Os 457 anos do Rio de Janeiro: a história de uma cidade repleta de contrastes

Óleo sobre tela, “A fundação do Rio de Janeiro”, de Firmino Monteiro. Crédito: Diário do Rio.

Em 1 de março de 1565 era fundada nossa cidade no sopé do morro Cara de Cão. Batizada com nome inspirado num equívoco, já que os colonizadores portugueses acreditavam num primeiro olhar, que a entrada da Baía de Guanabara seria a foz de um grande rio. E sob a benção de São Sebastião nascia a cidade São Sebastião do Rio de Janeiro. Região esquecida da colônia, exceto pela vaga lembrança do pequeno comércio de pau-brasil no litoral de Cabo Frio, fora invadida pelos franceses em 1555.

Após a fundação da cidade, os tupinambás tamoios foram perseguidos até Cabo Frio. Os portugueses não os perdoaram pela aliança feita anteriormente com os franceses e os cercaram nesta região, e mesmo após a tribo entregar suas armas e render-se, foram todos assassinados. Cidade com nome de santo e batizada com sangue. Após a fundação, seguiram 250 anos de colonização de exploração. Toneladas de ouro de Minas Gerais passaram pelo porto do Rio de Janeiro rumo à Portugal. Nesse mesmo período milhões de seres-humanos chegaram nesse mesmo porto vivos, doentes e até mesmo mortos em navios negreiros para abastecer o mercado de escravos.

Era a escravidão, a página mais vergonhosa da história de nosso país. Depois desse longo período de atraso e uma estrutura econômica arcaica baseada numa economia de exploração, com uma sangria de riquezas indo para a Europa, surgiu uma sociedade estamental autoritária e escravocrata que, assim, gerou uma conjuntura de miséria, violência e subdesenvolvimento na colônia e prosperidade da Metrópole. Em 1808, uma nova fase iniciava-se no Rio de Janeiro. Chegava por aqui uma família real decadente oriunda de Portugal, fugindo da espada de Napoleão Bonaparte.

O atraso da cidade era tão grande que não era capaz de abrigar a corte portuguesa. Seguindo a tradição autoritária colonial, a questão foi resolvida facilmente. Distribuiu-se marcas P.R. ( Príncipe Regente) nas portas de várias casas pela cidade. A política de remoção forçada vem de longe… Os moradores premiados com o P.R. eram colocados no olho da rua e suas casas eram ocupadas pelos membros da corte. Obras públicas e algumas pequenas modificações urbanísticas foram realizadas por D. João. Estas proporcionaram algumas melhorias que amenizaram os infortúnios da nova capital do Império Português.

Ocorreram obras como a construção do Jardim Botânico, criação do Banco do Brasil e a abertura dos portos da colônia às nações amigas (leia-se Inglaterra). D. João assinara tal medida sob pressão dos britânicos, que em troca de escoltar os navios portugueses, garantindo uma viagem segura até o Brasil, exigiram esta contrapartida. Em 1822, a “independência do Brasil” tornara-se realidade pelas mãos de um português, o príncipe fanfarrão D. Pedro I, que 9 anos depois, na condição de primeiro imperador do novo império, foi obrigado a abdicar ao trono por suas total incompetência administrativa e ausência de condições morais para governar.

Enfim, foram 67 anos de Império. Mesmo sendo um curto período histórico, foram anos agitados com direito a abdicação de D. Pedro I, o desgoverno do Período Regencial, Golpe da Maioridade com a coroação de D. Pedro II, que tinha apenas 15 anos de idade e teve de enfrentar várias revoltas populares e elitistas contra a Coroa. No final do século XIX, o império começou a cair de podre. Em 1888, princesa Isabel (escravocrata) assinou a Abolição da Escravatura sob forte pressão dos ingleses que visavam a criação de um mercado consumidor brasileiro para despejar seus produtos industrializados.

Enquanto a Europa vivia o grande desenvolvimento industrial, o Brasil ainda estava com uma economia baseada na monocultura do café e com utilização de mão-de-obra escravizada nestas lavouras. Uma situação totalmente anacrônica. No ano seguinte, o monarquista Marechal Deodoro da Fonseca proclamou a República. Apesar do nome, foi o início de uma república autoritária e elitista que manteve o mesmo modelo econômico monocultor de produção cafeeira num cenário político sem qualquer participação democrática do povo brasileiro.

O poeríodo ficou conhecido como República Velha e terminou com a chamada Revolução de 1930 liderada pelo fazendeiro gaúcho Getúlio Vargas. Tal revolução inaugurou uma nova era econômica com quase nenhuma participação popular na política. O agitado século XX, época em que grandes acontecimentos históricos e manifestações sociais acabaram transformando o Rio de Janeiro no centro político e cultural do Brasil e numa cidade de grande destaque, como: a Revolta da Vacina (1904), a Revolta da Chibata (1910), a Revolta Tenentista (1922), a Revolução de 1930, a Revolta comunista (1935), o Golpe de Estado e início do Estado Novo (1937), a Redemocratização (1945), o retorno de Getúlio Vargas por via eleitoral em 1951, o suicídio de Vargas (1954), gerando grande convulsão social, a transferência da capital do Brasil para Brasília (1960), o comício das reformas de base na Central do Brasil (1964), o Golpe Militar e início da ditadura civil-militar (1964), o comício das Diretas na Candelária (1984) e tantos outros acontecimentos.

Com todos os erros e acertos, a cidade do Rio de Janeiro destacou-se no cenário nacional e internacional não somente por suas belezas naturais exuberantes. O desafio dos cariocas em pleno século XXI é superar o atraso social ao qual ainda vivemos. Acabar com miséria e as desigualdades sociais absurdas existentes desde o período colonial. Precisamos acabar com a corrupção, com cartéis e máfias para que tenhamos um Rio de Janeiro para os cariocas.

Para que nossa população tenha saúde pública, educação pública, transporte público de qualidade e realmente acessível à população dentre outras medidas que promovam dignidade e atendimento das reais necessidades dos habitantes que aqui vivem. Apesar de tudo o aniversário de nossa querida cidade, é um momento histórico importante. Os cariocas apesar de todas as dificuldades continuam trabalhando por uma cidade melhor todos os dias. Por sua perseverança e esperança nossa população está de parabéns.

César Augusto Ribeiro Filho
Professor de história e membro da direção da Casa da América Latina

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por Anders Noren

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