
Mudanças importantes acontecem no meio universitário chinês e a visão que as norteia está expressa no volume II da obra do presidente Xi Jinping, “The Governance of China”. Comecemos com uma frase de Xi na Assembleia Geral da ONU em 2015:
“Cada modelo social representa a visão única e a contribuição de seu povo, e nenhum modelo é superior aos outros.” (1)
No seu texto, o Presidente Xi deixa claro que o modelo social da China é um sapato sob medida feito pelo povo Chinês para si mesmo, através de erros e acertos, e que segue em constante mudança para se ajustar à novos cenários e responder à novos desafios. A Reforma da Universidade Chinesa é parte da Reforma contínua do sistema social Chinês.
Em meus comentários sobre os textos do Presidente Xi buscarei entender como a experiência da China pode inspirar soluções nossas para a melhoria contínua da Universidade Brasileira. Universidades em todo o mundo buscam a excelência. Só aquelas que não param de buscar podem continuar a ser excelentes. Ao contrário do passado, hoje qualquer Universidade pode aprender com as experiências de quaisquer outras. O modelo de disputas envelheceu. O modelo do futuro é cooperação. O Presidente Xi diz:
“A construção de um forte caráter moral deve ser a tarefa central da educação superior.” (2)
Nossas Universidades Brasileiras nasceram com essa mesma convicção. Temos falhado na implementação, e na comunicação. Se perguntássemos aos nossos alunos qual a tarefa central de uma Universidade, todos nessa sala sabemos a resposta que a maioria nos daria: prover conhecimentos que capacitem os alunos a conseguirem uma boa colocação no mercado de trabalho ao final do curso. Se perguntássemos aos pais de nossos alunos, todos sabemos que a maioria das respostas seria semelhante à dos filhos. Como Professor e como pai, ao ler a frase do Presidente Xi, concluí que precisamos urgentemente entender como caímos na visão utilitarista que amesquinha a educação superior e mais, ameaça a estrutura que mantem de pé a sociedade. Sem o senso moral regrediremos à selvageria.
“Devemos integrar a educação moral e política em cada aspecto de todo o processo educacional, em nosso esforço para elevar à um novo nível a educação superior da China.” (3)
Aqui o Presidente Xi acrescenta que a busca da excelência no topo começa na base. A busca da excelência na educação superior precisa começar na educação primária. Educação precisa ser moral, esforço de cada um no aprimoramento de si mesmo, e política, esforço de todos unidos em prol de todos. A educação política prepara o cidadão para ser contributivo à sociedade, não apenas para a empresa em que ele vier a trabalhar.
Vivemos em sociedade. Precisamos ter consciência de nossa responsabilidade para com ela. O modelo social em que nascemos foi construído por nossos antepassados. Cabe à cada geração aprimorar o modelo para torná-lo capaz de responder aos novos desafios que surgem. Cada geração recebeu um legado e deve esforçar-se para construir o legado que deixará para as gerações vindouras. Se entregarmos ao futuro só o que recebemos do passado, vivemos em vão. Reduzir a Política à mesquinharia de opiniões passionais e interesses partidários significa entregá-la ao varejo dos egoísmos.
Relembremos o básico. Numa democracia, o povo não deve ser governado, o povo deve governar-se através dos seus representantes. Se nossa responsabilidade restringir-se a irmos votar à cada quatro anos, então seremos governados durante os 1.459 dias restantes. Onde, quando, e com quem nós, brasileiros aprendemos a melhorar nossa democracia para que cuide de todos igualmente, atenda a todos igualmente, para que dê oportunidades a todos igualmente?
Cada um dos um bilhão e quatrocentos milhões de Chineses tenta aprender isso nas instituições de ensino, desde quando entram na escola até quando saem da Universidade. Nós só precisamos encontrar uma forma de ensinar nossa democracia para duzentos e doze milhões de Brasileiros. Quando o fizermos, mudaremos o Brasil em poucas décadas. O povo Chinês transformou um país que quarenta anos atrás era mais pobre que o Brasil, na segunda maior economia do mundo. A China aprendeu com quem naquela época acertava, adaptou à sua cultura, não parou de corrigir seus erros, e segue aprimorando seus acertos. Façamos o mesmo.
“Precisamos fortalecer a ética e os padrões de conduta dos professores, para que eles integrem o ensino de conhecimento com a educação moral, ensinem através do que dizem e do que fazem, se dediquem tanto à pesquisa como às questões sociais, e sigam a ética acadêmica enquanto usufruem da liberdade acadêmica.” (4).
Cinco pares de recomendações distintas são aqui apresentadas em sequência. A tarefa proposta é cada par se mover em harmonia, e os cinco pares se moverem juntos na mesma harmonia. Parece difícil? Um exemplo pode ajudar. É como cinco casais a dançar. O primeiro casal está ao centro. Dele emana a música, e todos dançam a mesma melodia. No primeiro casal os dançarinos são o fortalecimento da ética e do padrão de conduta dos professores. Essa é a condição para que a música soe e motive os demais quatro casais a dançar.
