Massey Sahib, o filme independente que expõe a manipulação das mentes na Índia colonial

Os atores Raghuvir Yadav e Arundhati Roy. Crédito: Amazon

A Índia dos anos 30 é o pano de fundo do filme “Massey Sahib” (1986), uma das críticas mais ácidas ao colonialismo britânico. Francis Massey (encenado pelo ator Raghubir Yadav, que ganhou vários prêmios por seu primoroso trabalho) é um pequeno funcionário indiano do departamento de recolhimento de impostos de uma cidadezinha no Centro da Índia. Usado pelos chefes quando necessário e manipulado até a espinha, Massey é descartado friamente, cuspido como chiclete velho quando não serve para mais nada. O diretor Pradip Krishen, que escreveu o roteiro, inspirou-se em parte no romance “Mister Johnson” (1939), do escritor anglo-irlandês Joyce Cary (1888-1957): trata-se da estória tragicômica de um jovem nigeriano que entra em conflito com o regime colonial britânico.

Essa obra do cinema independente indiano é uma tragédia com pitadas de sátira política ferina, que evidencia a manipulação imperial e a subjugação dos súditos como o servil Massey, que veste-se como os britânicos, vai a missa e batiza seu filho com o nome Charles, em homenagem ao chefe britânico (encarnado por Barry John). Massey imagina até mesmo que está mais próximo da elite branca do que dos indianos que o cercam.

Uma elite britânica que prega a “civilização dos nativos”, mas sabe que o império tem seus dias contados. Por isso mesmo trava uma corrida para “construir um legado histórico”: projetos de infraestrutura no meio das florestas, como estradas e ferrovias, exatamente como o Charles procurou fazer, com a ajuda e os “jeitinhos” do subordinado indiano. O próprio título do filme contém forte dose de ironia: sahib significa senhor e naquela época era assim que os governantes brancos eram chamados pelos indianos. Massey acreditava pertencer à classe dos sahibs que, na verdade, o rejeitava.

Crédito: YouTube.

Um detalhe curioso é que podemos ver no filme o lado atriz da jovem Arundhati Roy, a famosa escritora indiana que ganhou o Booker Prize em 1997 por seu livro “O Deus das Pequenas Coisas”. Roy faz o papel de Saila, uma moça por quem Massey apaixona-se e casa. Ela tem uma atuação tão intensa, quanto silenciosa. A sua fala está na expressividade de um olhar que rejeita o mundo que seu marido admira.

Fonte: Texto originalmente publicado no Beco da Índia.
Link direto: http://becodaindia.com/massey-sahib-o-filme-independente-que-expoe-a-manipulacao-das-mentes-na-india-colonial/

Florência Costa

Jornalista freelancer, especializada em cobertura internacional e política, foi correspondente na Rússia pelo Jornal do Brasil e serviço brasileiro da rádio BBC. Em 2006 mudou-se para a Índia para ser correspondente do jornal O Globo É autora do livro “Os Indianos”. E editora do site Beco da Índia

Deixe seu comentário

por Anders Noren

Acima ↑

%d blogueiros gostam disto: