Mostra Mosfilm de Cinema Soviético e Russo chega a sua nona edição

Crédito: Divulgação.

Nesta próxima quinta-feira, 5 de outubro, a Cinemateca Brasileira, às 19h30, localizada na cidade de São Paulo, receberá a 9ª Mostra Mosfilm de Cinema Soviético e Russo. Ao longo de duas semanas, serão exibidos 14 longas e um média-metragem de diferentes gêneros de uma das mais importantes cinematografias do mundo. Dos 15 filmes da programação deste ano, 6 foram recentemente restaurados, e todas as exibições serão no formato DCP.

A Mostra é uma realização do Centro Popular de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (CPC-UMES), em parceria com o Estúdio Mosfilm, a Cinemateca Brasileira e a Embaixada da Rússia no Brasil. O evento tem apoio Agência de Assuntos da Comunidade dos Estados Independentes da Federação da Rússia (Rossotrudnichestvo), Sputnik Cultural e Associação Cultural Grupo Volga de Folclore Russo. Confirma a programação completa no site da 9ª Mostra Mosfilm de Cinema Soviético e Russo (clique aqui).

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Destaques da Programação

Especial América Latina

Nas décadas de 1960 e 1970 foram produzidos no Estúdio Mosfilm longas que retrataram as atuações das ditaduras que assolaram o continente no período, e das resistências revolucionárias que as combateram. Fazem parte da programação especial três filmes: o aclamado “Eu Sou Cuba” (1964), de Mikhail Kalatozov; “Essa Doce Palavra Chamada Liberdade” (1972), de Vitautas Zalakevicius, e “Noite sobre o Chile” (1977), de Sebastian Alarcón e Aleksandr Kosarev, filme que recria os trágicos acontecimentos ocorridos no Chile no outono de 1973, após o golpe fascista de Pinochet, que derrubou o regime democrático constitucional do país e seu presidente, Salvador Allende.

Leonid Gaidai – 100 anos

O diretor Leonid Gaidai também marcará presença na programação, homenageado no ano do centenário de seu nascimento com exibições do filme “Operação Y e Outras Aventuras de Shurik” (1965). Campeãs de bilheteria, as comédias de Gaidai venderam mais de 600 milhões de ingressos na URSS.

Viy – O Espírito do Mal, primeiro filme de terror da URSS

Aguardadíssimo pelos fãs do cinema de terror, “Viy – O Espírito do Mal” (1967), também estará na programação. Baseado no conto clássico homônimo do escritor Nikolai Gogol, e com efeitos especiais do mago Aleksandr Ptushko, o filme é obrigatório não só para os amantes do gênero, mas também para os apreciadores de histórias clássicas e do folclore russo.

“VIY – O espírito do mal”, o primeiro filme de terror feito pela URSS. Crédito: Divulgação.

Tarkovski em sessão dupla

O diretor Andrei Tarkovski marca presença na programação em sessão dupla, com o média metragem “O Rolo Compressor e o Violinista” (1960), seu trabalho de conclusão na graduação pelo Instituto Estatal de Cinema (VGIK), e o longa “O Espelho” (1975).

Completam a programação: “O Fim de São Petersburgo” (1927), de Vsevolod Pudovkin e Mikhail Doller; “Os Treze” (1936), de Mikhail Romm; o drama “Encontro no Elba” (1949), de Grigori Aleksandrov; “Nas Alturas” (1957), de Aleksandr Zarkhi; as comédias românticas “Estação de Trem Para Dois” (1982, Eldar Ryazanov) e “As Crianças de Segunda-Feira” (1997, Alla Surikova), e uma exibição especial do recém-lançado “Nuremberg” (2023, Nikolai Lebedev), que embora não tenha sido produzido pelo Mosfilm, foi selecionado para a Mostra.

Programação Especial

Exposição “As Matrioshkas”, por Nadia Ramirez Starikoff

Durante toda a Mostra estará em cartaz, no foyer da sala Grande Otelo, a exposição “As Matrioskhas”, de Nadia Ramirez Starikoff. Filha de mãe russa, a artista tem sua trajetória marcada pela migração. Inspiradas nas bonecas de origem russa, as obras retratam as origens ancestrais, a materialidade do corpo, as conexões com o outro, as relações com o ambiente e, por fim, a relação com o universo em sua mais infinita amplitude.

