de neoconservadores (neocons), como Colin Powell e a família Bush. Essa ampla aliança entre esses dois setores forma o que hoje fica conhecido como Partido da Guerra.
Senhor das guerras
Biden foi apresentado como representante das minorias e valores democráticos. Porém, como vice-presidente de Barack Obama por oito anos (2009 – 2017), esteve imbricado com guerras, golpes de Estado e as políticas imperialistas. No Senado, Biden era considerado o maior especialista em relações internacionais e presidiu a Comissão de Relações Exteriores do Senado três vezes, entre 2001 e 2009, exercendo importante papel nas invasões do Afeganistão e Iraque.
Após o 11 de Setembro, Biden ajudou a redigir o decreto de vigilância e restrição de direitos civis conhecido como USA Patriot Act. No governo Bush, os republicanos estiveram envolvidos com o “Projeto para o Novo Século Americano”, think tank que defende que os Estados Unidos exerceram uma hegemonia política, econômica e cultural no mundo ao longo do século 20 e que essa condição deve se estender ao século 21.
A “Operação Liberdade do Iraque”, em 2003, foi considerada a primeira ação para a supremacia estadunidense no século 21. Barack Obama, derrubando as expectativas da esquerda, não apenas deu continuidade a essa doutrina, como também a aprofundou. Biden, como seu vice, foi uma figura muito importante para a política externa bélica de Obama, que contou com a kill list e sete ataques aéreos ou invasões: Afeganistão, Iêmen, Iraque, Líbia, Paquistão, Síria e Somália.
Além das guerras quentes, no governo de Barack Obama aconteceram diversas ações clandestinas, em uma verdadeira guerra híbrida. Foram realizadas operações psicológicas, revoluções coloridas e interceptações telefônicas contra chefes de Estado. Nos anos Obama, foram arquitetados golpes de Estado em países da América Latina: Honduras (2009), Paraguai (2012) e Brasil (2016). Houve também uma tentativa sistêmica de golpe contra a Venezuela no período. Cabe destacar que o responsável pela política para a América Latina na época foi Joe Biden que, inclusive, telefonou para Lula quando do anúncio da descoberta do pré-sal para tentar coagi-lo a destinar o petróleo a companhias estadunidenses.
Gabinete
Participam da organização do futuro gabinete de Biden tanto membros do Partido Democrata como do Partido Republicano. O que essas pessoas têm em comum? Todos tiveram participação importante nas principais guerras que os Estados Unidos realizaram nos últimos 30 anos. Entre eles, estão os neocons Bill Kristol e Robert Kagan e o imperialista humanitário Tony Blinken. Wesley Clark, comandante das forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na Guerra do Kosovo, foi um dos maiores entusiastas do governo Biden.
Com isso tudo, parece que o que marcará o governo Biden será o retorno dos Estados Unidos às guerras pelo mundo. Os lugares preferenciais para as investidas do imperialismo deverão ser: Líbano, Síria, Iraque, Irã, Iêmen, Bielorrússia, Rússia, China e Venezuela. Além de guerras quentes, deverá se intensificar as agendas de golpes de Estado pelo mundo. Diferente do que parte da esquerda brasileira acreditou, o governo Biden não deverá ser tão humanitário e pacífico.
Fonte: Texto publicado originalmente no site Diálogos do Sul.
Link direto: https://bit.ly/dialogosdosul-biden-americalatina
André Galindo da Costa
Doutor em Ciências pelo Programa de Integração da América Latina PROLAM, da Universidade de São Paulo (USP)
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