
Segundo publicado pelo site chinês Global Times, a tentativa dos EUA de construir uma aliança asiática para conter a China mostrou-se mais desanimadora do que o esperado, podendo, talvez, até fracassar, depois que dois dos três países, Índia e Coreia do Sul, relutaram em apontar o dedo diretamente para a China em sua declaração conjunta com os EUA, apesar da forte propaganda de Washington em prol da teoria de “ameaça da China”, disseram observadores chineses. Durante a viagem à Ásia do secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, e do secretário de defesa Lloyd Austin, o Japão destacou-se, pois estava ansioso por provar a si mesmo como “a vanguarda” da aliança dos EUA no ataque à China na região da Índia-Pacífico. Mesmo assim, observadores alertaram que a medida de Tóquio para servir de “bajulador” político de Washington, enquanto busca benefícios econômicos de Pequim, é “barata e furtiva” e certamente será combatida pela China.
A China não participou da declaração conjunta emitida pelos chefes de defesa dos EUA e da Índia. Na Índia, a última parada de Austin em sua viagem à Ásia, a discussão com seu homólogo indiano Rajnath Singh centrou-se principalmente na cooperação militar entre os dois países. As disputas de fronteira da Índia com a China também foram mencionadas. Falando em um briefing especial após manter conversas com Singh, Austin disse no sábado que os EUA não acham que “Índia e China estavam em guerra” e que Washington continuará a trabalhar com “países de ideias semelhantes” para garantir que as coisas certas sejam feitas para manter a paz.
A situação é semelhante quando Austin disse ao seu homólogo sul-coreano Suh Wook que a aliança dos EUA com a Coreia do Sul é cada vez mais importante devido às crescentes preocupações de segurança com a China e a Coreia do Norte, e esta última, sem mencionar a China, apenas reforçou a sua posição em relação à Coreia do Norte. “Parece que a tentativa do governo Biden de influenciar os aliados asiáticos para oporem-se à China não correspondeu às suas expectativas”, disse Yang Xiyu, pesquisador sênior do Instituto de Estudos Internacionais da China, ao Global Times no domingo. Yang observou que, para formar uma aliança sólida, os Estados Unidos precisam fornecer benefícios substanciais a esses países, mas é duvidoso que tenham a capacidade de fazê-lo e uni-los.
A Índia tem buscado aprimorar sua cooperação militar com os Estados Unidos para ter uma margem de manobra em um enfrentamento com a China. Mas a cooperação com Washington não pode melhorar significativamente a capacidade militar de Nova Delhi, devido aos laços desta última com a Rússia e à falta de dinheiro, disse Qian Feng, diretor do departamento de pesquisa do Instituto de Estratégia Nacional da Universidade Tsinghua. “Certamente pedimos a todos os nossos aliados, nossos parceiros, que se afastem do equipamento russo … e realmente evitem qualquer tipo de aquisição que desencadearia sanções em nosso nome“, disse Austin a repórteres em Nova Delhi. Nenhum sistema S400 foi entregue à Índia e, portanto, a possibilidade de sanções não foi discutida, acrescentou.
Mesmo assim, autoridades indianas foram citadas pelo Wall Street Journal como tendo dito que planejam ir em frente com a compra do sistema de mísseis russo porque ele representa uma atualização significativa em suas capacidades de defesa. “A Índia nunca se contentará em ser apenas um aliado subordinado dos EUA, a postura é determinada por seu princípio fundamental de não alinhamento e ambição de tornar-se uma grande potência mundial. Além disso, Nova Delhi não pode arcar com o custo de provocar a China, tomando publicamente o lado da Washington“, disse Qian.
Os observadores também atribuíram o fracasso dos EUA em conseguir que a Coréia do Sul aderisse à sua estratégia Indo-Pacífico, em razão de persistir em na agenda “EUA Primeiro” e também porque Washington está tendo dificuldades para apresentar um plano claro para a questão da Península Coreana. Ambos impediram Seul de aproximar-se de Washington.
“Duvido seriamente da quantidade real de recursos que os EUA estão dispostos a aplicar, já que estão atolados em recuar do Oriente Médio, enfrentando problemas domésticos como a pandemia de COVID-19 e salvando sua economia lenta“, disse Yang, observando que uma aliança forte não é formada com base em “conversa fiada”. Enquanto a China mantém-se firme em seu caminho de desenvolvimento e continua a abrir e expandir a cooperação ganha-ganha com outros países, a “frágil aliança de um pequeno círculo” dos EUA logo se desintegrará, de acordo com Yang.
Um Japão “sorrateiro”
Ao contrário da Índia e da Coreia do Sul, o Japão caiu na “conversa afiada” dos EUA e de repente apresenta-se como a “vanguarda anti-China” nesta região. No final da viagem de Blinken e Austin ao Japão, Tóquio e Washington emitiram uma declaração conjunta dizendo que “Os EUA e o Japão reconheceram que o comportamento da China, onde inconsistente com a ordem internacional existente, apresenta desafios políticos, econômicos, militares e tecnológicos“. Blinken disse em uma entrevista coletiva após a reunião que o encontro cobriu não apenas as ilhas Diaoyu, onde a China e o Japão têm disputas, mas também Hong Kong e Xinjiang, nos quais o Japão raramente critica abertamente a China.
O governo japonês sempre disse, em alto nível, para lidar separadamente com questões políticas, diplomáticas e econômicas. No centro de tal formulação de políticas está a colaboração com os EUA para conter uma China em ascensão, enquanto aproveita o desenvolvimento da China, disse Lü Chao, membro da Academia de Ciências Sociais de Liaoning, ao Global Times.
Lü disse que, neste ponto, o Japão finalmente tirou sua máscara de hipócrita e aliou-se aos EUA para combater a China. “A China deveria revidar duramente o Japão e não permitir que ele beneficie-se economicamente de Pequim, enquanto critica abertamente os assuntos internos da da China“. Citando várias fontes governamentais, o jornal Kyodo News do Japão informou que os chefes de defesa japoneses e estadunidenses concordaram em sua reunião da semana passada em cooperar estreitamente no caso de um confronto militar entre o continente chinês e a ilha de Taiwan.

Não houve discussão sobre como seus países deveriam coordenar sua resposta a tal emergência, disse a agência de notícias. Os laços China-Japão cairão drasticamente se o Japão envolver-se na questão de Taiwan, disse Song Zhongping, um especialista militar e comentarista chinês, observando que os exercícios militares conduzidos pelo Exército de Libertação do Povo Chinês perto do Estreito de Taiwan visam parcialmente conter a intervenção dos EUA , mas se confirmado, exercícios mirando a aliança EUA-Japão também podem ser programados, no intuito de promover uma preparação para o pior. A questão de Taiwan é a questão fundamental, e qualquer interferência militar estrangeira atrairá a mais feroz retaliação da China, ainda mais violenta do que a da Guerra para Resistir à Agressão dos EUA e Ajudar a Coreia, advertiu Yang.
Fonte: texto originalmente publicado em inglês no site Global Times.
Link direto: https://www.globaltimes.cn/page/202103/1219007.shtml
Zhao Yusha
Repórter do Global Times cobrindo assuntos internacionais, política e sociedade
Liu Caiyu
Repórter do Global Times sobre sociedade, segurança cibernética, relações diplomáticas e tópicos relacionados a Xinjiang
Tradução do inglês para o português: Alessandra Scangarelli Brites, editora da Revista Intertelas
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