
“Revisar o velho e aprender o novo” é a sabedoria dos sábios chineses, e o doutor Reginaldo Filho, fundador e reitor da Faculdade EBRAMEC no Brasil, concorda profundamente com isso. Recentemente, ele disse, na palestra online “Into China” realizada pela Universidade Federal Fluminense (UFF) no Brasil e pela Universidade Normal de Hebei na China, que a medicina chinesa, assim como muitos livros famosos sobre ela, tem uma história de milhares de anos, mas como os próprios clássicos, está em constante desenvolvimento e inovação.
A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) aos olhos dos médicos brasileiros: herança e longividade
Nas culturas ocidentais, a palavra “antigo” muitas vezes tem uma conotação depreciativa, significando velho e ultrapassado, enquanto que nas culturas asiáticas “antigo” está frequentemente associado a clássicos e tradições, diz Reginaldo Filho. A medicina chinesa tem uma longa história e continua a desenvolver-se hoje com base em clássicos antigos. Por exemplo, no Clássico de Medicina Interna do Imperador Amarelo está escrito que as pedras eram usadas nos tempos antigos para a prática da aculputura, mas os praticantes da medicina moderna chinesa usam mais comumente agulhas finas.

Além disso, a medicina chinesa moderna é freqüentemente combinada com a ocidental para tratar pacientes. Diante de pandemias, como a do novo coronavírus, as teorias da linha mais tradicional do saber médico chinês também podem auxiliar e o resultado, ele acredita, é a preservação de uma vitalidade constante. As palavras “medicina chinesa” também são interpretadas de forma única por Reginaldo, Conforme ele, “medicina” refere-se à própria ciência médica, enquanto a palavra “chinesa” não representa apenas a China, mas também o significado de equilíbrio e harmonia, fazendo referência a yin e yang do corpo humano, principais conceitos seguidos pela medicina chinesa.
Ele também mencionou que os quatro clássicos da medicina tradicional chinesa, “Os Príncipios da Medicina Interna do Imperador Amarelo”, “Shanghan Lun” , “Nan Jing” e “Shennong Ben Cao Jing” estão profundamente enraizados na história e renderam resultados frutíferos. Além deles, há cinco ramos clínicos que são muito familiares ao público geral que prática a medicina chinesa, são eles: acupuntura, matéria médica chinesa, dietoterapia, tuiná e qi gong.
A História da Medicina Chinesa no Brasil: a acupuntura cria raízes e difunde-se
Em relação à diferença principal entre os praticantes brasileiros de MTC e os chineses locais, o doutor Reginaldo afirma que para os chineses a MTC é mais comumente conhecida como matéria médica; já para a maioria dos brasileiros ela está mais vinculada à área da acunputura. Segundo ele, a relação do Brasil com a medicina chinesa começou em 1810, quando os primeiros imigrantes chineses mudaram-se para o Rio de Janeiro e trouxeram algumas teorias básicas da medicina chinesa e da acupuntura.
Mas foi somente em 1908 que a medicina chinesa apareceu mais sistematicamente no país. Naquela época, com a chegada de um número grande de imigrantes japoneses que tinham tais práticas incluídas em sua cultura, o conhecimento da acupuntura chinesa e da moxabustão começou a ser disseminado por todos os locais do Brasil em que estes imigrantes assentaram-se.
Entretanto, o desenvolvimento da medicina chinesa ainda era limitado pelo fato de que ela estava apenas dispersa em comunidades de imigrantes. Só em 1958 foi aberto um novo capítulo no desenvolvimento da medicina chinesa no Brasil. Freidrich Spaeth, um fisioterapeuta da Alemanha, veio ao Brasil para praticar acupuntura e ensiná-la em São Paulo e no Rio de Janeiro, o que resultou em uma real difusão da área para todo o país. Assim, a Associação Brasileira de Acupuntura foi fundada em 1972, por iniciativa do próprio Spaeth, e ainda hoje atua no campo da medicina chinesa no Brasil.
A Medicina Tradicional Chinesa no Brasil: um futuro promissor
O Sindicato dos Acupunturistas do Estado de São Paulo (SATOSP) estima que existem atualmente 30.000 acupunturistas somente no estado. E segundo a Federação de Acupunturistas do Brasil (FENAB), há aproximadamente 250.000 pessoas no Brasil que estão praticando ou têm experiência no campo da acupuntura. Ao mesmo tempo, Reginaldo também aponta algumas dificuldades encontradas. “Em primeiro lugar, no Brasil, não existe uma lista oficial de registro de acupunturistas, apenas uma estimativa aproximada do número de praticantes em todo o setor. Além disso, não há uma lista oficial de escolas ou instituições educacionais recomendadas, portanto os chamados acupunturistas têm diferentes graus de educação em medicina e acupuntura chinesas“, salienta.
Por iniciativa de Reginaldo, a Faculdade EBRAMEC, que já tem 21 anos, preencheu essa vaga e abriu o primeiro curso de Bacharelado em Medicina Tradicional Chinesa, autorizado pelo Estado brasileiro, e onde se ministra principalmente cursos de acupuntura, matéria médica chinesa e tuiná. Atualmente, há maior regulamentação para o exercício e ensino da medicina chinesa no Brasil. Isso foi possível com a certificação da acunputara pelo Conselho Brasileiro de Fisioterapia como parte do ramo profissional da fisioterapia em 1985. Da mesma forma, uma série de leis relevantes foram introduzidas que estabelecem padrões e currículos da indústria para o estudo da medicina chinesa. Para melhor padronizar o uso dos termos da MTC, a indústria também publicou o Padrão Chinês-Português para Termos Básicos da MTC.
Reginaldo acredita que na era pós-pandêmica, há mais potencial para o desenvolvimento da área, possibilitando aos brasileiros ter acesso a alternativas de cuidados com a saude. Ele pensa que através da cooperação Brasil-China e do intercâmbio de experiências e tecnologia entre os dois países, as conquistas da medicina chinesa em ambos os países podem ser frutíferas.
Duan Muxin
Jornalista do Diário Chinês para a América do Sul
Tradução: Pan Luodan, Diário Chinês para a América do Sul
Deixe seu comentário