
O suicídio no Japão é um tema bastante explorado pelo ocidente, especialmente por ser considerado histórico, social e tradicional. Advindo de tempos anteriores, mas muito comentado dentro da temática samurai, o suicídio ganhou conotações românticas e até mesmo nacionalistas, considerado um ato honroso quando não se pode vencer uma luta ou querela. Ao invés de abandonar seu modo de vida ou perder sua honra, acredita-se que muitos japoneses preferiram, de forma atemporal, o suicídio, o que leva a uma espécie de normalização sobre estes atos, além da percepção do Estado de que o autocídio é, de alguma forma, inevitável.
Localizada na base noroeste do monte Fuji, a floresta Aokigahara é conhecida como mar de árvores e abrigo dos suicidas. Ainda que situada nas proximidades de Fuji-san, cartão postal da ilha, Aokigahara é conhecida como local dos suicidas, já que muitos deles recorrem a regiões isoladas para praticar seus atos. Depois da Ponte Golden State, em São Francisco, Aokigahara é o segundo lugar do mundo mais considerado pelos suicidas, aonde pelo menos até 1988, 30 autoextermínios aconteciam anualmente, segundo o pesquisador e psiquiatra Yoshitomo Takahashi.
Em 2003, 105 corpos foram encontrados na floresta, 27 pessoas a mais que em 2002. Em 2010 mais de 200 indivíduos tentaram suicídio na região, ainda que apenas 54 tenham sido registradas como mortas por autoquiria. Anualmente as autoridades policiais visitam a floresta na tentativa de encontrar desaparecidos e contar os falecidos. No entanto, durante os últimos anos, o governo deixou de divulgar o número de suicidas na investida de diminuir a associação entre Aokigahara e o autocídio.
Como medida para controlar os atos de autoextermínio em Aokigahara, inúmeras empresas colocaram placas com frases e textos de autoajuda, para que os possíveis suicidas enxergassem saída para seus problemas. Assim, muitas empresas credoras de cartão de crédito e promotoras de empréstimos, incentivam os visitantes suicidas a retomar a consciência e tentar uma negociação para suas dívidas. Outras setores buscaram criar mensagens para que os indivíduos retornem para suas famílias e entre em contato com associações de saúde mental e prevenção ao suicídio, o que faz com que o público de fora trace as causas mais comuns que levam ao autocídio japonês.

Embora possamos compreender que motivos como dívidas, problemas familiares, amorosos e estudantis comumente levam pessoas ao suicídio, ainda nos perguntamos: por que Aokigahara continua a permear a cabeça dos suicidas, tornando-se uma opção de local dentre as inúmeras possibilidades para o autoextermínio? Diferente da famosa Ponte Golden State, onde trafegam mais de 100 mil veículos por dia, Aokigahara é silenciosa e densa.
Por ser considerada um mar de árvores, estas impedem a circulação de vento e som no local, o que contribui para a sensação de solidão e reflexão que circundam a floresta. Assim, enquanto os suicidas da Ponte Golden State podem ficar gravados na memória das pessoas, aqueles que se encontram em Aokigahara passam muitas vezes desapercebido, sendo localizados meses e até anos depois de seu ato.
A característica isolacionista do autoextermínio em Aokigahara pode ser discutida por muitos vieses, inclusive pelo fato de que, o suicídio, ainda que visto como normalizado pelo ocidente dentre os japoneses, ainda é considerado um tabu na ilha. Isso porque o Japão é altamente criticado pelo estrangeiro ao que se resume a suicídio, o que faz com que haja uma condenação no ocidente ao modo japonês de resolver conflitos familiares e trabalhistas.
Além disso, segundo o budismo, pessoas que ceifam suas próprias vidas ou morrem precocemente, podem tornar-se um Yūrei ou fantasmas malevolentes que trazem azar a sua própria família ou mesmo a sua assombração. O recolhimento do sujeito a um lugar como a floresta Aokigahara tenta fazer com que estes indivíduos sejam escondidos, tal como as causas que levaram ao ato. Ademais, como os indivíduos são considerados uma extensão de seu núcleo familiar, quando se suicidam, tornam-se uma vergonha para sua família, que pode ser culpabilizada pelo ato e pelo sentimento de fracasso.
O isolacionismo do suicida, dentre outros termos, pode também estar conectado a uma multa que é dada a família caso o suicídio seja visto pela sociedade ou caso desperte uma espécie de trauma em seus espectadores. De acordo com o Irishi Times, empresas de metrô multam as famílias de suicidas que se jogam em frente aos trens. No caso da empresa Seibu Railways, o custo da taxa a ser paga pelas famílias é averiguado de caso para caso: quanto maior o nível de ruptura causado para os passageiros dos metrôs, maior será a fatura. Neste sentido, muitos suicidas, ao invés de buscarem soluções públicas para lidar com o caso, preferem o isolacionismo suicida ao invés do endividamento de suas famílias.
Segundo a CNN, um psiquiatra japonês que entrevistou sobreviventes de suicídio em Aokigahara, descreveu que uma das principais motivações que os levaram a ir até a floresta é que estes “poderiam morrer sem serem notados”. Para Yoshitomo Takahashi, muitos sujeitos de fora da região buscam Aokigahara para não se sentirem sozinhos em um momento tão doloroso. Como muitas pessoas tiraram suas vidas na floresta, para os sobreviventes, morrer em Aokigahara era como pertencer ao mesmo grupo e morrer com os outros. Esta tendencia também é encontrada dentre japoneses que buscam fóruns de suicidas, localizáveis na internet.

Ao longo dos anos, houve tentativas de conter suicídios na floresta, ao que autoridades colocaram câmeras de segurança na entrada de Aokigahara para rastrear os que entram e os que saem. De acordo com Imasa Watanabe, da prefeitura de Yamanashi: “especialmente em março, o final do ano fiscal, mais suicidas virão para cá em razão da economia ruim. É meu sonho impedir os suicídios nesta floresta, mas para ser honesto, seria difícil evitar os casos aqui”.
Para Masamichi Watanabe, chefe do corpo de Bombeiros de Fujigoko, que cobre Aokigahara, muitas pessoas que vão: “acabar com suas vidas em Aokigahara, sem saber exatamente onde fica a floresta, se matam na floresta vizinha”. Mesmo assim, oficiais recuperam anualmente mais de 100 pessoas na região, encontrando-as em vários estados de consciência.

Aokigahara é citada em várias mídias como animes, mangás, literatura e games. No ano de 2015, o filme “The Sea of Trees” com Matthew McCaunaghey, Ken Watanabe e Naomi Watts conta uma história que se passa na região, assim como o filme “The Forrest”, de 2016. O game de terror “Fatal Frame Maiden of the Black Water” tem como cenário a ficcional montanha Hikami, onde se encontra uma floresta de suicidas, que tem como inspiração Aokigahara.
Em um caso mais recente, no ano de 2017, o youtuber Logan Paul, em uma viagem ao Japão, gravou um vídeo em Aokigahara, onde publicou imagens de um cadáver encontrado. Seu vídeo altamente apelativo e encarado como desrespeitoso, contou com milhões de acessos dos internautas, que obrigaram o youtuber ao bom senso e a um pedido de desculpas público.
Ainda que a floresta tenha grande visibilidade internacional e mundial, as autoridades japonesas não parecem conseguir conter os casos e nem as causas de suicídios e suicidas que se sucedem localmente. Embora tenha-se consciência do isolacionismo para o autoextermínio, Aokigahara continua a permear a cabeça de sujeitos desesperados, que não conseguem solucionar seus problemas.
Deixe seu comentário