Pensa conosco: quantos clubes do livro você conhece atualmente? Talvez, alguns. Muitos deles estão fazendo sucesso nas mídias digitais. Alguns são jovens e nasceram no meio da pandemia. Agora: quantos você conhece que sejam dedicados a obras de literatura japonesa? Vamos arriscar a responder: nenhum. A boa notícia é que hoje você vai conhecer as atividades mais recentes e a história de um bem ativo e organizado, que funciona no interior do Instituto Cultural Brasil-Japão, centro de divulgação da cultura japonesa no Rio de Janeiro: o Clube do livro ICBJ (clique aqui).
Grandes nomes da literatura nipônica foram lidas e analisada em conjunto pelos integrantes desta importante iniciativa. Entre os preferidos encontram-se Natsume Sôseki, Ryunosuke Akutagawa e Yasunari Kawabata com seus inúmeros contos fantásticos e lúcidos sobre a natureza humana, e Shusaku Endô, com seus romances “Silêncio” e “Samurai” que fazem viajar por momentos históricos do Japão. Agora, o clube prepara-se para explorar a obra do escritor Haruki Murakami. No próximo encontro online e gratuito, dia 29 de outubro, às 17h, via plataforma da Google Meet, os participantes irão conversar sobre “Ouça a canção do vento & Pinball, 1973”, a primeira obra do autor, escrita na mesa de bar, após um insight dele enquanto assistia a um jogo de beisebol da liga japonesa. Achou interessante, então envie um e-mail para academiasdeestudos@icbj.com.br e inscreva-se.
“Essa obra é importante para conhecermos um pouquinho mais sobre um dos escritores mais famosos hoje em dia. Haruki Murakami é uma joia cultural de valor inestimável. Seus livros falam sobre o Japão, o mundo e sobre nós mesmo. Quando lemos somos levados para dentro dos enredos e quase nos tornamos seus personagens”, conclui Mateus Martins do Nascimento, pesquisador do Centro de Estudos Asiáticos da Universidade Federal Fluminense (CEA-UFF) e do Grupo de Pesquisa em Mídia e Cultura Asiática Contemporânea (MidiÁsia-UFF), co-produtor e apresentador dos programas “Conversações” e “Ásia em Pauta”, ambos realizado com a Revista Intertelas.
Fundado em 11 de maio de 2018, por iniciativa de Bernardina de Oliveira Silva, professora aposentada do estado do Rio de Janeiro e diretora cultural do ICBJ, de Douglas Magalhães Almeida, professor de história japonesa e líder do Grupo de Estudos Japoneses da UFF (GEHJA) e do já mencionado Mateus Martins Nascimento, o Clube do Livro ICBJ reúne todas as pessoas fãs de literatura japonesa para conversarem e comentarem suas impressões sobre algum livro da vez. O presidente do ICBJ, Sohaku Bastos, grande personalidade da cultura japonesa no Rio de Janeiro elogia a proposta: “A literatura japonesa é ímpar e rica em sabedoria milenar. Então, para o público brasileiro, representa muito ensinamento e um modo de ver a vida de forma diferente de nós ocidentais”.
O projeto foi bem recebido por todo instituto e de acordo com a diretora cultural Maria Bernardina de Oliveira Silva: “O leitor brasileiro frente à literatura japonesa encontra como primeiro desafio, a questão da tradução. Ler uma tradução implica reservas e destaques inerentes ao tradutor. O enriquecimento cultural é indiscutível. O narrador japonês incorpora obviamente mitos, ritos… História e estórias… Além, claro, do estilo pessoal do ficcionista. No meio das narrativas: haiku, samurai, cerimônia do chá, gastronomia, referências ao xintoísmo, budismo, lugares emblemáticos; instrumentos musicais: Kotô, shamisen; meios de transportes como o riquixá; kabuki, nô e outros. É sempre um prazeroso desafio cultural tornar-se um leitor da ficção / literatura japonesa, seja ela clássica ou pop”.
