
Nos últimos anos, vem-se consolidando a tendência de redistribuição do poder no sistema internacional, com destaque para dois fenômenos identificados por Joseph Nye (2011): a difusão de poder, ou seja, a dispersão do poder de atores estatais para atores não estatais; e a transição de poder, isto é, o deslocamento do poder de um Estado para outros, o que pode ser simbolizado pela ascensão dos países emergentes. Ambos os fenômenos trazem importantes implicações para o futuro da ordem internacional em relação ao aparecimento tanto de novos temas quanto de novos atores que influenciam o funcionamento do sistema.
A rápida ascensão chinesa como uma grande potência representa um dos mais importantes desenvolvimentos no sistema internacional contemporâneo (KASTNER; SAUNDERS, 2012), e a principal questão que se coloca é se o país adotará uma posição status quo ou revisionista. Nesse sentido, a pergunta que norteia este artigo é: qual estratégia chinesa de inserção na ordem internacional pode-se inferir a partir de suas ações de política externa?
Por um lado, alguns estudiosos (CHEN; CHANG, 2013) entendem que a China está assumindo uma postura cooperativa e cada vez mais se engajando na ordem internacional existente, por exemplo, mediante o aumento da participação em instituições internacionais; por outro lado, alguns autores (ZHAO, 2013; YAHUDA, 2012) apontam que a diplomacia chinesa vem assumindo uma posição mais assertiva e agressiva nos últimos anos.

A emergência da China como um ator relevante no cenário internacional, principalmente devido a suas altas taxas de crescimento econômico nas últimas décadas, evidencia a importância de analisar quais as principais estratégias de política externa adotadas por esse país. Com o intuito de compreender os atuais temas e tendências da política externa chinesa no contexto de transição e de difusão de poder no século XXI, este trabalho se subdividirá em três partes.
Primeiramente, procurar-se-á entender as principais características da política externa da China e suas recentes transformações. Em segundo lugar, serão analisados alguns pontos da relação sino-americana nos últimos anos, de modo a demonstrar que a mesma caracteriza-se tanto pela cooperação quanto pela competição. Posteriormente, serão enumerados os atuais desafios chineses para os próximos anos que devem guiar seus posicionamentos de política externa.
A metodologia utilizada neste trabalho aproxima-se de um estudo de caso sobre a inserção da China na ordem internacional no século XXI e procura fazer um balanço das análises sobre este tema, tendo por base trabalhos mais aprofundados já publicados e notícias recentes sobre as ações de política externa chinesa nas últimas décadas. Desta forma, pretende-se demonstrar que, embora assuma posições mais assertivas, a China não atua como um país revisionista e procura inserir-se de maneira atuante na ordem internacional existente. De acordo com a teoria sobre transição de poder (KASTNER; SAUNDERS, 2012), as potências emergentes relativamente satisfeitas com a ordem internacional estabelecida são menos propensas a provocar instabilidades do que as potências emergentes insatisfeitas, as quais tendem a desafiar a ordem existente.
Este artigo foi publicado originalmente na revista eletrônica Conjuntura Austral, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais (PPGEEI) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ela também está disponível no site do Observatório dos BRICS do Núcleo de Estudos Estratégicos, Geopolítica e Integração – da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (NEEGI-UNILA).
Autora
Angélica Saraiva Szucko
Mestranda no Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília na área de Política Internacional e Comparada, ingresso em 2015/01. Bolsista de mestrado pela CAPES. Graduada em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo.
Para ler o texto completo faça o download do PDF no site Observatório dos BRICS.
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