
Para o assessor especial de Lula para assuntos internacionais, a provável expansão do BRICS revela que o Ocidente não pode mais ditar os rumos da geopolítica mundial. Saiba como foi a manhã das autoridades brasileiras na 15ª Cúpula do BRICS e como parlamentares sul-africanos recebem a agenda proposta pelo presidente Lula. Nesta terça-feira, 22 de agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu início à sua agenda na 15ª Cúpula do BRICS em reunião com autoridades do partido governista sul-africano Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês) em Joanesburgo.
A reunião foi conduzida por Gwede Mantashe, secretário nacional do ANC, partido do atual presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, que também preside as atividades do BRICS no ano de 2023. O presidente está acompanhado dos ministros Mauro Vieira, das Relações Exteriores, e Fernando Haddad, da Fazenda, do embaixador brasileiro na África do Sul, Benedicto Fonseca, além do assessor especial para assuntos internacionais Celso Amorim.
Em breve conversa com os jornalistas, o veterano diplomata brasileiro comentou a adesão de novos países ao BRICS, que poderá ser concretizada na declaração final do grupo, a ser publicada nesta quinta-feira, 24 de agosto. “O BRICS faz parte de uma nova organização de diálogo que não pode ser ignorada. […] Eu acho que todo interesse que existe para a expansão dos BRICS demonstra que o grupo é uma nova força no mundo, que não pode mais ser visto como ditado pelo G7“, disse Amorim aos jornalistas presentes em Joanesburgo.
O assessor de Lula lembrou que essa realidade foi reconhecida inclusive por autoridades ocidentais, como o ex-presidente dos EUA Barack Obama, que reconheceu que organizações mais representativas, como o G20, haviam substituído o G7, conhecido como “clube dos países ricos”. “Temos uma tendência de retração, considerando a expansão de rivalidade EUA-China e a própria guerra da Ucrânia, mas essa reunião dos BRICS com esse grande interesse pela expansão entre os países em desenvolvimento demonstra que o mundo é mais complexo do que isso“, concluiu Amorim.
A reunião contou com altas autoridades do ANC, incluindo o vice-presidente da República da África do Sul, Paul Mashatile, e o secretário-geral do partido, Fikile Mbalula. “Queremos estreitar a nossa relação com as nossas contrapartes brasileiras. Lula tem uma posição privilegiada no Brasil para seguir com a luta contra o imperialismo […] em particular do governo norte-americano, que continua desestabilizando países ao redor do globo“, disse o secretário-geral do Partido Comunista Sul-Africano, Solly Mapaila, após a reunião.
Segundo o parlamentar sul-africano, o presidente Lula informou que a ex-presidente Dilma Rousseff foi inocentada de processos no STF, “após as forças imperialistas terem a retirado do poder, por se opor a programas voltados ao combate à pobreza“. Após a reunião com líderes do ANC, o presidente Lula deve comparecer ao Diálogo do Fórum Empresarial do BRICS, que conta com uma delegação composta por cerca de 26 representantes brasileiros.
Além disso, o presidente Lula se reunirá com o ex-presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, a portas fechadas, no início da tarde desta terça-feira, 22 agosto. A Presidência da República informou que estuda cerca de 22 pedidos de reuniões bilaterais com Lula, feitos por chefes de Estado, governo e demais representantes presentes na África do Sul. O presidente Lula participa da 15ª Cúpula do BRICS, em Joanesburgo, África do Sul.
O brasileiro está acompanhado da presidente do Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS, Dilma Rousseff, dos ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores), Fernando Haddad (Fazenda), Anielle Francisco da Silva (Igualdade Racial) e do assessor especial Celso Amorim. Após o término da Cúpula, no dia 24 de agosto, Lula deverá cumprir agenda oficial na capital de Angola, Luanda.
Fonte: Texto publicado originalmente pela Sputnik Brasil.