Oficinas de Matrioshkas, com Nadia Ramirez Starikoff

Nos sábados, dias 07 e 14/10, a artista Nadia Ramirez Starikoff conduzirá oficinas de pinturas de Matryoshkas, para adultos e crianças.
Quando: sábados, 07/10/23 e 14/10/23, às 17hs
Duração: 50 minutos

Pôsteres do Cinema Soviético e Russo

Durante toda a Mostra, também no foyer da sala Grande Otelo, apresentaremos a exposição “Pôsteres do Cinema Soviético e Russo”. Os pôsteres de filmes da cinematografia soviética e russa são verdadeiras obras de arte. A década de 1920, além de revelar diretores que viriam a ser alguns dos mais importantes de todos os tempos, como Serguey Eisenstein, apresentou uma geração de artistas gráficos inovadores, mas a produção desses pôsteres inigualáveis não parou por aí. A exposição terá 18 pôsteres de filmes de diversos artistas, gêneros e décadas.

A Língua da Revolução – Roda de alfabetização com Matheus Gusev

Nos sábados, dias 07 e 14/10, o professor Matheus Gusev, do Instituto Soyuz, promove uma roda de alfabetização com noções básicas da língua russa. Fundado em 2021, o Instituto Soyuz tem como objetivo levar conteúdo linguístico gratuito e o ensino de idiomas a preços populares para o Brasil e o mundo. Gusev é formado pelo Clube de Cultura Russa de São Paulo, e certificado como proficiente em língua russa pela Universidade Estatal de São Petersburgo.
Quando: sábados, 07/10/23 e 14/10/23, às 17hs
Duração: 50 minutos

Comidas, bebidas e artesanato típico do Leste Europeu

Um pedacinho da tradicional Feira do Leste Europeu estará na Cinemateca nos sábados 07/10 e 14/10, com barracas de comidas, bebidas e artesanato típicos da região. A Feira do Leste Europeu acontece mensalmente na Vila Zelina, bairro que concentra o maior número de imigrantes de países do Leste Europeu em São Paulo.
Quando: sábados, 07/10/23 e 14/10/23, das 13hs às 21hs

“Khitrovka. O Signo dos Quatro” abre a 9ª Mostra Mosfilm de Cinema Soviético e Russo nesta quinta, dia 5

“Khitrovka. O Signo dos Quatro”, abrirá a 9ª Edição da Mostra. Crédito: Divulgação.

Inédito no Brasil, lançamento do diretor Karen Shakhnazarov liderou as bilheterias da Rússia este ano. Programação da Mostra inclui ainda a homenagem à América Latina, homenagem a Leonid Gayday e sessão dupla de Tarkovsky

A tradicional mostra de cinema apresentará em sua abertura mais um filme inédito para o público brasileiro: “Khitrovka. O Signo dos Quatro”, do diretor Karen Shakhnazarov. O filme, que estreou em maio em mais de 1.800 salas de cinema da Rússia, é baseado em um evento histórico real.

Sinopse: Em 1902, o Teatro de Arte de Moscou iniciou a produção da peça “Ralé”, de Maksim Gorki. Os diretores Vladimir Nemirovitch-Danchenko e Konstantin Stanislavski pedem ao famoso escritor e jornalista Vladimir Giliarovski, que conhecia os submundos de Khitrovka, em Moscou, como a palma de sua mão, que leve a trupe do teatro a um passeio no local. Mas os visitantes acabam em meio à investigação do assassinato de um misterioso residente dali.

Em entrevista ao jornal Hora do Povo, Igor Oliveira, coordenador comercial do CPC-UMES Filmes, que é responsável pela distribuição dos filmes do estúdio russo no Brasil, falou sobre a nova edição da Mostra Mosfilm. Ele destacou o papel de Karen Shakhnazarov no cinema. “É um diretor extraordinário, com uma visão muito peculiar, muito profunda de cinema e também com um trabalho, passando por vários gêneros”, disse Igor. O coordenador do CPC-UMES Filmes também falou sobre a programação especial desta Mostra, com a homenagem à América Latina e o centenário de um dos mais populares diretores soviéticos: Leonid Gaidai.

Hora do Povo: Chegamos à 9 ª edição da Mostra Mosfilm e ela tem se mostrado, ano a ano, um meio fundamental de divulgação da cinematografia soviética e russa no Brasil. Como o CPC-Umes Filmes enxerga essa trajetória?

Igor Oliveira: Nós enxergamos como uma trajetória de muito sucesso. É legal a gente lembrar que a primeira Mostra, ela tinha aí uma intenção de ser uma mostra comemorativa dos 90 anos do Mosfilm. E logo na primeira edição, com a repercussão positiva, decidimos que dali para frente ia ser todo ano e, desde então, a trajetória é de muito sucesso. Ano após ano, o público foi se estabelecendo o público.

É muito importante que nós sejamos um projeto dentro da UMES, porque nós estamos trabalhando com a divulgação do cinema soviético e russo para um público jovem que, de outra forma é bombardeado por principalmente um cinema hegemônico estadunidense que não fossem iniciativas como a nossa, não teria sequer acesso a um cinema tão importante como o cinema russo. Percebemos como a Mostra Mosfilm está estabelecida no calendário de mostras da cidade de São Paulo, então para a gente é uma felicidade muito grande e estamos com certeza preparando uma festa muito bonita para os 10 anos, no o ano que vem.

