“Public Affairs Office in the Sky”: a vida tem outros planos

Public Affairs Office in the Sky (空飛ぶ広報室) é uma série japonesa lançada em 2013, baseada no livro “Soratobu Kouhou”, por Hiro Arikawa (2012) e dirigida por Nobuhiro Doi, Daisuke Yamamuro, Ryosuke Fukuda. Conta a história de Rika Inaba (Yui Aragaki), a repórter de uma empresa de radiodifusão que cobre a Agência Nacional de Polícia, e o primeiro tenente Daisuke Sorai (Gou Ayano), piloto de caça da Força de Autodefesa do Japão.  Trata-se de uma produção em que é possível observar os diversos componentes que fazem de uma obra audiovisual uma ferramenta de Soft Power (poder suave).

Antes de entrarmos na análise propriamente dita é importante relembrarmos uma questão da geopolítica asiática atual: o Japão é um país, de certa forma, em termos políticos, isolado no continente. Isso ocorre em razão de sua política imperialista do passado e das atrocidades cometidas pelas forças armadas japonesas durante a Segunda Guerra Mundial, cujo governo deste país, recusa-se a admitir a autoria. Como a Alemanha no ocidente, qualquer movimento dos japoneses em torno de políticas que estimulem investimentos e expansionismo bélico levam diretamente a desconfianças e protestos dos vizinhos e, também, dos próprios cidadãos japoneses. Os militares parecem ser incumbidos de uma imagem dúbia: ao mesmo tempo que são heróis em situações de resgate, estamos falando de um país que sofre constantemente com terremotos, tsunamis e furacões, são também vistos como eternos possíveis fomentadores de futuros conflitos.

Nesta obra, vemos como são a dura vida destes aviadores, mas ao mesmo tempo podemos ter uma clara visão de Japão que almeja mostrar-se pacífico, com forças armadas amigas, como também progressistas, mesmo que, na realidade, o conservadorismo seja um fator cultural ainda bastante forte. Somado a isso, a série gira em torno de uma questão bastante humana e extremamente engenhosa do ponto de vista de Soft Power: além dos temas delicados que aborda como machismo e outros tipos de intolerância, a narrativa traz a mensagem de que mesmo quando o seu sonho é negado por circunstâncias trágicas que ocorrem de forma inesperadas, ou por falhas suas, há sempre outro caminho a ser traçado. Pois, há outros sonhos a serem descobertos, podendo a vida continuar o seu curso e ainda ser boa, feliz e rica de experiências que nos fazem evoluir como pessoas. Para tanto, é importante salientar de que o carinho e o apoio daqueles que nos rodeiam, sendo estas forças impulsionadoras deste começar de novo.

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Daisuke Sorai (Gou Ayano) e Rika Inaba (Yui Aragaki) personagens principais da série. Crédito: Divulgação.

Tanto Inaba, quanto Sorai têm seus sonhos profissionais destroçados por acontecimentos imprevisíveis, ou por suas atitudes e condutas imaturas. Ela queria ser repórter, mas seu senso de dever e paixão como repórter acabaram causando problemas a ela e às pessoas com quem trabalha. No início da série, Inaba é uma pessoa pouco sensível aos problemas humanos que existem ao seu redor.

Em um momento, ela exagera em seu profissionalismo e objetividade para conseguir as informações que lhe eram necessárias; e acaba entrando em confronto com uma fonte (pessoa que é entrevistada pelo repórter), sendo invasiva demais na vida deste, que tinha acabado de perder um ente querido, resultando em uma reação violenta do entrevistado a sua conduta pouco respeitosa. Desta forma, ela acaba sendo transferida para uma posição menos interessante aos seus olhos: deve trabalhar como diretora no programa de variedades noturno. Se não bastasse esta condição, recebe a tarefa de cobrir o dia a dia das Forças de Autodefesa do Japão.

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Enquanto isso, Sorai queria apenas ser um piloto de caça, um sonho que possuía desde criança. Quando isto está prestes a se tornar realidade, ele sofre um acidente, tendo de desistir deste objetivo. Sorai, claro, entra em desespero. É designado para o departamento de Relações Públicas da Força de Autodefesa. Ele se transforma em um indivíduo que nunca expressa seus sentimentos a ninguém, perdendo o desejo e o prazer em viver, recluso em seus pensamentos, em um estado claramente depressivo.

Contudo, ele tem sorte de ter um chefe sábio e humano Shoji Sagizaka (Kyohei Shibata), que pede para ele trabalhar em conjunto com Inaba, auxiliando-a e explicando a ela as particularidades daquele mundo, pouco acessível ao público em geral. Apesar das objeções de outros membros da equipe, que não acreditam que Sorai esteja em condições psicológicas para ter esta responsabilidade, a aposta do chefe no trabalho em conjunto desta dupla passa a ser a melhor coisa que irá ocorrer para ambos. Mesmo com os muitos conflitos que surgirão, Inaba e Sorai irão aprender um com o outro, tendo a chance de evoluir como pessoas em conjunto, descobrir o amor e, acima de tudo, poderão superar a dor e o sentimento amargo do fracasso.

 

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Ele vai encontrar, com a ajuda de Inaba, no departamento de relações públicas uma forma par voltar a “voar”. Promovendo a instituição em iniciativas como a de um programa onde uma celebridade pilota um dos principais aviões das Força Aérea de Autodefesa, sonho que Sorai não chegou a realizar. Inaba, por sua vez, tem a sua sensibilidade e percepção de mundo aprimorada com a ajuda de Sorai.

