
“Queen Maker” é uma autêntica série de investigação e suspense sobre política, focada nos percalços de uma candidata feminista ao cargo de prefeita de Seul. Ela foge ao padrão romântico, consagrado pelas séries coreanas, mas, igualmente, impacta o telespectador pela qualidade da produção, do enredo, roteiro, ambientação e tudo mais. A série trata de um tema que preocupa a maioria dos países hoje, senão todos, que é a sub-representação das mulheres em cargos eletivos para parlamentos, congressos ou comitês centrais. Estudos apontam que um dos principais obstáculos é a violação de seus direitos, que além da violação em si, representa um risco para as suas vidas. E a Coréia, parece não ser diferente.
Aliás, é o mérito dessa extraordinária indústria cinematográfica coreana, tratar temas, aparentemente distópicos, de maneira surpreendente e cativante. Como na série “Previsão do Clima e do Amor”, cujo cenário é ambientado no Instituto de Meteorologia e Segurança Pública (atenção à associação!) e seus adoráveis personagens, seus dramas cotidianos, enquanto trata a previsão do tempo em alta tecnologia.
E “Queen Maker” (Criadora de Rainhas, tradução Livre) não foge à regra. Hwang Do Hee (Kim Hee Ae) é uma competente e astuta coordenadora de Planejamento Estratégico de um conglomerado empresarial na Coréia do Sul, o Grupo Eunsung, após passar por várias humilhações ao lidar com os desmandos e crimes cometidos pelos herdeiros e encobertos por ela mesma e pela mandatária Son Young Shim (Seo Yi Sook) da poderosa família.

Em certo momento, ela recebe uma missão que a coloca em profundo conflito com suas convicções. Para tentar salvar sua carreira e sobreviver aos poderosos e opressores, ela vai se aproximar de Oh Kyung Sook (Moon So Ri), advogada ativista dos direitos trabalhistas, que organizara protestos contra a demissão injusta de 400 funcionárias, na porta e na cobertura no mais alto prédio de Seul, sede da Eunsung.
Neste movimento, ela percebe o potencial de Oh para a política e sugere a ela candidatar-se ao cargo de prefeita de Seul, desafiando o candidato do poder empresarial e político local, Baek Jae Min (Ryu Soo Young), genro da mandatária Son. Um personagem sedutor, que não mede esforços para dissimular seu comportamento criminoso, desde a prática do estupro e assassinato de uma funcionária, adultério, mentiras convenientes, iludindo as cidadãs e os cidadãos de Seul sobre suas verdadeiras intenções e projetos. Alegando grande conhecimento dos ditos “podres” do poderoso grupo, Do Hee oferece seus préstimos à Oh, para levá-la ao podium e coroá-la prefeita.
O cenário principal é a capital da Coréia do Sul e as disputas por territórios ocupados por pequenos comerciantes que lutam contra a especulação imobiliária do Grupo Eunsung, que almeja expandir seus negócios e domínio. O momento é o tempo presente de um processo eleitoral feito para durar 80 dias, e estes são os personagens principais do cenário das próximas eleições para prefeitura. Nos 11 (onze) episódios da série assassinatos, traições, suicídios e muita perfídia de bastidores, em contraste com a transparência de propostas e estratégias da destemida Oh Kyung na luta pelos direitos de cidadãs e cidadãos da capital coreana.

Tendo como pano de fundo a questão da moralidade, ou seja, a prática do certo e do errado na vida e na política, Do-Hee e Oh Kyung, revelam os malfeitos das candidaturas adversárias, tentando manter a disputa no nível fático, sem recorrer à construção de notícias falsas, com apoio da mídia local. Fato é que Oh Kyung-Sook sai na frente neste quesito. Com história profissional de ativista dos direitos humanos, casada com um poeta e escritor tem uma situação de vulnerabilidade no filho adolescente, que revoltado com as agressões que a mãe vem sofrendo ao longo do processo eleitoral, se envolve numa briga que lhe vale o estigma de arruaceiro e divulgador de pornografia via internet. A campanha de Oh, mantem a estratégia de cumprir os ritos oficiais da justiça, para provar a inocência do jovem.
Entretanto, a questão financeira é o ponto vulnerável da campanha de Oh, que Do-Hee dá nó em pingo d’água para sanar, não sem cometer alguns pecados de percurso. Ficam as perguntas: vale tudo para ganhar uma eleição? Se as candidaturas de mulheres podem, de verdade, representar uma nova maneira de fazer política? Se é verdade, nas sociedades em que a mídia comercial passa todo tempo bradando a corrupção na política, porque será que poucos apoiam as candidaturas femininas ao podium? Não estariam os modelos e as fórmulas, equivocados? A série QueenMaker, tenta dar algumas dessas respostas e, como um bom thriller, com muita emoção e suspense.
Ana Maria Otoni Mesquita
Graduada em Psicologia pela PUC-RS
Mestre em Psicologia Clínica e Psicodrama pela PUC-Rio
Doutora em Ciências pela Ensp-Fiocruz, Rio de Janeiro
Título: Queen Maker (título em original, impossível acessar em caracteres coreanos)
Direção: Oh Jin Suk
Roteirista: Moon Ji Young e Seo Yi Sook
Elenco principal: Kim Hee Ae, Moon So Ri, Seo Yi Sook e Ryu Soo Young
Episódios: 11
Lançamento: 2023
Classificação: Suspense e Investigação
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