Terceiro Mandato de Lula: brasileiros esperam por reconstrução do Brasil, união, reformas e enfrentamento real das desigualdades

Crédito: Mariana Scangarelli/Intertelas.

Durante o final do ano de 2022 e início de 2023, milhares de brasileiros, provenientes de todas as regiões do país e até do exterior, viajaram longas distâncias para Brasília, capital federal do Brasil, com o objetivo de acompanhar a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), que chega pela terceira vez a posição de presidente do país pelo voto direto. Para a maioria do público, estimado entre 300 mil pessoas, que permaneceu fora do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional, não existiu outro objetivo,  a não ser apoiar o início do mandato de Lula, a quem depositam grande confiança e expectativa de formar e conduzir um governo que trabalhe e guarde os interesses deles: o povo.

Após quatro anos do governo de Jair Bolsonaro, do Partido Liberal (PL), que se caracterizou por atender às demandas da elite nacional e estrangeira, e que teve um forte fomento à violência e ao ódio a todos aqueles classificados pelo ex-presidente como não oportunos de serem considerados e respeitados como cidadãos. Assim, apesar do forte calor que fazia em Brasília, da distância e dos custos de viagem, brasileiros de todas as idades, pessoas com alguma deficiência, famílias inteiras, grupos de todos os segmentos sociais e culturais do país compareceram para dar suporte a posse de um governo que sofreu ameaças desde o início de sua vitória no pleito, em 30 de outubro de 2022. O sentimento de esperança, união, alegria, desprovido de qualquer medo, era evidente entre a multidão.

Da mesma forma, destacava-se a diversidade entre aqueles inúmeros indivíduos, fazendo jus à característica multicultural, multirracial, multi em todos os sentidos da sociedade brasileira. Junto à emoção evidenciava-se a espera por ações concretas que possam transformar o país. Para aqueles que concederam entrevista à Revista Intertelas estava clara a ideia de unir desenvolvimento em todas as áreas, com respeito às diferenças individuais e promover valores de coletividade.  As demandas são muitas: da construção do Brasil potência, que apresente uma indústria própria nos setores econômicos e de tecnologia avançada, ao atendimento de necessidades básicas constitucionais, dando fim às desigualdades e com uma atuação governamental voltada ao Brasil e aos brasileiros. Além dessas, confira outras prioridades mencionadas por brasileiros que estiveram na posse.

Marilza da Silva, psicóloga de 52 anos, natural da cidade de São Paulo, veio de Londres. Crédito: Mariana Scangarelli/Intertelas.

Marilza da Silva, psicóloga de 52 anos, natural da cidade de São Paulo, veio de Londres, onde mora há 20 anos e onde atuou no Comitê Lula Livre, auxiliando na campanha do atual presidente entre os brasileiros. Lula venceu em Londres e Marilza destaca: “É preciso antes de tudo acabar com a fome no Brasil. Esta é a questão mais triste e dolorida da nação e acredito que, se ele conseguir fazer com que as famílias brasileiras possam tomar café, almoçar e jantar, ele será um homem realizado e feliz, como o próprio Lula já destacou”. João Gabriel Ramos dos Santos, servidor público municipal de 19 anos, de Tangará da Serra, Mato Grosso, também destaca o problema da fome como prioridade: “O Brasil voltou ao mapa da fome com o governo Bolsonaro. Isso é lamentável, acredito que o Lula terá o compromisso com o povo de cuidar da nossa educação e acabar com a fome do povo brasileiro”.

João Gabriel Ramos dos Santos, servidor público municipal de 19 anos, de Tangará da Serra, Mato Grosso. Crédito: Mariana Scangarelli/Intertelas.

Breno Amaral, estudante de 18 anos, de Confresa, Mato Grosso destaca o respeito pela diversidade. “Esperamos quatro anos para estar aqui. Houve muito descaso com a cultura, com os povos indígenas, com a Amazônia, e esperamos que Lula possa reconstruir o país, novamente. Torço muito para que seja um governo que abrace a diversidade e que cuide em especial dos povos indígenas que foram tão atacados no governo anterior”.

Breno Amaral, estudante de 18 anos, de Confresa, Mato Grosso. Crédito: Mariana Scangarelli/Intertelas.

