
A última investigação sobre o ataque cibernético de 2022 à Universidade Politécnica do Noroeste da China (NPU, em inglês) apontou inequivocamente pessoal da Agência de Segurança Nacional (NSA, em inglês) dos EUA como o culpado óbvio. A descoberta não surpreendeu muitos, dada a notoriedade de Washington pela espionagem cibernética inescrupulosa em todo o mundo. Apesar de seu lamentável histórico de espionagem, Washington está empenhado em lançar uma difamação sobre a China no domínio dos ataques cibernéticos. O chefe do FBI, Chris Wray, afirmou na segunda-feira: “A China já tem um programa de hackers maior do que qualquer outra grande nação combinada”.
Tal declaração, no entanto, não é válida, mas expõe a estratégia habitual de Washington para distorcer a verdade. Do PRISM ao Equation Group e ECHELON, à vigilância 24 horas por dia, 7 dias por semana, de celulares e computadores em todo o mundo, os EUA destacam-se como um verdadeiro Estado super hacker com uma mentalidade hegemônica obstinada. “Historicamente, a nação líder em termos de investimento e de fontes e métodos globais tem sido os Estados Unidos”, escreveu Anthony Wells, a única pessoa viva que trabalhou para a Inteligência Britânica como cidadão britânico e para a Inteligência dos EUA como cidadão dos EUA, em seu livro notável “Entre Cinco Olhos: 50 Anos de Compartilhamento de Inteligência”.
Espionagem não verificada
Em 2022, a universidade chinesa foi vítima de um ataque cibernético, que envolveu 41 armas cibernéticas especializadas que foram utilizadas para lançar operações de roubo cibernético mais de 1.000 vezes contra a universidade para roubar os seus principais dados técnicos. O incidente é apenas a ponta do iceberg que a China sofreu como principal alvo dos ataques cibernéticos dos EUA. Só em 2020, conforme revelado em um relatório do Centro Nacional de Resposta a Emergências contra Vírus Informáticos da China, os Estados Unidos foram responsáveis por 53,1% dos 42 milhões de ataques de malware estrangeiros detectados na China.
Para além dos ataques cibernéticos, Washington também tem aproveitado há muito tempo suas capacidades cibernéticas para vigilância em massa, o que remonta à monitoramento e censura em tempo de guerra das comunicações internacionais de e para os Estados Unidos, ou daquelas que passam por seu território. A espionagem global de Washington tem sido bem documentada, tendo como alvo não apenas rivais ou inimigos designados, mas também seus aliados.
Em abril, uma nova saga de vazamentos de documentos de inteligência dos EUA relacionados a Israel, Ucrânia e Coreia do Sul, e até mesmo sobre escutas telefônicas ou interceptações envolvendo discussões de funcionários da ONU sobre assuntos como o acordo de transporte de alimentos no Mar Negro, entre outros, surgiu em plataformas como X e Telegram. Um dos documentos vazados é um memorando sobre discussões entre autoridades sul-coreanas sobre o fornecimento de armas à Ucrânia sob pressão dos EUA. Isto levou alguns legisladores sul-coreanos a levantarem preocupações de que tais ações possam infringir a soberania do país.
Eles estão apelando a uma investigação transparente para apurar os fatos e a um compromisso dos Estados Unidos para evitar que tais incidentes voltem a acontecer. Para Seul, ser espionado pelos Estados Unidos tem sido a norma. Há uma década, a embaixada sul-coreana nos Estados Unidos, juntamente com as missões da UE e 37 outras missões diplomáticas, foram alvo da NSA, o que levou o governo sul-coreano a procurar verificação através dos canais diplomáticos.
À primeira vista, após a revelação do Programa PRISM de 2013, as atividades de espionagem dos EUA vieram à luz não só na Coreia do Sul, mas em todo o mundo. De acordo com dados de um relatório publicado em 2014 pela revista alemã Der Spiegel, a NSA bisbilhotou cerca de 122 líderes estrangeiros em 2009 e os listou alfabeticamente por seus primeiros nomes, causando um frenesim de choque e fúria em todo o mundo. O jornalista Glenn Greenwald também expôs em seu livro “No Place to Hide” que uma única unidade da NSA coletou mais de 97 bilhões de e-mails e 124 bilhões de ligações telefônicas de todo o mundo em apenas 30 dias em 2013, com 500 milhões de dados da Alemanha, 2,3 bilhões do Brasil e 13,5 bilhões da Índia.