Igor Oliveira, coordenador comercial do CPC-UMES Filmes. Crédito: Reprodução/Scream&Yell.

Sobre o filme de abertura desta edição, “Khitrovka. O Signo dos Quatro”, porque a escolha deste filme?

Olha sobre a escolha do Khitrovka, era uma escolha quase que natural. A medida em que temos apresentado a filmografia do Karen Shakhnazarov. Em cada mostra praticamente a gente teve um filme dele. Shakhnazarov é um diretor extraordinário, com uma visão muito peculiar, muito profunda de cinema e também com um trabalho, passando por vários gêneros, além de ser também o diretor-geral do Mosfilm. Ele é o grande responsável pela reconstrução do Mosfilm após o fim da União Soviética

O diretor tinha um lançamento recente, o filme saiu em maio desse ano lá na Rússia e foi um sucesso. Liderou pré-vendas de ingressos, foi um baita sucesso lá no lançamento. Nós já pensávamos nesse filme, desde que ele começou a ser divulgado. O interessante é que ele mesmo fala que tinha vontade de fazer um filme diferente de tudo que ele já fez. Um filme de aventura e baseado num escritor que ele gosta muito, o Conan Doyle. O “Signo dos Quatro” é exatamente o nome de um romance do Conan Doyle, autor também das histórias do Sherlock Holmes.

Ele juntou a atmosfera detetivesca do Conan Doyle com um personagem real, chamado Vladimir Giliarovski, que era um escritor, um repórter que conhecia profundamente os subúrbios, a vida das pessoas mais pobres de Moscou, na época da virada do século XIX pro XX. E outros personagens reais que estão no filme que um deles é o protagonista que é o Konstantin Stanislavski, ele e o Vladimir Danchenko que eram diretores do Teatro de Arte de Moscou, eles estariam procurando inspiração pra uma peça, que aqui no Brasil ficou conhecida e traduzida como “Ralé”.

O próprio Stanislavski atua na peça e ele está, ali no início do filme, angustiado com o fato de que não estar conseguindo colocar no personagem a real sensação daquele povo pobre, que mora no subúrbio, nos cortiços… Aí ele vai atrás do Giliarovski para buscar uma inspiração e o Giliarovski leva o Stanislavski e a trupe do teatro, isso aconteceu mesmo, um acontecimento real, pra uma excursão nesse distrito de Khitrovka que é onde morava a maioria das pessoas pobres dos subúrbios.

O que vem depois já é a licença poética do Shakhnazarov. Eles dois, o Giliarovski e Stanilavski, dão de cara com o assassinato de um morador notório lá da região e nisso começa a história. Eu não vou contar mais porque o pessoal vai ver lá na Mostra. Um spoilerzinho: além das exibições do “Khitrovka” na Mostra, nós vamos lançar o filme ano que vem em circuito comercial no Brasil.

Neste ano a Mostra apresenta ainda um especial sobre a América Latina, com destaque para obras impactantes como o clássico “Soy Cuba”, traduzido para o português como “Eu sou Cuba” e “Noite Sobre o Chile”, que aborda o golpe que derrubou o governo popular de Allende… Como se dá essa ligação entre o cinema soviético e o cinema da América Latina?

Bom, pra falar um pouquinho dessa programação especial da América Latina, não dava pra não buscar um pouquinho de inspiração com a Susana Lischinski, que é da nossa curadoria, Ela que teve a ideia de montar essa programação da América Latina. Nós já tínhamos licenciado há um tempo o “Eu sou Cuba”, do Mikhail Kalatozov e a Susana fez uma pesquisa e buscou os outros dois filmes sendo “Essa Doce Palavra Chamada Liberdade”, de Vitautas Zalakevicius e “Noite sobre o Chile”, de Sebastian Alarcón e Aleksandr Kosarev.

“Eu sou Cuba”, produzido por cineastas cubanos e soviéticos é um dos destaques da programação da Mostra Mosfilm. Crédito: Divulgação.

Eu citar aqui um trecho que ela escreveu para mostrar uma linha de raciocínio bem objetiva sobre a trajetória do Mosfilm e, como que nos anos 60 e 70, ele faz essa aproximação com a América Latina. Lembrando que a história do Mosfilm começa num momento de reconstrução da Nação, então o estúdio nasce junto com a União Soviética. Depois nos anos 30 e 40, tem a mobilização toda de trabalhadores, intelectuais e cientistas contra o fascismo que aí vai culminar na Segunda Guerra Mundial e, em seguida nos anos 60 e 70 a União Soviética acolheu muitos dos artistas e intelectuais da América Latina, que estavam sendo perseguidos pelas ditaduras.

