Espaço K-POP no Anime Friends Rio 2019 promove nichos de mercado e trocas culturais

Crédito: Mariana S. Brites.

Para os fãs de K-POPanimes e cosplays o mês de julho foi marcado pela 16ª edição do Anime Friends, um dos maiores eventos da América Latina, que ocorreu de 05 a 07 de julho no Rio de Janeiro, Rio Centro, zona oeste da capital carioca, e entre os dias 12 a 14 de julho, Anhembi, em São Paulo. A novidade do presente ano é que pela primeira vez o Anime Friends do Rio de Janeiro recebeu o Espaço K-POP, promovido pela KO Entertainment, trazendo finalmente para o público local a possibilidade de apresentar talentos e trabalhos, além de, certamente, confraternizar, divulgar a cultura coreana e, acima de tudo, promover uma troca cultural bastante interessante entre Brasil e Coreia.

Neste stand destinado à música pop coreana, covers de dança como Red Moon e Medusa, além de cantores como Davi Nogueira, apresentaram seus repertórios. O Canal Omma, de Suzy Lopes de Andrade Aquino, ou como é mais conhecida Suzy Omma Park também esteve presente entre as atrações. Entre um número e outro, a pista teve momentos para a prática de dança livre, animando o público presente que entre parentes, amigos e cosplays paravam para assistir, aplaudir, dançar e cantar. Ocasiões como estas demonstram que aos poucos o interesse pela cultura de vários países do continente asiático como a Coreia vem ganhando espaço no Brasil.

Espaço K-Pop organizado pela Ko Entertainment.. Crédito: Mariana S. Brites.

Conforme a produtora de eventos da KO, Desirêe Nunes, 25 anos, a parceria da empresa com o Anime Friends já ocorre há bastante tempo, e a presença este ano do espaço K-POP no Rio demonstra que os esforços para promover o mercado da cultura coreana no Brasil tem resultado aos poucos, em bons frutos: “no Rio de janeiro trata-se da primeira edição e está sendo bastante interessante e divertido, pois o público é diferente do paulista, o que para nós foi uma experiência enriquecedora e nos possibilita conhecer gente nova”.

Segundo ela, existe uma diferença do fã em São Paulo para o do Rio. “Em São Paulo, o pessoal chega aos eventos é lá permanecem até o fim. Aqui o público é mais observador, passante, que vem para ver o evento como um todo. O K-POP é um dos stands que eles irão aproveitar, curtir, dançar um pouco para depois aproveitar as demais atrações”.

Em uma parceria com a empresa local Meet K-POP, a KO pode finalmente conhecer os covers do Rio, que antes Desirêe afirma só ter tido contato pela internet. “Começamos apenas com uma sala de K-POP, mas então crescemos tanto, que acabamos precisando de um local maior, como uma arena. O Anime friends em si já é repaginado para alocar interesses e públicos diversos como fãs de Harry Potter, do Batman, de jogos e o K-POP também seguiu esta mesma tendência, conquistando seu espaço exclusivo. Isso é algo de grande importância para empresas como a KO, pois surgem novas possibilidades de mercado, mas também desafios. Esta era uma empresa muito pequena, cuja equipe ficava concentrada toda em SP. Mas agora, como estamos crescendo e estamos indo para outros estados, sendo chamados por organizações para o interior paulista, para o Rio, para Curitiba, para Florianópolis, a equipe acaba tendo que expandir e sair um pouco da sua zona de conforto”.

Crédito: Mariana S. Brites.

Sobre o crescimento e o impacto da Ásia como um novo centro econômico e político, que acaba buscando também promover a sua cultura em regiões como a América do Sul, Nunes afirma que apesar do mercado ainda estar em expansão, um futuro promissor para quem almeja trabalhar com cultura coreana já é visível. “Em termos de mercado ainda atuamos muito online, em redes sociais, no YouTube, procurando sempre crescer em números, ter mais espaço e reconhecimento. Por exemplo, em um evento como o KO Festival trabalhamos com K-POP, mas também com cultura japonesa, música brasileira, fazendo um mix de apresentações para o público local. Ainda não é possível viver trabalhando apenas com cultura coreana. Ainda é preciso aproveitar o sucesso de grupos como o BTS. Contudo, estamos explorando bem estes momentos e gerando conteúdo para o público que vem de todos os lugares do país, como o Acre, e de várias partes do mundo”.

São em ocasiões como esta que os grupos covers de K-POP brasileiros vão ganhando espaço e reconhecimento do público estrangeiro. O Beat U, por exemplo, é um grupo cover brasileiro que dança K-POP e é conhecido em vários outros países. “Eles acabaram de voltar de uma competição da Argentina. Sempre estiveram em nossos eventos desde o começo da carreira deles. É uma troca. O trabalho em conjunto é a chave que expande este mercado”. Certamente, eventos como o Anime Friends e o espaço K-POP possibilitam muitos mais que apenas divertimento. Todo um nicho de mercado é gerado em torno destas indústrias audiovisuais, em que os fãs não apenas propagam os produtos e a influência cultural de países como a Coreia e o Japão, mas acabam promovendo para si um estilo de vida, empreendedorismo e uma carreira, movimentando pequenos nichos econômicos.

Crédito: Mariana S. Brites.
Crédito: Mariana S. Brites.

