O audiovisual e sua complexidade no espectro profissional

Gravação vídeo clipe/Lurdez da Luz. Crédito: Juliana Ketendjian

Tenho recebido vários questionamentos sobre como se tornar um profissional de audiovisual na atualidade. Por isso, resolvi escrever sobre essa barreira que muitos gostariam de entender. Acredito que primeiro é importante saber que “audiovisual” não engloba apenas vídeo. Talvez essa seja a generalização mais subestimada do termo. O conceito básico de audiovisual mostra uma gama infindável de possibilidades. Segundo o Dicionário Houaiss, audiovisual é “qualquer comunicação, mensagem, recurso, material etc, que se destina a/ou visa estimular os sentidos da audição e da visão simultaneamente“. Com isso, o audiovisual atualmente passou a caracterizar o conjunto de todas as tecnologias, formas de comunicação e produtos constituídos de sons e imagens com impressão de movimento. 

Nesse contexto, o audiovisual faz-se presente no cinema ficcional ou documental, na televisão (aberta ou fechada e todos os seus gêneros), no vídeo (analógico ou digital, de alta ou baixa definição), na videoarte e no cinema experimental, na animação (tradicional ou computadorizada), e também em formatos mais ou menos autônomos, como o comercial de publicidade, o videoclipe, programas de propaganda política,o videogame, o making off, as transmissões ao vivo (em circuito fechado), nos vídeos feitos para exibição na internet ou em telefones móveis. Eu só citei alguns dos exemplos, mas já é bastante coisa. 

Crédito: festivaldevitoria.

Partindo desse universo, a proposta de um profissional de audiovisual já se torna um exercício de compreensão e pluralidade. Alguns preferem ter alguma especialidade, já outros tornam-se multitarefas. O especialista em audiovisual cria a interface da informação original para o espectador, ele cria caminhos para que a ideia original tome forma, som e movimento. Talvez essa pluralidade tenha estabelecido uma distorção de entendimento no mercado. Se falarmos estritamente de vídeo, que é uma parte do universo audiovisual, porém a mais explorada dentre os que querem se profissionalizar, estamos falando do processo de capturar imagens com uma câmera e editá-las de forma que fique agradável ou se encaixe no contexto idealizado, e exibi-las em alguma plataforma.

Mas, quando essa operação que parece simples é assumida de forma profissional? Por definição, tudo que nos gere renda e que cobramos para realizar é uma atividade profissional. Porém, é necessário aprofundar mais esse conceito para não ser tão superficial e limitador. No vídeo acreditou-se que podemos separar o amador do profissional, listando apenas os equipamentos utilizados. Afinal, é uma área que depende estritamente dessas ferramentas.

Crédito: Substantivo Plural.

No entanto, observando o mercado e suas criações, podemos perceber que não se trata disso. Aos olhos do espectador, o equipamento é irrelevante se o resultado final é contextual e agradável, e isso se tornou ainda mais comum com o advento do vídeo digital. Hoje um celular pode criar imagens que tem características similares a um produto final de alta qualidade, e um utilizador comum sem conhecimento de audiovisual pode muito bem criar vídeos que sejam vendáveis em determinadas ideias ou meios artísticos. Não podemos dizer que ele é um amador se seu produto tem características profissionais, concorda? 

A métrica 

Muito bem, vou determinar aqui uma métrica, pois antes de avaliarmos a profissionalidade, precisamos entender qual tipo de audiovisual esse indivíduo está preparado para fazer, e para quem o trabalho será executado. Isso é importante não só para o profissional que vai acabar entendendo quais os produtos que ele está preparado para entregar, mas também para o mercado que precisa saber seus posicionamentos e entregas.  Essa métrica define os meios de como a produção será entendida pelo mercado, seja qual for o segmento. Para tanto, vamos baseá-la em três alicerces que filtram o desenvolvimento de um trabalho, são eles: processo; suporte e objetivo.

Crédito: Tutano Trampo.

O processo é basicamente como se dará a produção. Ele pode ir do mais extenso até o mais simples dentro das três etapas (pré produção, produção e pós produção). O simples seria: gravar o objetivo, editar e finalizar. Já o mais complexo passaria pela pesquisa, análise, estudo, preparação de roteiro, decupagem do roteiro, análise de diálogos, estudo de fotografia, estudo para direção de arte, figurino e maquiagem, fotografia principal/captura de imagens, captura de áudio, decupagem do material bruto, decupagem pré montagem, montagem, edição de vídeo, edição de áudio, mixagem de áudio, colorização, finalização de arte, motion graphics, sonorização, e trilha sonora. Finalmente, define-se aqui quais equipamentos serão utilizados.

Nesses exemplos temos dois extremos, e muitas vezes esses processos misturam-se dentro de diversos projetos. Especialmente quando entendemos que o processo já vai dizer muito sobre o que vai ser o produto final, mas entendemos a necessidade que tudo fique claro. Um curta metragem, um vídeo institucional, um registro de festa, todos têm processos distintos e de metodologia do produtor.

Crédito: translationtidbits.

O suporte corresponde a plataforma de exibição ou meio a que o espectador terá contato com o produto audiovisual. Internet, mídias sociais, DVD, Blu-Ray, salas de cinema, projeções em eventos, projeções em instalações, streamings, TV de sinal aberto, TV a cabo, exibição de arte, exibição em festivais, não importa a plataforma, o suporte pode fazer com que o processo altere-se e o objetivo fique mais assertivo. Entendendo o suporte, muitas vezes o projeto pode ganhar uma identidade própria dentro do processo. 

O objetivo trata-se do que servirá o produto audiovisual. Uma obra publicitária, cinematográfica, um vídeo informativo ou institucional, um vlog ou reality show, uma animação, um game, uma obra artística, etc. O objetivo é outro fator que também altera o processo, e consequentemente o suporte. Com esses três passos, conseguimos qualificar qualquer obra audiovisual, e isso pode ser o verdadeiro divisor de águas entre o profissional e o casual. Quais alicerces estão claros dentro de um amador? Talvez nenhum. O profissional tem para si a obrigação de conhecer os três, pois eles que irão indicar ao mercado que esse profissional tem um produto que se adéqua a tais necessidades, e que seus processos e objetivos estão claros para que ele cumpra bem seu serviço.

De um profissional que registra eventos sociais a um cineasta que tem um processo bem mais complexo, todos passam por esses alicerces e acabam criando a identidade do seu trabalho. O importante disso é saber que cada produto final é diferente do outro, e por isso não devemos confundir sua valorização. No final, a régua apenas separa formas de profissionalismo. Nós criamos o processo para o produto que vendemos, mas olhando os três pilares vamos esbarrar em situações nas quais não temos condições de entrega, não estamos preparados em processo, equipamento ou até conhecimento. Porém, um profissional que sabe onde, como e quando trabalhar, inclusive para buscar aperfeiçoamento, observando esses três pilares, entenderá melhor seu posicionamento e terá mais norte para alcançar seus objetivos.

Fonte: Texto originalmente publicado no Linkedin do autor e adaptado para a Intertelas.
Link direto: https://www.linkedin.com/pulse/o-audiovisual-e-sua-complexidade-espectro-ernesto-andreghetto/

Ernesto Andreghetto

Designer Gráfico pela Belas Artes. Pós Graduado em Cinema, Vídeo e Fotografia pela Belas Artes. Participante do Mestrado da Unicamp em Multimídia e Antropologia da Imagem. Editor, finalizador em produtoras e emissoras de TV. Há 10 anos na Forasteiro Produções.

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