
A história da União Soviética é repleta de páginas de heroísmo de seu povo em defesa de sua Pátria, especialmente durante a Segunda Guerra Mundial. E não faltam nomes femininos para completar essas páginas. Certamente quase todos lembram das atiradoras de elite do Exército Vermelho que em Stalingrado causaram baixas imensas entre os nazistas. Mas há uma personagem que parece seguir desconhecida aos olhos estrangeiros. Ela é Aleksandra Dontchenko, uma capitã da Marinha da URSS e a única mulher a graduar-se na Academia Naval.
Aleksandra Dontchenko nasceu em 1910 no sul da Ucrânia no seio de uma família de construtores de navios – todos homens. Querendo seguir a carreira de seus antepassados, ainda muito jovem estudou e formou-se no Instituto de Construção Naval de Nikolaev, na Ucrânia soviética. Já formada, ingressou no Exército Vermelho como voluntária em 1936 e foi enviada para a cidade de Leningrado, no norte da Rússia, o maior polo naval de toda a URSS.
Naquele grande cidade, Aleksandra Dontchenko marcou história ao entrar na Academia Naval de Leningrado. Ela concluiu os seus estudos em 1939 defendendo sua tese com honras e ganhando o título de “Kandidat Nauk” (algo como o Doutorado), algo que nunca antes tinha acontecido com uma mulher. Como Capitã-Engenheira de 3º Grau, ainda em 1939, Dontchenko filiou-se ao Partido Comunista Bolchevique da União Soviética.

Quando a Segunda Guerra Mundial eclodiu na URSS com a invasão nazista de 1941, Dontchenko estava em Leningrado. A cidade foi cercada pelos nazistas no conhecido Cerco de Leningrado. Por conta disso, a frota marinha soviética nos mares do norte estava completamente bloqueada em razão da ação da marinha e da força aérea nazista. Submarinos alemães aterrorizavam aquelas águas, afundando vários navios soviéticos importantes para o esforço de guerra e sobrevivência da cidade sitiada.
Foi nesse momento que Dontchenko tornou-se uma heroína. O alto comando do Exército Vermelho expressou em 1942 a necessidade de construir uma embarcação blindada ligeira que fosse capaz de caçar e afundar submarinos nazistas e avariar outros alvos inimigos. Dontchenko então tomou o comando do projeto e desenvolveu em tempo recorde um tipo de barco completamente novo, o BMO, siga em russo para “caçador marítimo blindado”. Vale citar que Aleksandra fez isso em uma cidade sitiada por quase um ano, com grave crise de abastecimento e sob bombardeio inimigo constante.
O projeto do barco levou em consideração as necessidades práticas e as disponibilidades da situação completamente desesperadora de Leningrado. Não havia mão de obra qualificada pois muitos já tinham morrido. Não havia suprimentos de materiais de alta qualidade e complexidade pois era impossível produzir isso na Leningrado cercada. Mas nada disso foi problema. Dontchenko imaginou um projeto de barco-caçador com linhas e estruturas simplificadas e fáceis de serem feitas e montadas, usando materiais mais acessíveis, reutilizando inclusive partes de tanques que já eram produzidas na cidade.


O BMO foi concebido e construído para testes num tempo impressionante, dadas as condições materiais disponíveis. Poucos meses depois, já estava sendo produzido e entrando em combate no mar. É inimaginável tentar entender como aquelas pessoas sob a liderança de Dontchenko conseguiram fazer 66 navios desse tipo, superando o número inicial pedido pelo governo. O BMO de Dontchenko teve atuação exemplar no campo de batalha, abatendo vários alvos inimigos.
Por suas grandes realizações durante a guerra, espírito de superação e contribuição inestimável para o esforço soviético contra os nazistas, Aleksandra Dontchenko recebeu as altas honrarias da Ordem da Estrela Vermelha e a Ordem da Bandeira Vermelha, além da Medalha Pela Defesa de Leningrado. Além disso, ela foi elevada ao posto máximo de Capitã-Engenheira de 1º grau. Após a guerra, na década de 1950, Dontchenko foi a supervisora-chefe do projeto de construção do mítico submarino soviético K-27, na época o maior submarino nuclear da História e que bateu vários recordes mundiais, como ficar quase 2 meses embaixo da água sem parar e percorrer mais de 22 mil quilômetros numa única missão, indo do Ártico ao sul do Atlântico.

O K-27 ficou conhecido por marcar uma virada na indústria bélica da Marinha Soviética. Aleksandra Dontchenko faleceu em 1983 aos 73 anos aposentada como grande veterana de guerra e orgulho nacional.
Referências
[3] https://br.sputniknews.com/…/2019042213731386…/
Fonte: Texto originalmente publicado no Facebook do Grupo de Estudos 9 de Maio.
Link direto: https://www.facebook.com/GE9Maio
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