
Com o enfraquecimento da soberania nacional coreana a partir dos anos finais do século XIX, seu território passou a ser palco para uma “dança” de interesses estrangeiros. Do Japão, como bem se sabe a história, e dos Estados Unidos. A partir de então, um crescente sentimento toma forma e voz dentro da sociedade coreana, agravado com a Guerra da Coreia e constantes conflitos pelos anos seguintes.
Politicamente, não era novidade que os acordos entre Estados Unidos (EUA) e Japão, durante a colonização da Coreia pelo segundo, já estivessem em vigor. Por exemplo, enquanto o Japão colonizava outros países da Asia, as Filipinas já era possessão dos Estados Unidos. Mas o sentimento antiamericano na Coreia, se fortaleceu devido a presença e comportamento de militares da United States Forces Korea (USFK) devido aos vários crimes cometidos pelos americanos – estupros, assaltos, humilhação e alguns massacres que ocorreram até as recentes décadas finais do século XX.
É um assunto polêmico, afinal mais da metade dos sul-coreanos entrevistados nesta década se dizem a favor das politicas de proteção dos EUA, principalmente por questões econômicas. Porém, devido a atual conjuntura politica da Coreia do Sul (que ensaia uma aproximação com a Coreia do Norte), esta relação com os Estados Unidos pode vir a fragilizar-se e precisa de uma revisão. Porém, é difícil quando um país perde sua memória de eventos que enfraqueceram qualquer politica e sociedade no mundo após a 2ª Guerra Mundial. Questões do Estado podem ou não considerar certos eventos na história para moldar seus planos. Medidas culturais podem facilmente emudecer histórias.

Este tema tem aparecido cada vez mais em minhas pesquisas e nos livros que leio. Mas ao observar bem, por mais que haja maquiagem, algumas representações podem nos levar a entender tais sentimentos. Genericamente, o antiamericanismo se define como a rejeição das ações hostis expressadas pelas politicas e forças armadas dos EUA. Seja diretamente ligado ao governo, instituições domesticas de policiamento, seja pela influência nos valores culturais e pessoais. A fragilidade da cultura contemporânea coreana a partir do momento que sua imagem exportada para o mundo se parece com algo muito americanizado.
Em termos gerais, mundialmente analisando o termo, qualquer nação que tenha enfrentado os EUA contra sua própria soberania e democracia foi denominado antiamericano. Reestruturar, organizar e consolidar a identidade nacional coreana era imprescindível, após a divisão nacional que aconteceu através de atos violentos, violações de leis e direitos humanos dentro do próprio território coreano. O abuso a respeito das terras, das mulheres, até mesmo do meio ambiente foram determinantes para abalar a aceitação das forças militares.

Existem vários níveis de segmentos para esse antiamericanismo na Coreia. O primeiro se opõe ao governo, à sociedade e à cultura norte-americana, significando uma oposição fundamental aos próprios valores que compõem os Estados Unidos. O segundo, o antiamericanismo significa oposição às ações dos Estados Unidos. Centra-se nos efeitos negativos presumidos das políticas dos EUA sobre política, economia, sociedade e relações com a Coreia do Sul.
Já o terceiro, referente as bases militares, é um movimento que critica várias questões relacionadas às bases do Exército dos EUA na Coreia do Sul. Vários incidentes criminais proeminentes e escândalos ambientais de alto perfil nas décadas de 1980 e 1990 envolveram as bases do Exército dos EUA. E por último, o antiamericanismo global, se opõe à globalização liderada pelos americanos. Ele rejeita não apenas a abertura do mercado e a liberalização do comércio, mas também qualquer pressão externa para tornar as instituições e práticas políticas, econômicas e sociais domésticas similares às americanas.

Basicamente, resiste à globalização, em agir como uma nação liderada e dominada pelos Estados Unidos. Afinal, como manter a soberania do país, após um século turbulento e cheio de perdas, se a abertura for além de acordos econômicos? No cinema, a representação desses sentimentos aparecem mesmo que imperceptivelmente.
Você já se deparou com algum filme em que os EUA aparecem como vilões? Depois de ler este texto, você vai pelo menos conhecer alguns onde aparecerem oficiais americanos prontos para sacrificar a Coreia em nome da dominação global dos EUA. Algumas dicas de filme para exercitar a interpretação: “Welcome to Donmaekgol” (2005), de Park Kwang-hyun, “The Host” (2006), por Joon-ho Bong, “Admiral: Roaring Currents” (2014), dirigido por Kim Han-min e “The Flu” (2013), de Kim Sung-su. Inclusive, a indústria cinematográfica da Coreia tem a força de mandar suas mensagens de um jeito ou de outro. Se após a divisão nacional, o cinema procurou se estabelecer dentro dos novos recursos nacionais. Em 1988, manifestações contra a importação de filmes americanos usavam slogans como “invasão cultural, invasão econômica, fora com filmes americanos”

Novamente, após vários movimentos, em 2006 as manifestações se concentraram em se opor ao KORUS FTA (acordo de livre-comércio entre Estados Unidos e Coreia do Sul) e proteger a indústria cinematográfica coreana dos filmes de Hollywood. Esses sentimentos implicam em parte dos esforços para construir um legado soberano protegendo a identidade nacional que, de fato, ainda é frágil e recente demais para deixar a vigilância incessante.
Fonte: Texto originalmente publicado no site do Koreapost
Link direto: http://www.koreapost.com.br/conheca-a-coreia/historia/a-coreia-e-os-sentimentos-dubios-com-relacao-aos-estados-unidos-cores-da-coreia/
Filmografia sugerida:
“Welcome to Donmaekgol” (2005), dirigido por Park Kwang-hyu
“The Host” (2006), dirigido por Joon-ho Bong
“Admiral: Roaring Currents” (2014), dirigido por Kim Han-min
“The Flu” (2013), dirigido por Kim Sung-su
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