“Qualquer refúgio contra a vigilância, qualquer zona de privacidade efetiva, tinha de ser neutralizada”, escreveu o jornalista Barton Gellman, vencedor do Prêmio Pulitzer, em seu livro “Black Mirror”, que é o relato do autor sobre suas interacções com Edward Snowden. O livro de Gellman apresenta um retrato arrepiante da operação de vigilância dominada pelos EUA no século XXI.
Segurança global em perigo
Ao longo dos anos, a espionagem cibernética dos EUA tem sido repetidamente trazida à luz, suscitando grave preocupação internacional. “Os ataques cibernéticos, juntamente com as sanções econômicas, as atividades terroristas, bem como a guerra psicológica e as ações militares, estão entre as manobras táticas dos EUA para interferir com outros países e alcançar seus próprios objetivos políticos“, observou o analista político iraniano Raza Qale’noei em um editorial.
Em 2014, face à pressão dos aliados, o então presidente dos EUA, Barack Obama, prometeu que Washington não rastrearia as comunicações dos “chefes de Estado e de governo de nossos amigos íntimos e aliados… a menos que exista um propósito convincente de segurança nacional“. No entanto, conforme observado por um artigo divulgado pelo jornal estadunidense The Washington Post, a última parte da declaração, que inclui a frase “a menos que necessário”, proporcionou às agências de inteligência dos EUA “bastante espaço de manobra”.
O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, que está detido na prisão de Belmarsh, em Londres, há anos, enquanto se esforça para frustrar a tentativa dos EUA de extraditá-lo para enfrentar acusações – inclusive sob a Lei de Espionagem, disse: “não espere que uma superpotência de vigilância global aja com honra ou respeito. Só existe uma regra: não existem regras”. “O apetite insaciável pelo domínio global é a razão pela qual Washington tem estado envolvido na vigilância de outros países“, disse Evans Daka, cientista político e professor do Departamento de Estudos Governamentais e de Gestão da Universidade da Zâmbia.
Lu Chuanying, secretário-geral do Centro de Pesquisa sobre Governança Internacional do Ciberespaço e Diretor Adjunto do Instituto de Políticas Públicas e Estudos de Inovação, compartilhou uma visão semelhante com a Xinhua, observando que a vigilância extensiva pode aumentar a vantagem estratégica dos EUA na tomada de decisões, permitindo a interferência em outros países, e até mesmo exercendo controle sobre essas nações em determinadas situações.
Em maio de 2010, de acordo com reportagens do jornal New York Times, quando o Conselho de Segurança da ONU estava considerando se deveria ou não aplicar sanções contra o Irã devido a seu programa nuclear, Susan Rice, então embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, pediu ajuda à NSA “para que ela pudesse desenvolver uma estratégia“. Além disso, a vigilância de Washington também está sendo utilizada para obter ganhos econômicos. Duncan Campbell, um renomado especialista em inteligência e jornalista britânico, revelou em sua reportagem que, durante a década de 1990, as redes de vigilância dos EUA foram alegadamente utilizadas para garantir vantagens econômicas para empresas dos EUA.
Segundo Campbell, em 1994, a NSA compartilhou informações relevantes com um concorrente estadunidense do consórcio europeu Airbus, ajudando-o a garantir um contrato de US$ 6 bilhões com a Arábia Saudita em vez da Airbus. Outro caso levantado por Campbell sugere que a empresa norte-americana Raytheon usou a inteligência da NSA para ganhar um contrato de US$ 1,4 bilhão para fornecimento de sistemas de radar ao Brasil, derrotando a francesa Thomson-CSF.
Entretanto, os Estados Unidos têm trabalhado para militarizar o ciberespaço, desenvolver capacidades cibernéticas ofensivas e criar plataformas sistemáticas de ataques cibernéticos. Em 2017, o ciberespaço foi oficialmente listado juntamente com o mar, a terra, o ar e o espaço como o “quinto domínio” das forças armadas dos EUA. “A militarização deste tipo vai exacerbar o risco de conflito militar direto e pode levar a consequências imprevisíveis“, observou Andrei Krutskikh, antigo diretor do Departamento de Segurança da Informação Internacional do Ministério das Relações Exteriores da Rússia.
Fontes: Copyright Xinhua. Proibida a reprodução.
Links diretos: http://portuguese.xinhuanet.com/20230921/4abf54361e994667881e739dc8281d07/c.html
Deixe seu comentário