O próprio Sebastian Alarcón que é o diretor do “Noite sobre o Chile” morou muito tempo na União Soviética, trabalhou dentro do Mosfilm, então tem uma afinidade de ideias que acaba resultando numa contribuição cultural. Acho que este texto que a Susana escreveu elucida bem como aconteceu esta contribuição:

“O Estúdio Mosfilm foi formado no processo de construção de uma nação soberana e justa e depois, nas décadas de 30 e 40, expressou a mobilização de milhões de trabalhadores, intelectuais, cientistas contra o fascismo. E foi uma luta vitoriosa que marcou a arte soviética, particularmente o cinema.

Nas décadas de 60 e 70 do século passado o nosso continente foi assolado por ditaduras que provocaram a saída de milhares de pessoas ameaçadas de prisão e assassinato.  A URSS na época acolheu muitos artistas, particularmente Sebastián Alarcón que com todo o apoio do Estúdio Mosfilm dirigiu ‘Noite sobre o Chile’, que recria os trágicos acontecimentos ocorridos no país em 1973, após o golpe fascista de Pinochet, que derrubou o regime democrático constitucional do país e seu presidente, Salvador Allende.

‘Essa Doce Palavra Chamada Liberdade’ é fruto de uma situação semelhante. As filmagens em locações ocorreram no Chile pouco antes do golpe militar propriamente dito.  A trama é baseada em acontecimentos reais na Venezuela: a fuga, em 1967, de três presos políticos comunistas –  Guillermo Ponde, Pompeyo Márquez e Teodoro Petkov, figuras importantes na história do país.

E na abordagem de momentos chaves na vitória contra o atraso no continente latino-americano se destaca ‘Eu Sou Cuba’ dirigida por Mikhail Kalatozov, protagonizada por atores cubanos e com música do conhecido Carlos Fariñas. O filme é composto por quatro histórias que mostram como os protestos contra a ilegalidade se fortaleceram  e a luta contra os opressores fez com que o país se tornasse a Ilha da Liberdade.

Quais outros filmes são destaque na 9ª Mostra Mosfilm?

E por fim vamos falar de outros destaques da Mostra. Teremos uma homenagem ao Leonid Gaidai, que é um diretor que no início do ano completariam 100 anos do nascimento dele. É um diretor já bem conhecido dos frequentadores da nossa Mostra, por ser um diretor de comédias, da segunda metade dos anos 60 e 70. Ele era um campeão de bilheterias e o pessoal aqui adora ele.

Nós já exibimos o “Duas Cadeiras”, “Braço de Diamante”, entre outros e vamos exibir o filme dele chamado “Operação Y e Outras Aventuras de Shurik”, onde um personagem recorrente de seus filmes, Shurik, vive situações inusitadas e aventuras. Os filmes dele são muito divertidos e esse ano comemoramos o seu centenário.

Também mudando completamente de gênero, a gente vai exibir um filme chamado “Viy – O Espírito do Mal”. Ele é considerado o primeiro filme de terror lançado na União Soviética, é um clássico, um cult absoluto pra quem curte o gênero. Ele é baseado num conto homônimo do Nikolai Gogol e o Aleksandr Ptushko, de quem a gente já exibiu alguns filmes, é responsável pelos efeitos especiais. O filme tem uma coisa de stop motion e principalmente nas figuras fantasiosas dos monstros do filme que é muito interessante.

Além da tradicional sessão do lado de fora, no deck da Cinemateca, naquele telão gigantesco, nós teremos três sessões esse ano, três sessões ao ar livre. Uma delas vai ser justamente do “Viy” e vai ser na sexta-feira 13. Então acho que vai ser bem bacana. É um filme muito cultuado pelos fãs do gênero e um filme muito interessante. Então vale a pena assistir também.

Outro destaque é uma sessão dupla do Tarkovski, que também vai ser exibido ao ar livre, em um dos dias. Nós já exibimos quase todos os filmes do Tarkovski, ficou faltando somente “O Espelho” entre os longas metragens. Nós faremos uma sessão dupla começando com um filme chamado “Rolo Compressor e o Violinista”, um média-metragem de cerca de 45 minutos, que é o trabalho de conclusão de curso dele na graduação do Instituto Estatal de Cinema. Então é uma sessão também muito aguardada.

Fonte: Texto da entrevista originalmente publicado no site do Jornal Hora do Povo.
Link direto: https://horadopovo.com.br/khitrovka-o-signo-dos-quatro-abre-a-9a-mostra-mosfilm-de-cinema-sovietico-e-russo-nesta-quinta-dia-5/

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por Anders Noren

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