
Estreou em junho a série documental “O caso Escola Base”. Dirigida por Paulo Henrique Fontenelle e produzida por Ariadne Mazzetti, a série é dividida em quatro capítulos, e foi exibida pelo Canal Brasil. Está disponível na plataforma de streaming Globoplay. A série lança mão do rigor jornalístico – entrevistas bem conduzidas, fatos e dados muito bem explanados – para resgatar o triste episódio de linchamento midiático que arruinou a vida de inocentes. Outro ponto forte da série é a sensibilidade.
Os acontecimentos são relembrados e os relatos das personagens são apresentados com muita serenidade. “O caso Escola Base” não utiliza a tragédia para se promover como produto. Não há espetacularização nem sensacionalismo. O que assegura coerência à obra. Afinal, “O caso Escola Base” trata justamente dos efeitos nefastos do jornalismo sensacionalista, sobretudo o policial, que marcava o contexto da época em que aconteceu o episódio.
Àquela altura, meados dos anos 1990, na televisão explodiam em audiência telejornais policialescos de final de tarde (“Aqui e Agora” à frente). Nas bancas de jornais, vendiam como água os impressos dos quais, espremidos, saía sangue, como se dizia (“Notícias Populares” como maior símbolo). Foi nesse contexto que, em março de 1994, uma denúncia de violência sexual contra crianças tornou-se notícia sem apuração mais precisa dos fatos – pesou mais a busca por Ibope na televisão e por vendagem nas bancas de jornal.
O que começou tragicamente piorava a cada dia. Sem indício, muito menos prova alguma, os donos da Escola Base, um estabelecimento de educação infantil no bairro da Aclimação, em São Paulo, foram acusados e condenados pela opinião publicada. Repórteres, âncoras e comentaristas bradavam por punição numa onda de justiça com as próprias mãos muito típica da que vemos nas redes sociais nos dias de hoje.
Foram raras as vozes que mantiveram o pé atrás e, à medida que os dias ia passando, começaram a remar contra a maré. Luís Nassif foi um deles. É um dos entrevistados da série, e recentemente em seu programa diário na internet (Jornal GGN) conversou com o diretor, Paulo Henrique Fontenelle.
Na série, Nassif lamenta que, embora veículos de comunicação tenham sido condenados, e profissionais tenham feito mea-culpa, o jornalismo brasileiro parece não ter aprendido com o caso Escola Base. Anos depois, foram vários os episódios em que a retórica condenatória e justicialista se repetiu. O mais recente e representativo, o noticiário sobre a Lava Jato. Nassif tem razão.
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