Os cosplays são outra prova disso. Fábio Luan, de 24 anos, que trabalha nos Correios como carteiro, participou do Anime Friends deste ano, ganhando terceiro lugar pela fantasia que levou dois anos para confeccionar. Ele trouxe para o evento o personagem Hitsugaya Toushirou da série de manga e anime Bleach. “É o meu personagem favorito. Há dois anos que venho tentando fazer a fantasia completa dele. Isso teve um custo de R$ 1500, que paguei parcelado. Eu sou um grande fã da cultura japonesa e também do K-POP. Eu faço outros personagens também, mas este é o que mais me identifico, pelo estilo do cabelo dele, pela personalidade, pela forma como ele luta, pelo elemento do gelo que se mistura na composição da roupa. Trata-se de um quimono com uma armadura de gelo. Nos animes, as cenas mais bonitas na minha opinião são as que envolvem este componente, em razão da estética, da forma pontiaguda do gelo que dá um efeito legal”.

Fábio Luan, carteiro e cosplayer do personagem Toushirou Hitsugaya. Sua fantasia ganhou terceiro lugar entre as melhores na edição do Anime Friends deste ano no Rio. Crédito: Mariana S. Brites.

Já Mônia Zimmermann, atriz, de 33 anos, que veio vestida de princesa Valente, personagem do filme da Disney, participou desta edição apenas por hobby. Contudo, ela conta que encontrou no mundo da fantasia um meio de sustento. “Tudo começou como hobby, mas por eu ser atriz, começar também a costurar, fazer maquiagem e a trabalhar com o público infantil, o hobby acabou levando para o personagem vivo. Então, hoje, tenho a possibilidade de unir a vida profissional com uma das minhas paixões. Frequentemente trabalho em eventos, em áreas destinadas ao público infantil, porque faço muitas princesas e sou contratada para ficar nos stands infantis. A Valente é uma das minhas personagens favoritas. Ela tem uma personalidade forte e bem despojada, brincalhona. Da para ficar mais à vontade, diferente das outras princesas que precisam estar impecáveis, bonitinhas e fofinhas. Importei a peruca. O vestido e o arco fui eu que fiz, totalmente manual. Eu costuro muitos vestidos e, às vezes, chegam encomendas para casamentos e tal, mas geralmente os pedidos na sua maioria são de vestidos de princesas”.

Crédito: Mariana S. Brites.

Augusto Schmidt, de 20 anos, estudante de história da arte na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e que almeja ser professor, afirma que cosplay pode sim ser uma forma de sustento se existir persistência. “Isso se torna uma forma de trabalho. Há competições que participamos e que ganhamos prêmios em dinheiro e até viagens para representar o Brasil no exterior”. No Anime Friends de 2019, ele veio fantasiado para um dos dias de Kupiraka, um dos quatro personagens principais do manga/anime Hunter x Hunter. “A história deste personagem é muito comovente. Ele luta para resgatar a memória da tribo dele. Sua personalidade é cativante, pois ele é muito fiel aos amigos, sempre pronto para ajudar quando eles precisam e, acima de tudo, sempre se mantém fiel a ele mesmo”.

Crédito: Mariana S. Brites.

Schmidt conta que fazer a fantasia foi um tanto complicado. “Foi um caos! Corri atrás de tecido no centro da cidade, pesquisei preços de várias lojas, fiz a peça da mão inteira, precisa de muita paciência. Tive de cortar e costurar, mas minha tia, que é costureira, ajudou. Estou aprendendo com ela e com uma amiga que também costura. Eu faço cosplay há muito tempo, mas dei uma pausa porque uma grande amiga que trabalhava comigo mudou para São Paulo. Nesta fantasia de hoje, gastei em torno de R$ 500 reais, a de ontem R$ 120, mas um cosplay pode sair muito mais caro que isso”, afirma.

Para além dos nichos de mercado, as possibilidades de trocas culturais entre Brasil e os países da Ásia podem promover situações que vão além do que se imagina. Sobre o mundo dos idols coreanos e de como o Brasil pode ser apresentado para este novo público asiático, Desirêe Nunes da KO fornece vários exemplos, como na questão específica dos fandoms. “O Brasil está sendo muito bem-visto lá fora, pois o fã brasileiro tem algo único. Isso ficou bastante claro no show do BTS em São Paulo. A energia do fã brasileiro é especial e comentada no mundo todo. A banda sempre salienta o quão gostam dos fãs e de virem ao Brasil. O intrigante é que não interessa se o idol é ainda novato, não muito conhecido, ou é muito aclamado. No fim, o fã brasileiro recebe todos com a mesma energia, com o mesmo carinho”.

Crédito: Mariana S. Brites.

Sobre como o Brasil pode apresentar estes espaços para também promover a sua cultura na Ásia, Desirêe lembra que o trabalho desenvolvido pela KO resulta na oportunidade de chegar às massas, em especial quando emissoras de tv da Coreia comparecem aos seus eventos. Para ela, isso acaba sendo significativo porque a notícia ao chegar em outro país, acaba mostrando questão positivas e importantes como a culinária e os símbolos do Brasil.

O K-POP, ou os eventos de cultura coreana em si, acabam sendo um espaço de troca cultural bastante promissor também, não é algo unidirecional. Por exemplo, a rapper Nada hoje quer muito ir à praia e conhecer a cidade do Rio. É uma chance de mostrarmos um pouco de como vivemos aqui,  da nossa cultura, retirando estereótipos que são criados. Um idol coreano quando vem para cá, acaba repassando para outro o que viu, o que sentiu, como foi a sua experiencia. E, por fim, na própria Coreia, o Brasil fica mais conhecido, com estabelecimentos como restaurantes brasileiros, lojas, ou até os próprios brasileiros que vão estudar, ou trabalhar por lá e acabam ajudando a criar e consolidar esta ponte entre culturas tão diferentes”, salienta.

Fonte: Texto originalmente publicado no site do Koreapost
Link direto: https://www.koreapost.com.br/kp-reporter/espaco-k-pop-no-anime-friends-rio-2019-promove-nichos-de-mercado-e-trocas-culturais/

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por Anders Noren

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