Para Thiago Oliveira Rodrigues, assistente social, pesquisador e doutorando em saúde coletiva de 36 anos, de Cuiabá, Mato Grosso, políticas para a criação de empregos e na área da saúde, ciência, educação e previdência são essenciais. “A prioridade do governo é a retomada do desenvolvimento do país. Nós tivemos um retrocesso democrático e ocorreu um processo de desindustrialização que se acentuou dentro destes quatro anos. Os principais polos industriais tiveram demissão em massa dos trabalhadores, o que ocorreu também em outros setores como o do comércio. O investimento principal deve ser em políticas direcionadas aos trabalhadores, retomar os programas de fomento ao trabalho, ao emprego e promover a distribuição de renda. Precisamos investir muito em saúde, já que ainda estamos vivendo uma pandemia. No governo Bolsonaro houve a negação da ciência junto com um processo de destruição das universidades públicas. É preciso reconstruir todas estas áreas e a da previdência, que vem sendo atacada também”.

Thiago Oliveira Rodrigues, assistente social, pesquisador e doutorando em saúde coletiva de 36 anos, de Cuiabá, Mato Grosso. Crédito: Mariana Scangarelli/Intertelas.

Márcio Silva de Souza, de 54 anos, psicólogo, bacharel em cinema e servidor público do estado de Pernambuco, mora em Paulista, região metropolitana de Recife, veio com a família e finalmente pode ver a posse de Lula, algo que desde 2003, ansiava por acompanhar. “Eu não tive a oportunidade de estar naquela ocasião e estes últimos quatro anos foram muito difíceis. Este é o sonho da nossa família, da minha esposa. O sofrimento foi grande durante estes quatro anos em que houve uma criminalização da política e este aumento da violência. Então, era preciso estar aqui. É como tirar algo que estava entalado na garganta, algo que pesava muito. Estamos aliviados”.

Márcio Silva de Souza, de 54 anos, psicólogo, bacharel em cinema e servidor público do estado de Pernambuco, mora em Paulista. Crédito: Mariana Scangarelli/Intertelas.

Para Márcio é preciso acabar com o discurso de ódio e colocar as políticas públicas em evidência. “Resgatar o Bolsa Família, a farmácia popular, as universidades públicas, todas estas áreas que foram muito sucateadas. Acho que teremos um governo com uma sensibilidade, talvez não seja exatamente o governo dos sonhos, mas ele certamente será mais inclinado a pensar nas pessoas, concessões políticas são necessárias, faz parte do jogo político, mas é preciso ter um governo que coloque o pobre em primeiro plano”.

O filho de Márcio, Marco Antônio Sá Leitão de Souza, de 18 anos, estudante de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) contou mais sobre a organização da família para acompanhar a posse de perto: “Vir para cá foi meio que uma aposta, porque nós compramos a passagem uma semana antes do primeiro turno da eleição. Então, nos acreditávamos que ia dar certo, que precisava dar certo, é importante o povo estar aqui, nós mostrarmos que o povo brasileiro tem poder, tem peso de decisão”.

Marco Antônio Sá Leitão de Souza, de 18 anos, estudante de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Crédito: Mariana Scangarelli/Intertelas.

Marco Antônio salienta que o terceiro mandato de Lula será uma oportunidade para a política voltar a ter importância e ser mais considerada pela sociedade. “Trata-se de uma retomada da política, da real política. Não apenas no Brasil, mas no cenário internacional existe este fortalecimento da extrema-direita com um discurso antipolítico, que dá poder ao suposto líder que fala o que pensa, supostamente, em nome do povo. A política é debate, é negociação, é conversar, é discurso, é colocar as pautas de diferentes segmentos da sociedade na mesa e tratá-las com seriedade. A retomada do governo Lula é boa para a esquerda, mas é bom para a política brasileira, para a democracia, para as instituições também”.

Crédito: Mariana Scangarelli/Intertelas.

Com a vitória de Lula no segundo turno, Paulo Pessoa, técnico operacional da Petrobrás aposentado de 65 anos, de Santo André, ABC paulista, organizou uma viagem de carro com muitos outros colegas petroleiros. Segundo ele, Lula deve dar ênfase a Petrobrás.  “É uma empresa estratégica e patrimônio histórico nacional sólido. Se o Lula puder restaurar a Petrobrás para os brasileiros, ela terá grande êxito no governo dele. É preciso também formular um decreto-lei para que as Estatais estratégicas não passem mais pelo processo de privatização. A importância da Petrobrás em termos energéticos é indiscutível e em termos de derivados que refletem nos preços dos combustíveis e dos produtos em geral”.

