
Apenas uma semana depois que a Moody’s cortou as classificações de crédito de 10 pequenos e médios bancos estadunidenses e indicou a possibilidade de rebaixar as classificações de crédito de alguns grandes bancos dos EUA, o setor bancário deste país enfrentou outro desafio. Na terça-feira seguinte à Moody’s, outra agência de classificação internacional, a Fitch Ratings, alertou que poderia rebaixar as classificações de dezenas de bancos estadunidenses, incluindo o JPMorgan Chase. Enquanto aumentam as preocupações sobre o sistema bancário da superpotência econômica, a turbulência, infelizmente, não se limita ao setor bancário, nem aos Estados Unidos.
Efeito de transbordamento
Chris Wolfe, analista da Fitch, disse em entrevista ao Consumer News and Business Channel (CNBC) que o setor bancário dos EUA aproximou-se de “outra fonte de turbulência”. No início deste mês, a Fitch rebaixou a classificação de crédito dos Estados Unidos de AAA para AA+, tornando-se outra agência internacional de classificação de crédito a questionar sobre a capacidade de governança e gestão fiscal do governo dos EUA desde o rebaixamento da classificação de crédito pela Standard & Poor’s em 2011.
“Viver com o tempo emprestado” retrata a realidade da política fiscal dos EUA. No ano passado, os aumentos substanciais das taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) desencadearam não apenas turbulência bancária doméstica, mas também um cabo de guerra no Congresso em relação à questão do teto da dívida.

O impacto disso vai muito além dos EUA. Hidetoshi Tashiro, economista-chefe da Infinity LLC do Japão, disse à Xinhua que, enquanto os Estados Unidos tomarem empréstimos em dólares de países estrangeiros, eles podem pagar diretamente as dívidas externas imprimindo muitos dólares, diluindo o ônus dessas dívidas. “Políticas e práticas não relacionadas ao mercado que distorcem a competição global, o comércio e o investimento são exatamente o que os Estados Unidos vêm recorrendo proativamente“, disse Tashiro.
“Os efeitos em cascata das tensões no sistema financeiro dos EUA podem levar a um crédito mais restrito e a uma desaceleração mais acentuada em todo o mundo“, de acordo com um relatório do The Wall Street Journal no início deste ano. “A turbulência no setor bancário dos EUA não é só um problema para os EUA, também aumenta os riscos de uma recessão global“.
Adel Mahmoud, presidente do Fórum de Pesquisas Econômicas do Cairo, disse que os Estados Unidos têm exportado sua crise interna para outros países, aproveitando o domínio do dólar. “A hegemonia do dólar atrapalha o funcionamento dos mercados financeiros globais e vai piorar a desaceleração econômica mundial impulsionada pela incerteza de Washington em pagar suas dívidas“, disse ele.

Política de Risco
Em 9 de agosto, o presidente dos EUA, Joe Biden, assinou uma ordem executiva de bloqueio dos investimentos de alta tecnologia dos EUA na China, despertando preocupações sobre a estabilidade das cadeias de suprimentos globais e o ambiente comercial. “O resultado é uma expansão de tarifas, revisões de investimentos e controles de exportação voltados para a China“, observou o Economist em um artigo de 10 de agosto, apontando que a estratégia de Biden para a China simplesmente não está funcionando.
A consequência desse bloqueio não é resiliência nem segurança, acrescentou o artigo. “As cadeias de suprimentos ficaram mais vinculadas e opacas… ficou claro que a dependência dos Estados Unidos dos insumos críticos chineses continua“. O discurso da política dos EUA sobre o comércio com a China mudou de “desacoplamento” para “de-risking” (redução de riscos), e os formuladores de políticas raramente esclarecem sobre quem estão falando. Para alguns políticos dos EUA, cortar a China os deixa mais seguros, enquanto para a economia global, o risco de uma recessão definitivamente aumenta.
“Tanto o desacoplamento quanto a redução de riscos seriam fatais para a economia europeia“, disse o ministro das Relações Exteriores da Hungria, Peter Szijjarto, à CNBC no Summer Davos deste ano em Tianjin, China. “Há uma grande lacuna entre a percepção política e a realidade no terreno. Um desacoplamento acabaria com a economia europeia e também seria muito prejudicial para a economia alemã“, disse ele.
De acordo com um recente documento interno de uma empresa alemã, por exemplo, a operadora ferroviária Estatal Deutsche Bahn custaria até 400 milhões de euros (440 milhões de dólares dos EUA) se tivesse que substituir todos os componentes fornecidos pela gigante chinesa de telecomunicações Huawei em sua rede. As coisas são ainda mais difíceis fora do ocidente. No começo deste ano, cerca de 15% dos países de baixa renda já estavam em situação de grande endividamento e outros 45% estão em alto risco disso, segundo um relatório do FMI sobre a fragmentação do comércio global.
“A fragmentação pode tornar ainda mais difícil ajudar muitas economias emergentes e em desenvolvimento vulneráveis que foram duramente atingidas por vários choques“, disse o FMI. Uma “bomba-relógio”. Foi como Biden descreveu recentemente a economia chinesa, mas só olhando para a recente turbulência econômica nos Estados Unidos e como ela está se espalhando pelo mundo, é possível concluir algo diferente.
Fontes: Copyright Xinhua. Proibida a reprodução.
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