Ha-Joon Chang: uma voz contra o neoliberalismo.

Crédito: El País.

Ha-Joon Chang é um sul-coreano, nascido em 7 de outubro de 1963, em Seul, que se tornou um dos maiores pensadores da economia do desenvolvimento, influenciando diversos acadêmicos e intelectuais ao redor do globo. Aqui vamos narrar um pouco da sua trajetória e de suas teorias e posicionamentos políticos, utilizando também alguns trechos traduzidos e pesquisados, diretamente, de fontes da internet e abordando questões presentes nos livros do autor.

Chang defende com veemência a atuação do Estado na economia e apresenta uma forte oposição ao livre-comércio da forma como ele é aplicado atualmente. Após se formar no Departamento de Economia da Universidade Nacional de Seul, em 1991, Chang estudou na Universidade de Cambridge e obteve o título de doutor pela sua tese intitulada “Economia política da política industrial – reflexões sobre o papel da intervenção estadual”.

A contribuição de Chang para a economia heterodoxa começou quando estudava sob orientação de Robert Rowthorn, um importante economista marxista britânico, com quem trabalhou na elaboração da teoria da política industrial, que ele descreveu como meio caminho entre o planejamento central (economia implementada em países socialista como a União Soviética) e o mercado livre. Seu trabalho nesta área é parte de uma abordagem mais ampla conhecida como economia política institucionalista, que coloca a história econômica e os fatores sócio-políticos no centro da evolução das práticas econômicas.

Atualmente, ele faz parte do departamento de Política para o Desenvolvimento da Universidade de Cambridge. Em 2013, a revista “Prospect”, uma publicação britânica, listou Chang como um dos 20 Maiores Pensadores do Mundo. Ele ainda serviu como consultor para o Banco Mundial, o Banco Asiático de Desenvolvimento, o Banco Europeu de Investimento, bem como para a Oxfam e várias agências das Nações Unidas. Ele também faz parte do Centro de Pesquisa Econômica e Política, em Washington D.C. Além disso, Chang atua no conselho consultivo da Academics Stand Against Poverty (ASAP).

Ele é o autor de diversos livros de política que são amplamente usados em salas de aula ao redor do mundo, sendo o mais conhecido: “Chutando a Escada: A Estratégia do Desenvolvimento em Perspectiva Histórica (2002)”, que lhe rendeu o prêmio Gunnar Myrdal da Associação Europeia para a Economia Política Evolutiva, em 2003. Nesta obra, Chang sustenta a teoria de que as nações desenvolvidas, para conquistarem tal status, utilizaram-se de todas as medidas econômicas intervencionistas que hoje negam aos países subdesenvolvidos, como o protecionismo e a forte presença estatal na condução da economia.

 

Ao praticamente obrigarem os países em desenvolvimento a implementarem política neoliberais e de livre-comércio, Chang salienta que as nações ricas acabam contribuindo para uma acentuação da pobreza nestas regiões do mundo e, consequentemente, para a permanência dos países pobres na condição de periferia do sistema econômico mundial. As organizações internacionais também não fogem à crítica do economista.

Ele afirma que as políticas econômicas seguidas pela Organização Mundial do Comércio, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional auxiliam neste contexto que, segundo ele, é o obstáculo fundamental para a redução da pobreza no mundo em desenvolvimento. Em uma entrevista para o jornal Folha de São Paulo, em 2009, o autor explicitou qual seria a alternativa possivel para diminuir esta desigualdade de poder econômico: “Minha proposta é um tipo de protecionismo assimétrico. Os países menos desenvolvidos têm mais proteções e, à medida que avançam, as barreiras diminuem até que possam participar do livre comércio em pé de igualdade com os demais. Um comitê técnico definiria as faixas.

“Enriquecer as pessoas ricas não enriquece o resto de nós”
Ha-Joon Chang

Colocar no mesmo jogo países que não têm forças equivalentes não é o único problema, porém. Os países ricos ainda asseguram proteção para as áreas em que são fracos, como a agricultura. Eles são rígidos em exigir que os países em desenvolvimento eliminem completa e indubitavelmente todas as barreiras aos seus produtos industrializados e em troca dizem que talvez, quem sabe, possam pensar em diminuir os subsídios dados aos seus fazendeiros”.

Esta e outras conclusões presentes em “Chutando a Escada”, além de outros trabalhos levaram-no a receber o Prêmio Wassily Leontief de 2005, em decorrência da sua contribuição para o avanço das fronteiras do pensamento econômico. Tal premiação é promovida pelo Instituto de Desenvolvimento Global e Meio Ambiente, que apresenta na sua lista de ganhadores de edições passadas importantes nomes da intelectualidade mundial: Amartya Sen, John Kenneth Galbraith, Herman Daly, Alice Amsden e Robert Wade.

Uma obra que apresenta tamanhas críticas a estrutura econômica mundial certamente teria seus entusiastas e críticos. Em especial, Douglas Irwin, professor de economia da Dartmouth College, redigiu no site da Economic History Association que Chang teria apenas analisado os países que se desenvolveram no século XIX e um pequeno número de políticas que estes perseguiram. “Ele não examinou os países que não se desenvolveram no século XIX para ver se eles perseguiram as mesmas políticas heterodoxas, porém apenas de forma mais intensa. Este é um método científico e histórico pobre. Suponha que um médico estudasse pessoas com vidas longas e descobriu que fumavam tabaco, mas não averiguasse indivíduos com vidas mais curtas para ver se o tabagismo era ainda mais prevalente. Qualquer conclusão tirada apenas da relação observada seria bastante enganosa”.

