Vietnã diz que não vai tomar uma posição contrária à China, durante visita de Kamala Harris ao país

O primeiro-ministro vietnamita, Pham Minh Chinh (à direita), encontrou-se com Xiong Bo, o embaixador chinês no Vietnã, na terça-feira. Crédito: Embaixada da China no Vietnã/Scmp.

Nesta quarta-feira, o primeiro-ministro vietnamita Pham Minh Chinh, antes de encontrar-se com a vice-presidente estadunidense Kamala Harris, disse à China que seu país não faria uma aliança para confrontar Pequim. Em uma reunião na terça-feira com embaixador chinês no Vietnã Xiong Bo, Pham disse que seu país sempre manteve uma política externa independente e que priorizou a autossuficiência, o multilateralismo e a diversificação de laços, informou a Agência de Notícias do Vietnã.

Pham disse que o Vietnã não se aliará a um país para lutar contra outro e deseja aumentar a confiança política com a China, promover o intercâmbio e manter a cooperação. Ele também disse que as duas nações deveriam juntar-se à Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) para acelerar as negociações lentas para um código de conduta no disputado Mar do Sul da China. “Os dois lados precisam unir esforços para manter a paz e a estabilidade, resolver satisfatoriamente as divergências no mar, no espírito de percepções comuns de alto nível”, disse Pham.

Xiong disse durante a reunião que as duas nações comunistas têm o mesmo sistema político e crenças. Ele afirmou à Pham que a China estava disposto a trabalhar com o Vietnã e seguir as diretrizes estratégicas de alto nível dos dois países para desenvolver ainda mais os laços, de acordo com um comunicado do Ministério das Relações Exteriores chinês. O enviado salientou que as conversas telefônicas que o presidente Xi Jinping teve no início deste ano com o chefe do Partido Comunista vietnamita Nguyen Phu Trong e o presidente Nguyen Xuan Phuc estabeleceram uma sólida confiança política entre os vizinhos.

Xiong também pediu o apoio do Vietnã para opor-se ao que a China diz ser a “politização” das investigações de origem da Covid-19. Pequim rejeitou a proposta da Organização Mundial da Saúde para uma nova investigação que incluiria revisitar a teoria de que o coronavírus veio de um vazamento de laboratório em Wuhan, China, onde o vírus foi relatado pela primeira vez em dezembro de 2019.

Harris, que está em uma viagem pelos países asiáticos, encontrou-se com Pham e o presidente Nguyen em Hanói nesta quarta-feira. Ela disse aos líderes do Vietnã que Washington queria transformar seu relacionamento em uma parceria estratégica, ao instar Hanói a desafiar o que ela descreveu como intimidação de Pequim no Mar da China Meridional. O vice-presidente dos EUA também prometeu ajuda de Washington para aumentar a segurança marítima do Vietnã, oferecendo mais visitas de navios de guerra dos EUA, bem como a doação de um terceiro navio da Guarda Costeira dos EUA – sujeito à aprovação dos legisladores dos EUA.

Vamos trabalhar em estreita colaboração com o Vietnã para defender a liberdade internacional de navegação baseada em regras, uma questão que levamos a sério, [incluindo como] se relaciona com o Mar da China Meridional“, afirmou Harris. “Precisamos encontrar maneiras de aumentar a pressão, francamente, para que Pequim cumpra a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar e desafie sua intimidação e reivindicações marítimas excessivas”. Sua visita veio com a credibilidade dos EUA na região sendo questionada após o caos no Afeganistão. A retirada das tropas estadunidenses do país devastado pela guerra na Ásia Central gerou preocupações sobre se Washington também pode retirar-se de seus compromissos com o Indo-Pacífico.

Na véspera da chegada de Harris, a China doou mais de 2 milhões doses de vacina para o covid-19 para o Vietnã, onde houve um grande aumento nas infecções por coronavírus, com 10.397 novos casos e um recorde de 389 mortes relatadas na segunda-feira. Xu Liping, especialista em estudos do sudeste asiático da Academia Chinesa de Ciências Sociais, disse que a reunião de Xiong-Pham indicou a inalterada fundação dos laços China-Vietnã, mas Pequim não pode ignorar o quanto os EUA estão trabalhando para conquistar o Vietnã. “Os EUA expressaram o desejo de melhorar as relações bilaterais”, disse Xu. “Isso é o que o Vietnã sempre quis. Os EUA também fizeram promessas mais concretas ao Vietnã em várias frentes, incluindo segurança, contenção de pandemia e cooperação econômica”.

Durante a visita de Harris, os EUA doaram ao Vietnã mais 1 milhão de doses da Pfizer que começariam a chegar nas próximas 24 horas. “Como vizinho próximo da China, o Vietnã está preocupado com a possibilidade de os gestos recentes dos EUA afetarem seu relacionamento com Pequim”, disse Xu. “É por isso que estamos assistindo ao encontro com o embaixador chinês antes da visita de Harris, afirmando que os laços com a China ainda são uma prioridade”.

Fonte: Texto originalmente publicado em inglês no site South China Morning Post.
Link direto: https://www.scmp.com/news/china/diplomacy/article/3146273/vietnam-says-it-will-not-side-against-china-us-kamala-harris

Mimi Lau
Jornalista que realiza cobertura especial sobre direitos humanos, religião e sociedade civil na China. Ela passou sete anos no sul da China como correspondente do Scmp em Guangzhou antes de retornar a Hong Kong em 2017. Hoje, Mimi continua a pesquisar histórias em todo o país, monitorando e relatando sobre questões políticas e civis importantes. Ela ganhou vários prêmios por seu trabalho

Reportagem adicional de Bac Pham em Hanói e Bennett Murray

Tradução e adaptação Alessandra Scangarelli Brites, Intertelas

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por Anders Noren

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