Legalidade, contemporâneo a Bacurau, e tão importante quanto

Crédito: Plano Aberto.

Duas obras do cinema brasileiro  estrearam no circuito quase que ao mesmo tempo e, além dessa coincidência, guardam outro ponto em comum: são filmes fundamentais para estes tempos tão conturbados da vida nacional. Estamos a falar de “Bacurau” (2019), de Kleber Mendonça Filho/Juliano Dornelles, e “Legalidade” (2019) que continuam em cartaz – ainda bem.

Bacurau, até pela repercussão internacional (melhor filme em Cannes), tem concentrado os holofotes – justíssimos, e nunca serão demais. Legalidade, por sua vez, também merece ser assistido, analisado, debatido, recomendado; ter luzes lançadas sobre. O filme, dirigido por Zeca Brito, que assina o roteiro com Leonardo Garcia, conta um dos momentos mais relevantes da história do Brasil. Mais que isso: cumpre o papel de registrar no cinema um dos episódios da vida brasileira mais escondidos, sonegados da opinião pública.

Crédito: Vempramassa.

É verdade que a mistura de um triângulo amoroso ficcional com o enredo que reproduz os fatos reais deixa o espectador meio confuso. A ligação muito próxima entre os personagens desse triângulo com as figuras que existiram de verdade, e, pior, o envolvimento desses personagens fictícios na trama central, causam ruído à representação daquele episódio.

Isso, porém, é o de menos em Legalidade. O que marca mesmo é a interpretação magistral de Leonel Brizola por Leonardo Machado, que infelizmente morreu em 2018, antes da estreia do filme na telona. O que envolve mesmo é a atuação de Cléo Pires como a astuta jornalista Cecília Ruiz. O que emociona também é Letícia Sabatella, como Blanca, a filha da jornalista, procurando informações sobre a mãe, 40 anos depois. Impressionam ainda os detalhes de cenário, dos objetos de cena, a colorização e a textura das imagens, tudo finalizado com muito capricho. A fotografia, outro primor, contribui para nos aproximar daqueles fatos, daquele início dos anos 1960.

Crédito: Adorocinema.

A reprodução de imagens da época, sobretudo da concentração popular em frente ao Palácio Piratini, em Porto Alegre, e que deu sustentação à campanha da legalidade comandada por Brizola para garantir a posse de João Goulart depois da renúncia de Jânio Quadros, é fundamental para se entender a magnitude daqueles acontecimentos. A narrativa se torna mais didática, e esse didatismo era preciso para que Legalidade cumprisse seu papel de transpor para o cinema aquele episódio ímpar de resistência popular.

Segundo informações oficiais da produção, o roteiro de Legalidade começou a ser escrito em 2010. Foram seis anos de elaboração, fundamentada em todos os livros já publicados sobre a Campanha da Legalidade. A produção da obra é da Prana Filmes e a distribuição, da Boulevard Filmes. A produção executiva é de Luciana Tomasi.

Título em português: Legalidade
País: Brasil
Direção: Zeca Brito
Elenco: Leonardo Machado, Cleo Pires, Fernando Alves Pinto
Duração: 2h02 min
Lançamento: 12 de setembro de 2019 
Idioma: português brasileiro
Legenda: inglês

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por Anders Noren

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