A televisão brasileira não fala de cinema

Natália Lage e a roteirista Cláudia Jouvin, no antigo Revista do Cinema Brasileiro. Crédito: Divulgação TV Brasil.

Tem programa sobre tudo – sobre quase tudo – na televisão brasileira. Mas não tem praticamente nada sobre cinema. Sim, é verdade que não tem também sobre teatro. Sobre literatura, muito pouco. Mas é que cinema é audiovisual, assim como televisão. Era de se esperar que a TV reservasse espaço em sua grade para tratar da, digamos, sua linguagem raiz. 

Estamos a falar da televisão aberta, que é o meio de comunicação de massa de maior alcance, de acesso gratuito. Todavia, mesmo nos canais fechados, e incluindo aqueles especializados em cinema, os programas que se dedicam a debater a sétima arte são raros. Dei-me conta dessa realidade decepcionante ao acompanhar uma edição de Cinematógrafo, da Rede Minas, retransmitido pela TV Cultura.

Lembrei que na TV Brasil, nos tempos em que era uma emissora pública – deixou de sê-lo no atual governo, pontue-se – havia o Revista do Cinema Brasileiro, que já existia desde os tempos de TVE do Rio. Zapeando, a gente encontra mesas-redondas esmiuçando o universo do futebol, o universo dos famosos, o mundo da política, da economia, da natureza…

Há muitos, incontáveis filmes sendo exibidos diariamente. Para quase todos os gostos. No entanto, fora uma e outra participação em algum programa de entrevista, em ocasiões esporádicas, a gente não vê na televisão conversas sobre o cinema – sua história, suas histórias, sua indústria, seus propósitos.

Não é nem o caso de, porventura, uma estratégia de mercado – do tipo não dar visibilidade ao cinema para não gerar público para uma mídia concorrente. Porque as corporações de televisão – Globo, Record, Canal Brasil – são elas também coautoras de produções cinematográficas. Seria, pois, justamente o contrário: gerar público para suas obras em outras plataformas. O cinema, enquanto arte, enquanto mídia, enquanto negócio perde. Perde mais, porém, a sociedade, tolhida no seu direito de se informar, saber e conhecer.

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por Anders Noren

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