
“Roma” (2018) de Alfonso Cuarón, é o filme mais belo e contundente que eu assisti em 2018, produzido pela Netflix. É um projeto muito pessoal do afamado diretor, que dirige, assina a fotografia e o roteiro. A obra é um resgate da memória de Cuarón, onde ele nos apresenta o México do anos 70 e sua democracia de fachada (cartazes do Partido Revolucionário Institucional (PRI) – que governou o país por mais de 70 anos aparecem em vários momentos do filme).
Através dos olhos de Cleo (Yalitza Aparicio, numa interpretação contida, minimalista e absolutamente tocante), somos introduzidos ao universo da alta classe média mexicana dos anos 70. Nada diferente dos nossos anos 1970. A mesma estrutura social que define abertamente privilegiados e a “ralé”, o mesmo comportamento alucinado, quase irresponsável, da classe média alienada (toda a sequência da fazenda lembra muito a “Regra do Jogo”, de Jean Renoir), o mesmo ambiente que exalava uma falsa normalidade, enquanto para além do asfalto, o país afundava na miséria e na violência…
É um filme pensado meticulosamente para nos fazer voltar no tempo: da linda fotografia em P&B, à câmera de Cuarón, que se desloca sempre à esquerda ou a direita do seu eixo, em planos precisos, quase meticulosos. Também é deslumbrante a reconstituição de época; Cuarón sabe construir ambientes elaborados e conduzir o espectador por eles como ninguém no cinema atual. Nesse sentido, o México conservado na memória do diretor é tão fantástico como o espaço que ele nos mostra em “Gravidade” (2014).
Pena, Pena, Pena que o filme foi produzido para ser exibido em TVs e telas de computador. Toda sua concepção é magicamente pensada para ser cinema, da melhor qualidade. Toda a beleza trágica da América Latina está nos olhos de Cleo. E com ela, o filme mais belo e poderoso de 2018. Salve Cuarón…
Título: Roma
País: México e EUA
Direção: Alfonso Cuarón
Roteirista: Alfonso Cuarón
Elenco: Yalitza Aparicio, Marina de Tavira, Diego Cortina Autrey e outros.
Duração: 2h15min
Lançamento: 21 de novembro de 2018 (EUA)
Idioma: espanhol, inglês, norueguês, japonês
Legendas: português
Deixe seu comentário