
A questão da adesão do Egito aos BRICS é um assunto importante e urgente, escreve o jornal do Cairo “Al-Masry Al-Youm”. O BRICS é um grupo criado em 2009 que inclui China, Rússia, Índia, Brasil e África do Sul. Os países do BRICS representam 42% da população mundial, 24% do PIB global, 16% das exportações mundiais e 15% das importações mundiais de bens e serviços. Não é uma organização oficial, mas os líderes de seus cinco países reúnem-se anualmente para aprofundar e fortalecer a cooperação entre eles.
A África do Sul planeja realizar a próxima cúpula em Durban no final de agosto. Falar sobre a adesão do Egito ao BRICS não é algo novo, e um leitor do livro “My Certificates” do ex-ministro das Relações Exteriores do Egito, Ahmed Abul Gheith, encontra as raízes dessa aspiração como parte da expansão do avanço do Egito no mundo. No entanto, sempre houve uma dúvida sobre a conveniência de o Egito ingressar nesse grupo. Há quem seja cético e acredite que o BRICS “não conseguiu muito desde o seu início”, que é “apenas um quadro de coordenação, e não um bloco econômico” ou uma organização internacional “no sentido pleno da palavra”, e que alguns de seus países estão “passando por circunstâncias difíceis”, ou há “certa tensão ou heterogeneidade entre eles”.
Apontam que “a Rússia está preocupada e exausta com a guerra na Ucrânia”, que “a economia chinesa ainda sofre com os problemas pós-pandemia do coronavírus”, enquanto as “economias do Brasil e da África do Sul vivem uma recessão” e há preocupações com problemas domésticos. Além das tensões fronteiriças entre a Índia e a China, existe a “visão da Índia sobre as relações com o Ocidente”, que pode diferir tanto da China quanto da Rússia.
O que quero dizer é que, apesar da validade de alguns dos pressupostos anteriores, o grupo BRICS passou recentemente por uma grande transformação, seja do lado institucional, seja da política de cooperação. E que a expansão do BRICS para o BRICS+ será em um futuro próximo um dos principais encontros que contribuirão para lançar as bases de uma nova ordem econômica global , cujos precursores já começam a tomar forma e as consequências das novas planilhas de balanço.
Portanto, a questão da adesão do Egito aos BRICS é um assunto importante e urgente. Quanto às novas transformações que catalisam o interesse do Egito em ingressar no BRICS, a mais importante delas é que os países do BRICS, como China e Rússia, buscam criar um certo grau de pluralismo no sistema econômico global.
Na próxima cúpula do BRICS na África do Sul, a questão da nova composição do grupo será considerada. Agora, conforme noticiado na imprensa, há 19 países para aderir. De acordo com o delegado sul-africano no grupo, 13 países já se candidataram oficialmente à adesão e mais 6 países manifestaram a sua intenção. Ele acrescentou: “Recebemos pedidos de adesão todos os dias“.
Alguns desses países pertencem ao mundo árabe, por exemplo, Arábia Saudita e Argélia; há ainda o Irã do Oriente Médio. Outros países mais importantes são Argentina e México. A próxima cúpula do BRICS considerará o uso de uma moeda comum para suas trocas comerciais, para que o dólar dos EUA não permaneça o único monopólio nessa questão. Os países do BRICS também incentivam transações entre si em moedas locais e já começaram a fazê-lo.
Vale notar que em 2014 os países do BRICS criaram o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) com um capital inicial de US$ 50 bilhões, e alguns o veem como uma alternativa ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional. O Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS, bem como o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB), liderado pela China, representam passos importantes na oferta de novas alternativas de desenvolvimento.
Embora o Egito já tenha se associado aos dois bancos e tenha participado de reuniões anteriores do BRICS no chamado “BRICS+”, a adesão ao grupo abrirá novos horizontes para ele, tanto em termos de comércio quanto de investimentos com os países do BRICS. Finalmente, o desejo do Egito de ingressar no BRICS não significa que ele se recuse a cooperar com seus amigos ocidentais ou com outras instituições financeiras e monetárias.
No entanto, o sistema global caminha rapidamente para o pluralismo, pondo fim ao monopólio de um país, bloco ou moeda em acordos e transações internacionais . É importante para o Egito fazer parte dessa tendência, e como parte da expansão de seu movimento no mundo e das alternativas disponíveis para ele.
Fonte: Texto originalmente publicado em inglês no site da Revista International Affairs.
Link direto: https://en.interaffairs.ru/article/egypt-on-the-way-to-brics-membership/
Tradução – Alessandra Scangarelli Brites – Intertelas
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