Em um capítulo, ela busca melhorar uma matéria sobre uma receita de macarrão. Sorai sabendo do prato em questão, fica curioso em experimentar e vai ao restaurante e acaba tomando conhecimento da história de vida que resultou na criação da receita. Este toque humano, foi o “ingrediente” que faltava para tornar uma reportagem de variedades como esta, tão banal, em algo mais interessantes ao telespectador. Inaba percebe, neste momento, sua falta de sensibilidade e chora no restaurante, sentada ao lado de Sorai, quando finalmente prova o macarrão pela primeira vez.

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Trata-se de uma série que não tem muitos efeitos especiais, nem cenas de ação incríveis. Tecnicamente é possível observar que foi gravada de forma muito simples, com movimentos e ângulos de câmera muito padrões. Contudo, isto não diminui o impacto da trama, pois ao longo dos onze episódios somos levados a um mundo muito parecido como o nosso, com conflitos humanos muito próximos aos que temos em nosso dia a dia. Ao mesmo tempo, também somos transportados a um mundo muito diferente, o da Força de Autodefesa do Japão. Isto faz da série uma rica fonte de informações que são apresentadas ao público, no intuito de revelar um pouco daquele trabalho, daquele estilo de vida, mas sem ser maçante.

As informações duras, por exemplo, sobre a estrutura e as funções que são nesta instituição desempenhadas estão incluídas em momentos chaves, tendo uma ótima coerência com os aspectos dramáticos da série. Fica-se sabendo, por exemplo, que o Japão, desde o fim da Segunda Guerra, em acordo assinado com os aliados, em especial os Estados Unidos, ficou proibido de ter uma Força Aérea propriamente dita. O que há é apenas uma força de autodefesa, que é acionada em caso de ataque ao seu território. É possível ainda compreender o importante papel que a Força Aérea de Autodefesa do Japão presta no auxílio à população durante os constantes desastres naturais.

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Também podemos ter uma pequena mostra dos diferentes temas, discussões e preocupações pelos quais passa a sociedade japonesa hoje. Em especial, temos um episódio dedicado às mulheres, quando Inaba deseja fazer uma matéria com Noriko Younoki (Miki Mizuno), a única piloto na equipe. Ao longo do relato, descobrimos que Yunoki foi parar nas Relações Públicas em decorrência dos problemas que encontrou com os seus subordinados, que, em razão dela ser mulher, não aceitavam suas ordens. Por esta e outras questões, Yunoki deixou sua feminilidade de lado, assumindo traços masculinos, desde o andar ao se expressar com os colegas, procurando ser aceita. Isso incomoda Hiromi Maki (Tsutomu Takahashi) que está interessado nela, e pede pra que ela retorne a ser feminina novamente.

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Rika Inaba (Yui Aragaki) e Noriko Younoki (Miki Mizuno). Crédito: Divulgação.

A questão da mulher que busca espaço em locais de trabalho dominados por homens também é representada pela própria Inaba, que abstrai a sua vida pessoal, para focar em sua carreira, numa clara referência à ideia de que as mulheres, diferente dos homens, não podem ter tudo. A competição entre Inaba e Yunoki, que não se gostam, gerando conflitos uma com a outra, criando obstáculos, também nos faz recordar da pouca colaboração entre as próprias mulheres, em mundo que já as exclui pelo seu gênero. Contudo, o desenvolvimento desta questão é realizado de forma bem interessante, pois Inaba e Yunoki aprendem a interagir uma com a outra, modificando suas respectivas realidades.

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Por este e outros motivos, Public Affairs Office in the Sky, é uma ótima dica para um fim de semana e é um daqueles trabalhos audiovisuais que permanece em nossas mentes por um bom tempo. Isso acontece porque a série transmite problemáticas cotidianas de forma sutil, profunda e, de uma certa forma, contribuindo para uma reflexão positiva. Além disso, promove uma imagem positiva e influente dos aviadores japoneses, tão marcados pela visão de monstros genocidas e kamikazes da Segunda Guerra. A série é um ótimo exemplo de Soft Power bem construído e eficaz, o que lhe falta é a chance de poder ser assistida por uma audiência maior, não apenas na Ásia.

Título: Public Affairs Office in the Sky
Título em romaji: Soratobu Kouhoushitsu
Título em japonês: 空飛ぶ広報室
País: Japão
Direção: Nobuhiro Doi, Daisuke Yamamuro, Ryosuke Fukuda
Roteiristas: Hiro Arikawa (romance), Akiko Nogi
Elenco: Yui Aragaki, Gou Ayano, Kyohei Shibata, Miki Mizuno, Tsutomu Takahashi, Jun Kaname, Tsuyoshi Muro, Joji Abe, Hiroyuki Ikeuchi, Katsuhisa Namase, Ren Kiriyama, Ai Okawa, Mana Mikura, Kenta Kiritani, Kiyohiko Shibukawa, Tomoya Maeno
Produção: Tokyo Broadcasting System (TBS)
Episódios: 11
Exibição: 14 de Abril – 23 de Junho, 2013
Idioma: Japonês
Legendas: Inglês em sites de dramas asiáticos

 

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por Anders Noren

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