O papel do audiovisual na promoção do letramento midiático

Crédito: TV Pampa.

Participei agora em agosto, no dia 3, de uma mesa redonda à distância sobre letramento midiático e fake news. Coube-me o papel de mediador, amarrando, com perguntas e comentários que veio do público espectador, as explanações das debatedoras – a mestre e doutoranda em Comunicação Semiótica Adriana Teixeira; e a pós-doutora em Estudos de Mídia e professora da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Alexandra Bujokas de Siqueira.

Foi fácil a função de meio de campo ali, porque Adriana e Alexandra, além de pesquisadoras com profundo conhecimento sobre as questões abordadas, são objetivas e didáticas ao expor os resultados de seus trabalhos. O público também contribuiu e muito com intervenções enriquecedoras. O debate está na íntegra abaixo e, logo depois do vídeo, continuo o texto com uma reflexão deixada, ao menos para mim, pelo encontro.

 

Pois bem, vamos à reflexão. Algumas indagações, na verdade. Como o conteúdo veiculado em linguagem audiovisual – nas mais diferentes mídias e nos mais diferentes gêneros comunicacionais – ajuda a forjar ambiente fértil para fake news; ou, pior, a disseminar notícias e narrativas falsas?

Como o conteúdo veiculado em linguagem audiovisual – igualmente variando de acordo com a mídia de veiculação, ou com o gênero comunicacional – pode atuar como prevenção, como vacina a fake news? Olha, não prometo respostas prontas; trago mais hipóteses do que confirmações.

Primeiro, entendendo que historicamente conteúdos audiovisuais em cinema e televisão reverberam (em maior parte antes, hoje talvez menos) discursos hegemônicos de exclusão, estereótipos e estigmas, esses conteúdos (produtos de grandes corporações de mídias atreladas a interesses econômicos e políticos) fertilizam o terreno para fake news. Porque estas, sabemos, são baseadas justamente nisso: estereótipos, estigmas, discriminação, preconceito…

Crédito: Facebook.

Senão, por que cola o absurdo de que o coronavírus dissemina-se na tecnologia 5G chinesa? Porque por décadas, filmes de massa, reportagens internacionais dos telejornais, publicidade, entre outros conteúdos apresentam o Ocidente como o salvador de um mundo constantemente ameaçado pelo atroz Oriente. Como, então, conteúdos em linguagem audiovisual podem ser instrumentos na reversão desse processo?

Bom, enquanto linguagem, as potencialidades são consideráveis. Afinal, o público tende a apreciar preferencialmente conteúdo audiovisual. Há potencial de audiência, pois. Além disso, é da natureza do audiovisual – e até por isso essa maior pré disposição do público – narrativas com carga mais lúdica, didática, favorecendo a inferência a conteúdos.

Não bastam, porém, os recursos de linguagem audiovisual, e a vontade em produzir conteúdos honestos, plurais, diversos, livres de preconceitos estruturais. É preciso: formação do produtor de conteúdo – e não apenas a formação técnica; a formação cidadã, sociológica, filosófica das equipes, para compreender a complexidade do mundo em que vivemos, com o qual dialogamos. E é preciso também espaços para que façamos esses conteúdos circularem.

Como mencionado, os meios de comunicação – inclusive as plataformas de internet, não nos esqueçamos – estão nas mãos de poucos, mas poderosos conglomerados. Por interesses comerciais, econômicos e geopolíticos, é que há, no mínimo, negligência, inoperância no cerco a fake news e discursos de ódio (isso quando não há o fomento mesmo à formação desse caos).

Certo, e o que conseguimos fazer para enfrentar tamanho obstáculo? Nos inteirarmos, defendermos, reverberarmos a luta pela regulamentação do mercado de mídia. Regulamentação que abranja o combate a oligopólios, e abra espaço para atores sociais diversos conseguirem veicular seus conteúdos, expressar sua história, arte e informação; regulamentação que abranja responsabilidades legais aos provedores de conteúdo.

Pontualmente no campo das tecnologias de internet, faz-se urgente também engajarmos na defesa e massificação de software livre. Mas isso já é tema para uma outra conversa, que poderemos resgatar aqui na Intertelas, oportunamente.

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por Anders Noren

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