
Está no ar desde o fim de agosto e segue até 29 de setembro a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. O horário eleitoral é importante instrumento de interlocução entre candidaturas e eleitores, afinal a radiodifusão aberta mantém-se como o principal meio de comunicação de massa. Entretanto, ainda reproduz graves distorções, inclusive de narrativas da realidade.
Antes, a primeira distorção está na distribuição do tempo da propaganda entre os partidos. Enquanto alguns partidos têm segundos, outros dominam a grade. Pior: algumas candidaturas sequer têm direito a aparecer no horário eleitoral. Isso é inadmissível. Todo partido legalizado, toda candidatura deferida pela Justiça Eleitoral deveria ter direito a inserção no rádio e na televisão, independentemente de a legenda ter ou não bancada no Congresso, e do tamanho dessa bancada.
Excluir candidaturas do horário eleitoral é atacar o direito do cidadão de ter acesso mínimo a informações sobre essas candidaturas. A distribuição desproporcional do tempo entre as candidaturas também é uma anomalia que gera outras. Por exemplo: as coligações costumam ser formadas não com base em afinidades ideológicas, em propostas. Sim, com o objetivo de conseguir “mais tempo de tevê”.
Além desses problemas, outro está no conteúdo das propagandas. Esse, o mais difícil de resolver. Mas precisa ser solucionado. A forma das atuais propagandas privilegia candidaturas mais ricas, que podem gastar em produções audiovisuais refinadas técnica e esteticamente. A qualidade da candidatura acaba sendo medida pela qualidade da peça publicitária, e não pela consistência e coerência ideológica e programática. Essa forma dá margem ainda a narrativas ficcionais.
O descolamento da realidade, em algumas situações, é gritante. Isso impede o horário eleitoral de cumprir sua função, por dois motivos. Um, porque não transmite credibilidade, e faz o eleitor se afastar. Endossa o senso comum de que política é tudo mentira. Outro motivo é que, ao desvirtuar da realidade, a propaganda eleitoral pode contribuir para decisões equivocadas por parte de nós, eleitores.
Um caminho possível para minimizar narrativas que tratem candidaturas como um produto, uma mercadoria, estaria na definição de regras de formato. Fazer como tem acontecido com muitas provas de seleção de candidatos em editais de cultura, ou mesmo para vagas em emprego, que têm pedido envio de vídeos: que a propaganda eleitoral na televisão seja o candidato, em enquadramento em plano médio, cenário neutro ao fundo, falando direto à câmera, isto é, ao eleitor.
Outra opção (uma não exclui a outra, podem ser combinadas) seria a do formato de entrevista. Entrevistas feitas, por exemplo, pelo Tribunal Superior Eleitoral, via suas equipes de imprensa e comunicação, e com base nos programas de governo protocolados pelas candidaturas. Perguntas objetivas, sobre pontos de tais documentos. Aprimorar o horário eleitoral é fundamental para processos mais equilibrados, transparentes, de forma democráticos.
Como dito no início, rádio e televisão constituem os meios de comunicação de maior alcance. Fora do período eleitoral, em um cenário de mídia hegemônica dominada pela ideologia do capital, pouco temos de contato com o contraditório. Então, a propaganda partidária minimamente preenche essa lacuna.
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