
O diretor William Friedkin, realizador dos inesquecíveis “Operação França” (1971) e “ O Exorcista” (1973), foi dos autores mais interessantes e viscerais do cinema estadunidense no começo dos anos 1970. Sua obra, centrada no universo opressivo de seus protagonistas, não economizava na violência de sua narrativa e no uso intenso dos recursos clássicos da edição cinematográfica.
Sua estética era brutal e bastante realista ( no fantasmagórico “O Exorcista” ele fazia questão de torturar seu público, apelando para toda sorte de insultos demoníacos e vísceras expelidas, definindo, instantaneamente, um novo patamar de horror total para o cinema). Óbvio, eram os anos 1970, na minha opinião a mais audaciosa e transgressora época do cinema dos EUA. Mesmo alguém como Friedkin encontrava espaço na indústria para realizar seus projetos. Saudosos anos 1970…

Ele ainda entregaria um grande filme nos anos 1980, “Viver e Morrer em Los Angeles”, policial hoje cultuado, mas que na época frustrou o estúdio pela baixa bilheteria estadunidense. Seu tom profético ao mostrar os Estados Unidos recém-egressos na “Era Reagan” e no ultrajante individualismo resultante desta época (com impactos terríveis no nosso presente) fazem do filme uma leitura obrigatória para entendermos que o cinema mostrava dos desdobramentos sociais e econômicos, quase 30 anos atrás. A estética de cores avermelhadas e quentes, além da terrível trilha sonora em sintetizadores (triste marca daquela época) estão lá e empobrecem o filme, mas não ao ponto de tirar-lhe o título de “jovem clássico” que ele hoje decerto mercê vergar.
O diretor acabaria entrando num duro ostracismo, e durante a década de 90 ele basicamente nada fez. Porém, posteriormente, entregou filmes pequenos em sua envergadura, mas bastante ambiciosos nos temas tratados. Em “Killer Joe” (2012), uma pequena obra-prima, escandalosamente violenta e provocativa, apresenta a decadência moral e social dos Estados Unidos, cujo fio condutor da história discorre sobre um filho (e seu pai) que decide contratar um assassino profissional que possa dar cabo de sua mãe.
Toda a desesperança do sonho norte-americano está no filme: policiais corruptos, famílias desconstruídas, depressão, vícios, subemprego, comportamento individual e amoral, tudo isso numa paisagem urbana que sugere abandono e falência. O filme também, na época, reposicionou a carreira de Matthew McConaughey, bom ator, antes desperdiçado em incontáveis comédias românticas. Ele desenvolve um personagem verdadeiramente sinistro e imprevisível, e a última meia hora é mostra do poder interpretativo deste ator. Dirigido com ferocidade pelo experiente diretor, “Killer Joe” é um alerta e um retrato da “nova américa”: um lugar inóspito e apavorante em suas contradições.
Fonte: texto originalmente publicado no site do O Beco do Cinema.
Link direto: https://obecodocinema.wordpress.com/2015/11/18/killer-joe-2012-diretor-william-friedkin/
Título: Killer Joe – Matador de Aluguel
País: EUA
Direção: William Friedkin
Roteirista: Tracy Letts
Elenco: Matthew McConaughey, Emile Hirsch, Juno Temple
Duração: 1h42min
Lançamento: 8 de março 2013 (Brasil)
Idioma: inglês
Legenda: português
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