Os heróis indianos da Segunda Guerra Mundial

Soldados indianos na Birmânia em 1944. Crédito: Wikipedia/Beco da Índia.

Kirpal Singh (Kip), um soldado indiano que se voluntariou para servir no exército britânico durante a Segunda Guerra Mundial para desarmar bombas não explodidas, é um dos personagens do livro “O Paciente Inglês”, lançado em 1992 por Michael Ondaatje. Quatro anos depois, a obra foi adaptada para o cinema: o filme de mesmo nome, dirigido por Anthony Minghella, ganhou várias estatuetas do Oscars em 1997, nas categorias de melhor filme, diretor, atriz coadjuvante (Juliette Binoche), direção de arte, fotografia , figurino, edição trilha sonoa e mixagem de som. O soldado indiano envolve-se com Hana, uma enfermeira franco-canadense na Itália, no fim da guerra. Uma das cenas mais lindas do filme é a de uma surpresa que Kip prepara para Hana.

Para os brasileiro, talvez essa seja uma das poucas referências da participação da Índia naquele conflito, que durou de 1939 a 1945 e que recentemente foi lembrado já que a Organização para as Nações Unidas (ONU) declarou o 9 de maio como dia para lembrar os que perderam suas vidas nessa guerra que chegou ao fim há 75 anos. Cerca de 2.5 milhões de indianos serviram no Exército Britânico-Indiano durante a 2ª Guerra Mundial em plena vigência da colonização da Índia. Os indianos foram enviados para várias partes do mundo para lutar contra as potências do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), principalmente no Norte da África, Oriente Médio e Europa. Nos seis anos de conflito a Índia perdeu mais de 90 mil combatentes. Os indianos lutaram em várias batalhas famosas, como a de Monte Cassino, da qual tropas brasileiras também participaram.

O general Frank Messervy encontra soldados britânicos e indianos da 17ª Divisão de Infantaria Indiana da Birmânia. A 17ª Divisão serviu durante toda a campanha na Birmânia de 1942 a 1945, participando do retiro inicial do ataque japonês, das batalhas em torno de Tiddim, da Batalha de Imphal, da travessia do Irrawaddy, da Batalha de Meiktila e do avanço final em Rangoon. Crédito: Pinterest National Army Museum.

A ação dos indianos na guerra é uma questão complexa porque a Índia estava sob a dominação britânica. A Índia só se tornou independente em 1947, dois anos após o conflito. Durante a guerra, os habitantes da Índia sofreram muitas consequências nefastas, como inflação alta e a famosa Grande Fome de Bengala, em 1943, com mais de 3 milhões de mortos, que não foi resultado de eventos naturais, mas da exportação de alimentos da Índia, por determinação dos britânicos, e de falta de ajuda aos famintos. Ao mesmo tempo em que ocorria a guerra, o movimento de desobediência civil, liderado por Mahatma Gandhi, intensificou-se: em 1942 Gandhi lançou, por exemplo, o Movimento Quit India, exigindo o fim da dominação britânica da Índia.

O livro “Farthest Field – an Indian story of the Second World War”, lançado em 2015 pelo jornalista Raghu Karnad, é uma bela memória familiar que resgata a história do avô e de dois tios-avôs que lutaram na guerra. O livro, que ganhou o prêmio Sahita Akademi Yuva, em 2016, conta a história dos três homens que tiveram que deixar para trás seus amores e suas famílias para lutar pelo Império Britânico nas Forças Armadas indianas. “É um memorial comovente para sua família perdida e um emocionante relato de como a Índia contribuiu para a vitória dos Aliados e plantou as sementes da independência”, segundo uma resenha publicada pelo “Sunday Times”. Um filme recente de Bollywood conta parte dessa grande história que foi a participação indiana na Segunda Guerra: Rangoon (2017), do diretor Vishal Bhardwaj. A personagem principal, Miss Julia (desempenhada pela atriz Kangana Ranaut), uma estrela do cinema indiano dos anos 40, faz apresentações para tropas e civis no front do Sudeste da Ásia.

A personagem Julia é inspirada em Mary Ann Evans (conhecida como “a destemida Nádia”), uma atriz indiana de origem australiana dos anos 30. A história passa na fronteira da Índia com Myanmar (antiga Birmânia), onde havia crescente dominância de tropas japonesas. Em 1946, um ano após o fim da guerra, um filme indiano sobre solidariedade internacional contra o nazi-fascismo fez bastante sucesso: “Dr. Kotnis Ki Amar Kahani”, dirigido por V. Shantaram. O filme mostra as experiências reais de cinco médicos indianos que se voluntariaram para ir à China. Eles integravam uma missão médica durante a invasão japonesa.

A Revista Intertelas, parceira do Beco da Índia, publicou uma matéria sobre um projeto histórico e literário “Povos do BRICS, dedicado a heróis de guerra”, dos cinco países que integram esse agrupamento: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O artigo original foi publicado pela BRICS: Mundo das Tradições, uma organização não governamental ligada ao governo russo e que visa impulsionar parceria na área da educação, pesquisa e cultural. A TV BRICS fez um documentário sobre a participação dos BRICS na Segunda Guerra. A TV BRICS é também parceira do Beco da Índia.

Fonte: Texto originalmente publicado no Beco da Índia.
Link direto: http://becodaindia.com/os-herois-indianos-da-segunda-guerra-mundial/

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por Anders Noren

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