Ao longo dos últimos anos, o projeto já reuniu diversos participantes. Todas e todos leitores em busca de um lugar para compartilhar esse hobby específico. O clube completou 3 anos em maio deste ano e caminha firme e forte para o quarto ano em 2021. Douglas Almeida, um dos idealizadores afirma que: “O Clube do Livro – Leituras em Literatura Japonesa foi um projeto importante no ICBJ, idealizado para promover e divulgar a cultura japonesa por meio das obras literárias que temos traduzidas no Brasil. Desde o começo pensávamos em incentivar a leitura e os trabalhos de editores, tradutores e demais profissionais do universo do livro”.
Além disso, ele afirma que um objetivo paralelo foi “fortalecer as relações Brasil-Japão, de criando um espaço para trocas culturais, literárias e das experiências pessoais e íntimas da leitura entre os membros que se deparam com uma estética tão díspar de nossa sociedade brasileira contemporânea. É gratificante perceber que após 3 anos e mais de 20 obras lidas, termos alcançado esses objetivos”, conclui. Dentre os livros já visitados, constam as obras clássicas e contemporâneas, além de uma certa diversidade de gêneros.
Escritores como Nagai Kafu (“Guerra de Gueixas” e “Crônicas da Estação das Chuvas”), Ryunosuke Akutagawa (“Rashômon “e “Yabu no Naka”) Yukio Mishima (“Neve de Primavera” e “Vida à venda”), estão entre as leituras, ao lado de autores mais controversos e menos conhecidos do público brasileiro, como Masuji Ibuse (“Chuva Negra”) e/ou Naoya Shiga (“Trajetória em Noite Escura”), além de uma autoria feminina recentemente valorizada como Hiro Arikawa (“Relatos de um gato viajante”), Kanae Minato (“Confissões”).
O clube foi pioneiro em comentar muitas dessas obras. O livro de Kanae Minato, por exemplo, foi alvo de um revival em 2019, protagonizado pelo clube que, inclusive, o comentou em plena Bienal Carioca do Livro! Outro caso interessante de pioneirismo ocorreu quando os participantes leram e comentaram a obra “Kanikôsen” de Takiji Kobayashi, escritor de esquerda (comunista), morto pela política do período Taishô. O livro mostra um Japão diferente do usual, mais violento e politicamente dividido, e a leitura enriqueceu aos presentes.
Para Samuel Ramos, um dos participantes, essa literatura é importante, pois “mostra uma faceta da cultura japonesa que poucos conhecem. É muito mais comum que as pessoas tenham contato com elementos literários japoneses através da cultura pop, como animês, mangás e até mesmo vídeo games. Contudo, existem outros aspectos importantes da cultura do Japão às vezes pouco conhecido por nós”. Samuel é estudante de letras-japonês na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e seu relato mostra o quanto é importante conhecer as culturas para além do que é usualmente mostrado.
Já a jornalista e social media, Janaína Lima, que admite ser fã da cultura japonesa desde sempre, afirma que seu primeiro contato foi com a literatura japonesa clássica e com os textos de poetas do estilo haiku: “A literatura me trouxe um olhar maior para a realidade do Japão do séc. XII. Eu tinha uma imagem muito imaginária e pouco palpável e o ‘Livro do Travesseiro’ me abriu os olhos. A literatura japonesa me ensinou muitas coisas e me fez reaprender a ter leveza, mansidão, coisas que eu já tinha, mas por questões da vida eu me esqueci. E a literatura da poesia haikai me trouxe ao encontro com o meu eu interior”, concluiu.
Prezados, Agradeço a Revista Intertelas pela divulgação do Clube do Livro do ICBJ , ao qual tenho o prazer de fazer parte desde a sua inauguração. É um projeto que nos aproxima um pouco mais da cultura e do cotidiano do povo japonês, através da sua história.