Global Times: “Primeiro super-herói asiático da Marvel é cheio de estereótipos ocidentais sobre a China”

“Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”. Crédito: reprodução da internet.

O jornal Global Times, uma das principais publicações da China, em artigo assinado pelo articulista do diário Wu Yu, fez duras críticas à mega produção da Marvel e levanta algumas questões sobre o olhar hollywoodiano repleto de estereótipos sobre China. O autor do texto inicia sua argumentação ressaltando que foi uma decisão acertada que “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis” não tenha sido lançado no continente chinês, pois seu fracasso seria comparável ao de “Mulan”, lançado em 2020.

Shang-Chi é repleto de elementos culturais chineses. A parte mais destacada é que o personagem principal Xu Shang-Chi, interpretado pelo ator canadense Simu Liu, salva pessoas através das artes marciais chinesas, ou Kung Fu. Mas mesmo o Kung Fu não pode salvar um filme que contenha estereótipos ocidentais e um personagem originado de um passado racista, quando foi originalmente criado para os quadrinhos“, ressalta Wu Yu.

Quadrinho da Marvel que foi inpirado nas obras de Sax Rohmer. Crédito: reprodução da internet.

O personagem que foi originado em um passado racista é o pai de Shang-Chi, interpretado pelo célebre ator Tony Leung, de Hong Kong, conhecido na Europa em especial por seus trabalhos com o premiado cineasta Wong Kar Wai. Segundo o jornalista, na história em quadrinhos original, ele era chamado de Mandarim, mas para o filme os produtores decidiram chamá-lo de “Xu Wenwu”.

De acordo com Wu Yu, as origens do tal Mandarim estão associadas a um romance do início do século 20. Na realidade, para a melhor compreensão do leitor no Brasil que desconhece a questão, é necessário esclarecer que o articulista do Global Times está mencionando a série de novelas do escritor inglês Sax Rohmer, publicadas na primeira metade do século XX e que, posteriormente, foram adaptadas para o cinema, a televisão, o rádio e os quadrinhos.

O personagem principal desta série literária é o doutor Fu Manchu, um gênio do crime, e a sua personalidade foram atribuídos características como ser misterioso, traiçoeiro, ardiloso e ter gosto pelas ciências obscuras, torturas e venenos. “Trata-se de um representante do ‘Perigo Amarelo’ no Ocidente. Essa conexão gerou polêmica em 2019, quando a Marvel anunciou o projeto pela primeira vez”, enfatiza Wu Yu.

O célebre ator Tony Leung, que vive o pai de Shang-Chi, junto a Andy Lau, Leslie Cheung, Maggie Cheung e outros fez parte de uma geração do cinema de Hong Kong que marcou época na China e na Ásia. Crédito: reprodução da internet.

Porém, um esforço parece ter sido feito, no intuito de distanciar o personagem interpretado por Leung de Fu. No enredo, o pai explica aos filhos e a amiga que ele não é o tal “mandarim” e que o nome foi usado por alguém que finge ser ele. No entanto, o filme segue tendo como base a imagem do personagem na história em quadrinhos que, por sua vez, segue tendo grandes semelhanças com o personagem de Sax Rohmer. “É um insulto ao povo chinês; então a explicação no filme apenas mostra a consciência culpada da Marvel e não consegue apagar as origens do controverso personagem da memória do público chinês, mesmo daqueles que são fãs da Marvel”, dispara Wu Yu.

O autor do texto ainda segue com mais críticas e comparações: “O filme é como a comida chinesa nos Estados Unidos. Ele se encaixa no gosto do público estadunidense, mas não é realmente chinês. Por exemplo, o filme incluiu vários tipos de criaturas míticas dos contos de fadas chineses e os mostrou vivendo juntos, mas na verdade essas criaturas teriam lutado entre si em uma batalha feroz se eles se cruzassem. Mesmo as cenas de Kung Fu não são suficientes. Os coreógrafos de ação deveriam ter incluído mais cenas de luta que mostrassem os diferentes estilos de Kung Fu“.

Ele termina sua crítica avisando que “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”, já lançado na plataforma de streaming da Disney, promove uma ideia errada sobre a cultura chinesa, algo que também ocorreu com “Mulan”. Wu Yu ainda afirma que não está sozinho em sua avaliação, pois diversos críticos de cinema da China acharam a história do filme imaginária demais, sendo uma compreensão muito própria de Hollywood sobre a cultura dos chineses. Assim, conclui sua crítica fornecendo um conselho aos realizadores da Marvel: “Estudem mais“!

Fonte: esta postagem utilizou informações do texto originalmente publicado em inglês no site Global Times.
Link direto: https://www.globaltimes.cn/page/202111/1239231.shtml

Tradução e redação Alessandra Scangarelli Brites – editora da Intertelas

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por Anders Noren

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