“Retratos Fantasmas” se passa no Recife. Mas é sobre toda cidade brasileira

Crédito: Divulgação.

“Retratos Fantasmas”, de Kléber Mendonça Filho, é a obra que a Academia Brasileira de Cinema e Artes Visuais indicou para representar o Brasil na disputa por uma vaga ao Oscar de melhor filme internacional, em 2024. Lançado em agosto último, o documentário aborda o desaparecimento dos cinemas de rua. Os casos retratados são unicamente os do Recife, e sob a ótica exclusiva do autor. O que de forma alguma torna a obra regionalista ou individualista. Pelo contrário.

O enredo é universal. O ponto de vista da narrativa, embora profundamente subjetivo e intimista, é amplo, plural. “Retratos Fantasmas” se passa no Recife. Mas a realidade ali apresentada é comum a qualquer cidade brasileira. Do vilarejo mais afastado às grandes metrópoles do país, via municípios de médio porte, todos esses lugares assistiram nas últimas décadas ao sucateamento e à decadência de patrimônios, como as salas de exibição de rua.

Comum também a todos esses lugares são as razões que levaram a essa destruição, ainda que cada localidade tenha suas circunstâncias próprias. Dois desses motivos saltam aos olhos: a especulação imobiliária, que passa a boiada sobre nossa história arquitetônica e cultural, e o neoliberalismo, que impõe concentrações de mercado e novas formas globais padronizadas de consumo e entretenimento.

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Mas tanto a especulação imobiliária como o poder econômico neoliberal só obtêm êxitos porque temos classes dominantes – as que têm a prerrogativa de tomadas de decisões – subservientes e neocolonizadas. Gente que, estando na Europa, diz-se encantada com construções e equipamentos protegidos, critica a “falta de memória” do brasileiro, contudo é boa parte dessa mesma gente que chama de mimi, de entrave ao progresso, qualquer tipo de movimento de resistência à ofensiva do capital sobre nossa cultura.

O fato de “Retratos Fantasmas” ser escolhido para representar o Brasil na disputa pelo Oscar dá uma visibilidade fundamental para o documentário. Que siga atraindo mais e mais público para as salas de exibição, porque certamente esse público, ao término, sai sensibilizado em torno do tema. É um adubo importante na luta pela preservação e difusão de nossas histórias. Agora é torcer para que a Academia do Oscar aprove “Retratos Fantasmas”, resposta que deve sair em 21 de dezembro. Aí sim teremos o filme de Kléber Mendonça Filho definitivamente concorrendo ao prêmio, o que será para lá de merecido. Mais informações sobre o filme, no site da Vitrine Filmes.

 

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por Anders Noren

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