Crédito: The Times.

Seguindo as idéias de “Chutando a escada”, Chang publicou “Maus Samaritanos: o mito do livre comércio e a história secreta do capitalismo”, em dezembro de 2008. Nesta obra, Chang respondeu às críticas de Irwin ao argumentar que os países que não tinham desenvolvido-se seguiram geralmente as políticas de livre mercado. Ele ainda argumentou que, embora o intervencionismo estatal às vezes produza falhas econômicas, teve um registro melhor do que as economias de mercado livre não regulamentadas que, de acordo com ele, raramente conseguiram produzir o desenvolvimento econômico.

Ele citou evidências de que o crescimento do PIB nos países em desenvolvimento tinha sido maior antes das pressões externas que recomendavam a desregulamentação das economias nacionais. Assim, ampliou sua análise sobre as falhas do livre comércio para induzir o crescimento através de políticas de privatização e anti-inflacionistas. O livro de Chang ganhou aplausos do economista vencedor do Prêmio Nobel Joseph Stiglitz por sua nova visão e mistura efetiva de casos contemporâneos e históricos, mas foi criticado pelo ex-economista do Banco Mundial William Easterly, que disse que Chang usou evidências seletivas em seu livro. Por sua vez, o autor sul-coreano afirmou que seu colega teria feito uma má interpretação de suas argumentações.

“Inflação baixa e prudência governamental podem ser prejudiciais ao desenvolvimento econômico”

Ha-Joon Chang

Outro livro de sucesso de Chang foi lançado em 2011, “23 Coisas que não lhe falam sobre o capitalismo”, que oferece uma refutação de 23 pontos dos aspectos do capitalismo neoliberal. Isso inclui asserções como “fazer as pessoas ricas ficarem ainda mais ricas, mas não possibilitarem ao resto de nós também enriquecer“. “As empresas não devem estar à mercê dos interesses de seus proprietários” e “A máquina de lavar roupa mudou o mundo mais do que a internet“. Este livro questiona os pressupostos por trás do dogma do capitalismo neoliberal e oferece uma visão de como podemos moldar o capitalismo para fins humanos. Isso marca um alargamento do foco de Chang de seus livros anteriores que foram principalmente críticas do capitalismo neoliberal como relacionado aos países em desenvolvimento. Neste livro, Chang começa a discutir os problemas do atual sistema neoliberal em todos os países.

Em 2014, ele lança “Economics: The User’s Guide”, uma introdução à economia, acessivelmente escrita para o público em geral. Neste livro, Chang introduz uma ampla gama de teorias econômicas, do clássico ao keynesiano, revelando como cada um tem suas forças e fraquezas e que todas as teorias são parciais e a realidade, é mais complexa. Ele usa o exemplo de Cingapura, um país que é frequentemente conhecido por sua política de livre comércio e atitude de acolhimento em relação aos investimentos estrangeiros, mas também tem a uma forte presença do Estado.

As empresas estatais são responsáveis 22% da produção nacional de Cingapura, operando em toda uma gama de indústrias – linhas aéreas, telecomunicações, eletricidade, semicondutores, engenharia e transporte. O governo também possui quase toda a terra e 85% da habitação do país é suplantada pelo governo. Para o professor acadêmico, nenhuma das teorias econômicas pode explicar o sucesso de Cingapura, sua economia combina características extremas do capitalismo e do socialismo.

A economia é maior que o mercado. Nós não seremos capazes de construir uma boa economia- nem uma sociedade melhor- a menos que olhemos para a vasta extensão da problemática que está além do mercado”

Ha-Joon Chang

As propostas de Chang levam a um dos maios importante debates da história da humanidade: a luta por um mundo mais justo. Seguindo a linha de seu livro “Chutando a Escada”, em os “Maus Samaritanos”, ele utiliza o caso da própria Coreia do Sul para embasar seu ponto de vista de que é necessário reaver as medidas econômicas neoliberais, no intuito de almejar viver em mundo com menos pobreza e mais igualdade social. Este posicionamento foi notado e salientado indiretamente por intelectuais como Stanley Engermann: “Ha-Joon Chang examinou uma grande quantidade de material histórico para chegar a conclusões muito interessantes e importantes sobre instituições e desenvolvimento econômico.

Chang usa o quadro histórico para discutir a necessidade de uma atitude mutante para as instituições desejadas nos países em desenvolvimento atuais. Tanto como reinterpretação histórica e advocacia política, “Chutando a Escada” merece uma vasta audiência entre economistas, historiadores e membros do estabelecimento de políticas”.

Fonte: Texto originalmente publicado no site do Koreapost
Link direto: http://www.koreapost.com.br/colunas/ha-joon-chang-uma-voz-contra-o-neoliberalismo-coreanos-pelo-mundo/

“Privatizações: a distopia do capital” (2014), dirigido por Silvio Tendler.

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por Anders Noren

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