A América Latina não só latina, mas indígena, crioula, anglo-saxônica…

“A Presença da América Latina”, mural do artista mexicano Jorge González Camarena, 300 m2, 1964-65, salão da Casa del Arte Jose Clemente Orozco, Universidade de Concepción, Chile. Crédito: reprodução da internet.

Ao falarmos em América Latina duas imagens vêm à mente das pessoas: muitas pensam nos países da América do Sul enquanto outras incluem o México e a América Central. Seja como for, o conceito não corresponde exatamente à forma. O termo “América Latina” é uma armadilha que esconde múltiplas culturas e línguas que vão muito além da ideia de países de origem latina.

O termo “América Latina” nasceu referindo-se aos países do continente americano onde prevalecem os idiomas derivados do latim, isto é, o espanhol, o português e o francês. Isso inclui, portanto, o México, na América do Norte, a maior parte da América Central, do Caribe e a Guiana Francesa onde o francês é a língua nacional. Esse critério linguístico, porém, deixa de fora da América Latina os países falantes de inglês (Belize, Guiana, Trinidad e Tobago) e do holandês (Suriname, Aruba, Curaçao, São Martinho, Bonaire etc.).

América indígena

O critério “latino” desconsidera, também, os idiomas nativos que, na América do Sul, incluem:

  • Quíchua do Peru, Equador, Argentina, Chile e Colômbia;
  • Wayuu falado por 305.000 indígenas da Colômbia e da Venezuela;
  • Guarani falado no Paraguai, partes da Argentina, Bolívia e sudoeste do Brasil, considerado a língua oficial do Mercosul;
  • Aimará falado por mais de 1 milhão de falantes na Bolívia, Peru e norte do Chile;
  • Mapuche ou mapudungun, língua araucana falada no centro-sul do Chile e no centro-oeste da Argentina.

O quíchua, aimará e o guarani são reconhecidos junto com o espanhol como línguas nacionais. A América Central também conta com um número expressivo de falantes de línguas indígenas, entre elas:

  • línguas de origem maia faladas na Guatemala, Honduras, sul do México e El Salvador;
  • Quiché falado por 2,3 milhões de falantes na Guatemala.
  • No México, o nahuatl herdado dos astecas é falado por cerca de 1,5 milhões de pessoas.
Mulheres latino-americanas. Da esquerda para a direita, no sentido horário: sacerdotisa xintoísta nipo-brasileira; Frida Kahlo, famosa pintora mexicana, filha de pai alemão e mãe de origem indígena e espanhola; mulher peruana e filho de ascendência inca; vendedoras de frutas de origem africana em Cartagena, Colômbia. Crédito: Ensinar História.

América “crioula”

O conceito linguístico de “América Latina” deixa de fora, também, as línguas crioulas, nascidas da fusão de duas ou três línguas (indígenas e/ou africanas) com as línguas dos colonizadores  – fenômeno comum em territórios submetidos à colonização como a América, a Austrália, a Indonésia etc. Na América há, por exemplo, o crioulo inglês do Suriname, o crioulo francês, o créole, do Haiti falado por cerca de 4,5 milhões de pessoas, o crioulo das Antilhas falado por 1 milhão de falantes, e o da Guiana Francesa baseado no francês, inglês, português, espanhol e dialetos africanos e indígenas.

As línguas crioulas não são dialetos, nem corruptelas ou uma simples mistura de outras línguas. Trata-se de uma linguagem originada da necessidade de comunicação forçada entre povos de línguas diferentes da língua do dominador, e formada a partir de uma base (a língua de maior prestígio social). O falante do crioulo aprende a sua língua em casa e fala-a em família, mas aprende, fala e escreve a língua de prestígio na escola.

Sinal de trânsito em Guadalupe (Antilhas) escrito em crioulo. Tradução literal: “Levante o pé [do acelerador]. Há crianças brincando aqui”. Crédito: Ensinar História.
América multilíngue

Enfim, a América Latina não se limita aos falantes de três idiomas – português, espanhol e francês – embora eles sejam predominantes. Em todo continente existem hoje 1.061 línguas vivas, considerando a América do Norte (256), a América Central (326), a América do Sul (456) e o Caribe (23). Ainda poderiam ser lembradas as numerosas línguas trazidas pelos imigrantes: italiano, alemão, japonês, libanês, hindustano e javanês (Suriname), galês (Patagônia argentina) etc.

Países da América do Sul: qual a origem de seus nomes? Crédito: Ensinar História.

Se as línguas dos colonizadores se impuseram no continente americano como idiomas oficiais, o mesmo não se pode dizer dos nomes dos países. A origem dos nomes da maioria dos países americanos é indígena. Entre eles estão: Canadá, México, Guatemala, Belize, Nicarágua, Haiti, Cuba, Jamaica, Panamá, Chile, Peru, Guiana, Suriname, Paraguai e Uruguai. Os países de nomes de origem europeia são: Estados Unidos, Costa Rica, El Salvador, Honduras, Bolívia, Colômbia, Equador, Venezuela, Dominica (República Dominicana), Porto Rico, Argentina e Brasil.

Fontes

Origem dos nomes dos nomes dos países da América Latina. América Latina Hoje.
As invenções dos nomes das nações latino-americanas. El País. 6 ago 2010.

Fonte: Texto originalmente publicado no Blog Ensinar História.
Link direto: https://ensinarhistoria.com.br/america-latina-nao-so-latina-mas-indigena-crioula-anglo-saxonica/

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por Anders Noren

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