Mesmo não enfrentando ameaças, Finlândia almeja adesão à OTAN e Londres avalia enviar armas nucleares para a Suécia

Crédito: reprodução da Revista International Affairs.

A posição da Finlândia é realmente surpreendente. Por um lado, apresentou um pedido urgente de adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), o que automaticamente a torna um potencial adversário militar da Rússia. E isso está acontecendo depois de quase 80 anos de diálogo político abrangente e mutuamente respeitoso entre Moscou e Helsinque. Isso já deu origem ao termo “Finlandização”, que descrevia a boa fé e as relações amistosas entre os dois vizinhos.

E ainda assim, os líderes finlandeses tomam uma estranha decisão de abandonar o status de neutro de seu país e ingressar na OTAN. Embora, de acordo com Klaus Korhonen, representante permanente da Finlândia na OTAN, em uma entrevista à CNN: “não haja ameaça militar à Finlândia da Federação Russa“. Poucas horas depois, o ministro das Relações Exteriores da Finlândia, Pekka Haavisto, descreveu a Rússia como um “vizinho importante”, mas acrescentou que, em vista do que estava acontecendo na Ucrânia e devido a preocupações de segurança na Europa, as relações com Moscou eram difíceis.

De acordo com relatos da mídia, a maioria dos legisladores finlandeses quer que seu país junte-se à aliança do Atlântico Norte. A Reuters, citando o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que o processo de adesão da Finlândia à aliança seria “suave e rápido” e que a Finlândia “seria calorosamente recebida”. Isso significa que a transição do status atualmente neutro do país nórdico para uma posição de confronto com a Rússia não demorará muito para acontecer.

De acordo com a fonte da agência em Bruxelas, o chefe da OTAN pode fazer um convite à Finlândia para juntar-se à aliança na cúpula da OTAN, prevista para ser realizada em Madri no final de junho. A fonte acredita que a Finlândia pode aderir à OTAN “sob um procedimento acelerado“, saltando a fase preliminar de obtenção e implementação do Plano de Acção de Adesão, que normalmente demora anos. Ele está certo de que o próprio processo de negociação será super rápido, dado o “alto nível de interesse da OTAN em aceitar um país parceiro e o alto grau de prontidão de seu exército para integração nas estruturas militares da OTAN”.

Em um comunicado na quinta-feira, 12 de maio, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse que: “a adesão da Finlândia à OTAN causará sérios danos às relações bilaterais russo-finlandesas e [ameaçará] a preservação da estabilidade e segurança na região norte da Europa“. “A Rússia será forçada a tomar medidas de retaliação, tanto de natureza militar-técnica quanto de outra natureza, a fim de interromper as ameaças à sua segurança nacional que surgem a esse respeito”, acrescentou o comunicado.

Além disso, a adesão da Finlândia à Aliança do Atlântico Norte seria uma violação direta de várias obrigações legais internacionais de Helsinque, inclusive sob o Tratado de Paz de Paris de 1947 e o Tratado de 1992 entre a Rússia e a Finlândia, que estabeleceu os fundamentos das relações bilaterais. Além disso, a Finlândia corre o risco de perder os benefícios de que desfrutava graças ao seu comércio ativo e outros laços econômicos com a Rússia que lhe proporcionou ganhar bilhões de dólares e a fez prosperar na segunda metade do século 20.

Isso ocorreu precisamente graças a projetos conjuntos de grande escala com a União Soviética que foram ativamente promovidos pelo presidente Kekkonen e outros líderes finlandeses. Agora, o comércio mutuamente recompensador e os futuros projetos de cooperação provavelmente serão arquivados, em detrimento econômico do Estado finlandês, já que a Rússia simplesmente fechará sua fronteira com um membro da OTAN.

Londres e armas nucleares para a Suécia

Recentemente, Boris Johnson deu a entender que o Reino Unido poderia fornecer apoio nuclear à Suécia, noticiou o tablóide britânico Daily Express. Não está muito claro o que o primeiro-ministro britânico tinha em mente, mas esta é uma declaração extremamente séria. O fato de ter vindo de Londres é surpreendente, e a Suécia deveria estar perguntando-se – o que está por trás disso?

Crédito: reprodução da Revista International Affairs.

A Suécia nunca teve suas próprias armas nucleares, nem nunca houve necessidade delas. Esta declaração provocativa do primeiro-ministro britânico veio numa conferência de imprensa onde Boris Johnson com a sua homóloga sueca Magdalena Andersson disseram que o Reino Unido apoiaria qualquer decisão de Estocolmo sobre a possível adesão à OTAN. Em resposta a uma pergunta sobre se o Reino Unido forneceria apoio nuclear à Suécia, o primeiro-ministro disse que Londres geralmente não comenta questões de dissuasão nuclear. Mas, ao mesmo tempo, ele deixou claro que qualquer uma das partes pode fazer tal pedido e a Grã-Bretanha o levará muito a sério.

Desde 1998, quando Londres desativou suas bombas táticas WE.177, o atual sistema de armas nucleares do Reino Unido tem sido mísseis Trident. O sistema é implantado em quatro submarinos da classe Vanguard atualmente estacionados na base de Clyde, na Escócia. Cada um deles pode transportar até dezesseis mísseis Trident II com oito veículos de reentrada múltipla individualmente direcionados. O alcance do míssil balístico Trident II D-5 é de 11,3 mil quilômetros e a velocidade máxima é superior a 21,6 mil km/h. A maioria das ogivas fabricadas na Grã-Bretanha tem um rendimento de 80-100 quilotons de TNT – cinco a seis vezes mais poderoso do que a bomba atômica “Kid” lançada em Hiroshima.

Por que Londres precisou fazer propostas tão ambíguas para um país que nem mesmo as pediu? A resposta a esta pergunta sugere o seguinte: para desviar um potencial ataque nuclear de seu território no caso de um conflito nuclear. É difícil entender por que a Suécia precisa disso, porque por muitos anos a URSS e depois a Rússia não representaram nenhuma ameaça real a ela. A primeira reacção da Rússia ao possível aparecimento da OTAN nas suas fronteiras a norte já está aí – o primeiro vice-representante da Rússia na Organização das Nações Unidas (ONU) Dmitri Polianski, em entrevista à revista online britânica UnHerd, disse que a Suécia e a Finlândia, com a entrada na OTAN, podem vir a ser um possível alvo de ataque se as tropas da aliança aparecerem no território desses países.

O que acontecerá se as armas nucleares estiverem estacionadas lá? Indícios sobre o possível aparecimento de armas nucleares, sem dúvida, agravam a situação. O secretário de imprensa do presidente russo, Dmitri Peskov, observou que o lado russo analisará a situação e desenvolverá medidas para garantir sua segurança. E a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova, disse que a Suécia e a Finlândia devem entender as consequências de tal passo para as relações com a Rússia. Enquanto isso, a questão ainda está lá – por que Londres faz propostas tão ambíguas e o que está por trás disso?

Fonte: Textos originalmente publicados em inglês no site da International Affairs.
Links diretos: https://en.interaffairs.ru/article/facing-no-threat-from-anyone-finland-still-strives-for-nato-membership/ / https://en.interaffairs.ru/article/london-and-nuclear-weapons-for-sweden/

Tradução, edição texto e pesquisa de fotos e vídeos– Alessandra Scangarelli Brites – Intertelas

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por Anders Noren

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