No segundo casal os dançarinos são o ensino abstrato, teórico, indispensável à formação da competência na área específica em que o professor atua, e o ensino moral que o mesmo professor precisa transmitir. Alunos não são máquinas a serem só programadas com conhecimento técnico. São pessoas que estão sendo capacitadas não apenas para serem eficientes tecnicamente. O Professor precisa ajudar cada aluno a se tornar um brasileiro do qual o nosso país possa se orgulhar. No terceiro casal os dançarinos são o dizer e o fazer.
Quando se movem na beleza da coerência, tornam um professor inesquecível. No quarto casal os dançarinos são a paixão pela pesquisa e a paixão por contribuir para a melhoria da vida do nosso povo Brasileiro. No quinto casal os dançarinos são o respeito à Ética acadêmica e a alegria da liberdade criativa na vida acadêmica. Como Professor já afastado da vida universitária, ao ler as diretrizes do Presidente Xi tive saudades do futuro quando a Universidade Brasileira realizará seu sonho de excelência, pois há de ser parecido com o que acabamos de ler.
“Para que possamos realizar o Sonho Chinês de rejuvenescimento da nação, não podemos negligenciar a educação. Temos a necessidade mais urgente do que nunca da educação superior e temos o desejo mais veemente do que nunca de conhecimento científico de excelência, e talentos de altíssima qualidade.” (5).
Nesse trecho o Presidente Xi diz que a China tem pressa. Rejuvenescer o país é urgente. Rejuvenescer sugere revigorar. É usar a experiência do passado para inspirar o presente a construir um futuro melhor para todos. Cada geração tem a sua oportunidade de construir essa ponte entre o passado mais antigo e o futuro mais novo, através de um presente mais criativo.
O tempo não para, nem espera. A educação superior precisa mudar e melhorar mais rápido que nunca. O desenvolvimento dos países depende de conhecimento científico de excelência e talentos de altíssima qualidade. Um trabalho científico que não enfrenta o desafio de mudar a realidade é perneta. Pula inútil na frieza das abstrações, enquanto pessoas sofrem à espera de soluções. Teorias só têm sentido se forem uteis para resolver problemas.
Para fazer jus ao ensinamento do Presidente Xi, agora preciso arregaçar mangas. Comecei frio, preciso terminar quente. A educação no Brasil tem pressa! O povo Brasileiro espera que cada um de nós ajude a Educação a melhorar. O saber precisa ser libertador, precisa livrar o povo dos problemas que o aflige. O saber precisa nos ajudar a desenvolver o país e acabar com o sofrimento da miséria que nos envergonha. Só o desenvolvimento trará as melhorias que o povo Brasileiro precisa com urgência. Só a educação de excelência possibilitará o desenvolvimento. Cada um de nós está nesta sala porque conseguiu estudar em boas escolas e Universidades. Temos o dever de retribuir e lutar para que todos os Brasileiros possam ter escolas e Universidades de excelência. As gerações futuras dependem do que faremos.
Gustavo Pinto
Formado em Filosofia pela PUC-RJ e tradutor do “I Ching”. É autor dos livros “Relâmpagos”, “Gotas de Orvalho”, “Rito da Montanha Sagrada” e “Astrologia e Budismo”
Referência bibliográfica
(1) “The Governance of China”, Xi Jinping, pag. 573, Foreign Languages Press, Beijing, 2017
“A Governança da China II”, Xi Jinping, pag. 643, Editora de Línguas Estrangeiras, Beijing, 2018.
(2) “The Governance of China”, Xi Jinping, pag. 406, Foreign Languages Press, Beijing, 2017
“A Governança da China II”, Xi Jinping, pag. 461, Editora de Línguas Estrangeiras, Beijing, 2018.
(3) “The Governance of China”, Xi Jinping, pag. 406, Foreign Languages Press, Beijing, 2017
“A Governança da China II”, Xi Jinping, pag. 461, Editora de Línguas Estrangeiras, Beijing, 2018.
(4) “The Governance of China”, Xi Jinping, pag. 409, Foreign Languages Press, Beijing, 2017
“A Governança da China II”, Xi Jinping, pag. 464-465, Editora de Línguas Estrangeiras, Beijing, 2018.
(5) “The Governance of China”, Xi Jinping, pag. 406, Foreign Languages Press, Beijing, 2017.
“A Governança da China II”, Xi Jinping, pag. 461, Editora de Línguas Estrangeiras, Beijing, 2018.
As frases do Presidente Xi Jinping estão citadas aqui numa versão que recorreu tanto à tradução publicada em inglês, quanto à tradução publicada em português. Qualquer erro é responsabilidade exclusiva do autor do artigo. Qualquer virtude se deve ao trabalho laborioso e competente dos tradutores que trabalharam sobre o original Chinês. O autor do artigo apenas colheu flores por eles cultivadas e as arrumou no vaso.
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