Paulo Pessoa, técnico operacional da Petrobrás aposentado de 65 anos, de Santo André, ABC paulista. Crédito: Mariana Scangarelli/Intertelas.

Adalnira Nogueira, auxiliar escolar aposentada de 65 anos, veio de Rio Branco, Acre. Ela tem grande confiança em Lula e sente uma grande honra em participar do momento histórico. “Nós fretamos um ônibus para vir e estar nesta tão esperada posse. Depois de anos, agora temos o Lula de volta. Eu queria poder dar um abraço nele, pedir pra ele cuidar da juventude, da saúde, da educação, da segurança e pregar amor e paz. Chega de ódio”.

Adalnira Nogueira, auxiliar escolar aposentada de 65 anos, veio de Rio Branco, Acre. Crédito: Mariana Scangarelli/Intertelas.

Edmilson Gomes dos Santos, empreendedor de 64 anos salienta: “Eu como pai e como avô tenho a esperança que o Brasil mude. Anteriormente éramos dois Brasis, mas hoje somos um só e o governo lula representa isso. Eu quero educação, saúde, emprego e oportunidade para os jovens. O Lula quando foi presidente ampliou o número de faculdades e institutos de ensino”. Junto à Adelnira e Edmilson estava Marly Rodrigues, motorista de Uber de 57 anos, que destaca a falta de emprego em Rio Branco atualmente. “Eu sou mãe e avó. Por isso, priorizo a juventude, a segurança e a saúde”.

Maria da Conceição da Costa Lima, professora de história de 61 anos, do município de Tarauacá, Acre, veio com seus outros três amigos de Rio Branco. “Lula foi o melhor presidente que nós tivemos. Quando ele era presidente, no nosso município de Tarauacá, o pessoal tinha emprego, nós tínhamos infraestrutura. Hoje levamos três horas para chegar a Rio Branco, porque a estrada está cheia de buracos. Estes últimos quatro anos foram apenas de atraso. O presidente Lula foi a Tarauacá duas vezes, foi algo inédito na época e ele promoveu um desenvolvimento para todos. Eu espero que ele retome aquelas iniciativas dos mandatos anteriores, investindo em emprego e infraestrutura. Hoje vamos ao mercado e é difícil de andar tamanha a quantidade de gente pedindo ajuda porque estão com fome”.

Maria Nazaré Piedade Alves de Azevedo, natural de Ouro Preto, Minas Gerais, de 46 anos, graduada em história e coordenadora pedagógica na Prefeitura de São Paulo e professora na rede estadual veio de Mogi das Cruzes, São Paulo, onde mora há 18 anos. Estão na sua lista de prioridades:  a criação de emprego com carteira assinada, a recuperação de salário-mínimo, a educação de qualidade para todos, a formação política dos trabalhadores, a revogação da lei do “Novo ensino médio”, que Maria afirma ser o fim da educação para os filhos da classe trabalhadora, a revisão da reforma trabalhista e a realização de uma reforma tributária.

Ela ainda contou como se preparou para estar na posse. Seu relato expressa de forma clara as expectativas guardadas para o mandato que inicia. “Quando o Lula tornou-se candidato fizemos uma promessa, que se ele ganhasse as eleições iríamos pra Brasília assistir à posse de perto de qualquer jeito. Quando terminou o primeiro turno essa promessa começou a ganhar corpo, começamos a ver hotel, passagem de avião e ônibus. Quando ele ganhou, naquele domingo mesmo, reservamos o hotel e combinamos com um casal de amigos que iríamos de carro mesmo. Saímos de Mogi das Cruzes no dia 29 de dezembro, dormirmos em Uberlândia e seguimos pra Brasília no dia seguinte, chegando no dia 30. Foi mágico desde o momento em que chegamos. Ver a cidade já com tanta gente, gente de todo lugar, sem medo de usar camisas e bandeiras do partido e do Lula, foi muito bom e importante. A minha filha que é adolescente, e nos acompanha nos movimentos, manifestações, mesmo antes do golpe de 2016 ficou maravilhada, emocionada”.

Um comentário em “Terceiro Mandato de Lula: brasileiros esperam por reconstrução do Brasil, união, reformas e enfrentamento real das desigualdades

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  1. Está reportagem é um bom documento para o futuro, e podemos observar durante os próximos anos o sucesso e a realização do sonho de todos

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por Anders Noren

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