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Banco do BRICS aposta nas moedas nacionais para reduzir dependência do dólar dos EUA, diz Dilma
O Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) criado pelos países do BRICS pretende começar a conceder empréstimos nas moedas sul-africana e brasileira como parte de um plano para reduzir a dependência do dólar dos EUA e promover um sistema financeiro internacional mais multipolar, disse Dilma Rousseff, a presidente do banco. A ex-presidente brasileira disse em entrevista ao Financial Times que o NBD estava considerando pedidos de adesão de cerca de 15 países e provavelmente aprovaria a admissão de quatro ou cinco. Ela não nomeou os países, mas notou que uma prioridade para o NBD era diversificar sua representação geográfica.

“Nosso objetivo é chegar a cerca de 30% de tudo que emprestamos […] em moeda local“, disse ela ao jornal. Rousseff acrescentou que o NBD prevê conceder empréstimos no valor entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões (R$ 39,7 bilhões – R$ 49,7 bilhões) neste ano. A presidente do banco observou ainda que a instituição financeira vai emitir dívida em rand – moeda sul-africana – para empréstimos na África do Sul e faria o mesmo no Brasil com o real. A expansão dos empréstimos em moeda local suporta um objetivo mais amplo acordado pelos países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) de incentivar o uso de alternativas ao dólar estadunidense em transações comerciais e financeiras.
Fonte: Texto publicado originalmente pela Sputnik Brasil.
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Contrário do Ocidente, BRICS não vê arena mundial como jogo de soma zero, diz especialista
O BRICS tem se mostrado ao longo dos anos como uma fonte de oportunidades e de crescimento cada vez maior para os países em desenvolvimento pelo mundo afora, em meio às atuais instituições mundiais altamente centradas nos países ocidentais. Anuradha Chenoy, professora aposentada e reitora da Escola de Estudos Internacionais da Universidade Jawaharlal Nehru, em Nova Deli, Índia, discutiu os últimos acontecimentos com a Sputnik.
Sobre a questão se o BRICS deve ou não ser considerado um “contrapeso para o Ocidente”, ela respondeu negativamente. “O BRICS não acredita que a geopolítica seja um jogo de soma zero em que o desenvolvimento econômico ou a segurança de alguns Estados se torne uma ameaça para outros. O BRICS não se posiciona contra o Ocidente, mas, ao contrário, apoia um sistema multipolar que incentive a coexistência de diferentes ideias, sistemas e instituições. É o Ocidente que tem alianças militares exclusivas que desenvolvem narrativas contra qualquer ‘outro’ que eles entendam como uma ameaça. O BRICS não tem essa agenda“.
Segundo ela, o agrupamento defende “a não intervenção e a oposição a medidas econômicas coercivas” para facilitar o comércio e o desenvolvimento, e garantir a segurança, que diz serem princípio fundamentais apoiados por grande parte do Sul Global. O BRICS também não é nem pretende ser um bloco militar, tendo a aspiração de “segurança coletiva” no novo mundo multipolar, para assegurar os fatores já referidos.

“O Ocidente claramente se opõe a vários desses princípios“, sublinhou Chenoy. A acadêmica mencionou que o BRICS segue ganhando popularidade entre muitos países, e a ideia de “desdolarização” tem mais a ver com a promoção dos interesses nacionais de seus países do que com uma tentativa de oposição aos EUA.
“O BRICS incentiva o comércio em moedas nacionais e a criação de uma reserva contingente em suas moedas nacionais. O BRICS criou o Novo Banco de Desenvolvimento que concede empréstimos em moedas nacionais em uma determinada porcentagem. Esse é um pequeno passo. Muitos países do BRICS estão fazendo comércio entre si e com outros países fora do BRICS em suas moedas nacionais. Essa tendência está aumentando“, sublinhou a especialista. “Mas, à medida que mais e mais comércio ocorrer fora da zona do dólar, as moedas alternativas aumentarão, pois o dólar pode perder o tipo de domínio que tem atualmente. Um sistema monetário global de várias moedas combina com o sistema de multipolaridade“, concluiu.
Fonte: Texto publicado originalmente pela Sputnik Brasil.
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