“O sucesso da China deve-se à liderança de seu Partido Comunista e à união de seu povo”, Li Yang – Cônsul-Geral da China no Rio

Crédito: Agência O Globo.

A liderança do Partido Comunista Chinês (PCC), a criação de um projeto com características chinesas que atende às demandas e adéqua-se à estrutura cultural e histórica do país, além de uma identidade cultural muito forte que impulsiona os valores de união, são os aspectos centrais, na opinião de Li Yang, cônsul-geral da China no Rio, que sedimentam o sucesso de seu país hoje. Tanto no combate recente à pandemia Covid-19, quanto ao manter sólido um processo de desenvolvimento que já tem décadas e continua capaz de enfrentar os desafios de diferentes épocas. Ontem, quinta-feira, Li Yang, em conjunto com sua equipe, organizou uma coletiva de imprensa online pela plataforma ZOOM, onde respondeu às perguntas dos jornalistas que se inscreveram para participar da oportunidade.

As questões levantadas englobaram um universo que vai desde a presença e retaliação da tecnologia chinesa pelo Estados Unidos, como a cooperação econômica e o multilateralismo entre os países do BRICS, a parceria estratégica entre Brasil e China e às questões referentes à segurança nacional da China, a exemplo da promulgação de Lei de Segurança Nacional em Hong Kong. Na pergunta levantada pelo jornalista Moysés Correa da TV Comunitária do Rio de Janeiro (TVC) sobre o que explicaria a China hoje ter a tecnologia 5G, a mais avançada, estar testando um vacina própria no Brasil e ter Hong Kong de volta, o diplomata afirmou que desde a sua fundação em 1921, há 99 anos, o PCC nunca se desviou de sua principal meta: servir ao povo.

Esta também seria a razão de 93% da população chinesa, constituída de 1.4 bilhões de pessoas, continuar a apoiar o governo e o partido, após tantas décadas, conforme apontou um estudo realizado por uma instituição de pesquisa do EUA, como informa o cônsul. “Esta característica do PCC é o que o difere de outros no mundo, que acabam, ao longo dos anos, modificando e alterando suas prioridades. Um exemplo disso foi o combate à pandemia. A dificuldade que a China teve que enfrentar para controlar o vírus é inimaginável.  A eclosão da doença começou no país e trata-se de uma enfermidade nova. Não sabíamos nada sobre ela e como reagir, sem ter medicamento, ou vacina“, explica.

Porém, mesmo com todas estas dificuldades, o partido liderou este combate com bases científicas. E o número de contágios e óbitos em decorrência da Covid-19 é extremamente baixo. Durante este período, não deixamos ninguém para trás. O paciente mais idoso na China que se recuperou tinha 108 anos, e o mais novo tinha 3 meses de idade. Mas, vemos com muita tristeza que alguns países ocidentais desistem dos idosos. Este é o tipo de liderança que explica a popularidade do partido com o seu povo“, conclui.

Para ele, encontrar um projeto de país que fosse voltado as suas características particulares, e não algo importado de outros países, também faz parte do resultado que a China desfruta atualmente. “O socialismo com características chinesas é único, não há outro modelo socialista igual no mundo. Acreditamos que este modelo que escolhemos é apropriado para nossa característica, nossa cultura e formação e isso que possibilitou o desenvolvimento a longo prazo e estável“. Somado a isso, a existência de uma identidade cultural forte auxilia na promoção de valores coletivos.

É uma identidade cultural que pode ser verificada na união dos chineses, que é um povo que trabalha pelo outro, pelo próximo. Em momentos de crise, como o da presente pandemia, estas características afloram novamente, ficando muito visíveis. Então, mesmo que se tivéssemos uma diretriz governamental de combate forte, se não houvesse um sentimento coletivo, não teria como dar certo. O governo fala, mas as pessoas não colaboram. Um exemplo é o EUA que está com 4 milhões de casos confirmados e a discussão ainda está em usar máscara ou não“, enfatiza o diplomata.

Na China, a reação foi muito diferente. Desde que o governo anunciou que havia uma pandemia, 1.4 bilhão de chineses começaram a usar máscaras, sem este tipo de questionamento. Muitas pessoas perguntam como a China conseguiu este resultado tão bom. A China não tem nada de especial ou de melhor que outros países. Estamos sem vacina e sem medicamentos. Houve sim uma colaboração muito ativa da população de entender e proteger o outro. O que foi dito à população baseia-se em apenas três regras: usar máscara, lavar as mãos e manter distância. Nós fizemos isso de forma disciplinada“, salienta.

Em resposta à Revista Intertelas sobre a participação da América do Sul na Iniciativa Cinturão e Rota e a cooperação entre os países do grupo BRICS, apesar das dificuldades que venham a enfrentar, Li Yang afirma  que da iniciativa já participam 140 países e aproximadamente 30 organismos internacionais. “De acordo com as minhas informações já cerca de 20 países da América latina assinaram a iniciativa Cinturão e Rota. No presente momento, diversos projetos sob o guarda-chuva dela estão sendo implementados“.

Para o diplomata esta trata-se de uma iniciativa puramente voltada ao desenvolvimento econômico. “Ela não é política! Trata-se de uma parceria onde as partes negociam, constroem e usufruem dos benefícios em conjunto, em acordo prévio. Desde o início, ela não é uma imposição do lado chinês de que é necessária essa participação, sempre foi uma escolha livre dos países quererem ou não participar. Tampouco substitui programas de desenvolvimento econômicos do país original já existentes. Os projetos em comum sob a Iniciativa são acordados entre as partes. Geralmente é o país participante que diz qual é o projeto em que tem interesse“, explica.

Com relação ao grupo BRICS, Li Yang acredita que dificuldades entre membros de uma organização são normais. Conforme ele, todas as organizações desde suas criações até florescimento encontraram algum tipo de contenda para resolver. Ele acredita que a pandemia está possibilitando um aprofundamento do relacionamento entre os cinco países em diversas áreas.

Muitos consideram o BRICS como uma plataforma econômica para o desenvolvimento de negócios, mas existe uma série de áreas que não são tratadas. Eu vejo que grandes temas são negligenciados como políticos, sociais, governança, política públicas, e outros que não são abordados e há uma oportunidade de ampliação de debate nestas áreas. Eu vejo o BRICS como um caminho de aprendizado. Por outro aspecto internacional, eu enxergo o mecanismo do BRICS como uma defesa do multilateralismo e da abertura econômica planejada que vai beneficiar não apenas os cinco países, mas muitos outros. Há muito trabalho e projetos em comum que podem ser feitos nesta plataforma do BRICS“, argumenta.

Sobre a recuperação econômica que pode ser liderada pela China no período pós-pandemia, Li Yang destacou que a dificuldade econômica está para todos os países, contudo algumas inciativas auxiliaram o mercado chinês a uma recuperação mais acelerada. “O primeiro trimestre na China não foi uma exceção. Mas, no segundo trimestre, nós já conseguimos apresentar um crescimento de 3,2%. Diversos economistas, sejam eles chineses ou estrangeiros, têm razões para acreditar e fizeram avaliações de que o PIB chinês no ano 2020 ficará no terreno positivo. Podemos dizer que a retomada econômica da China foi realizada conforme o planejamento“.

Segundo o cônsul-geral, é possível enfrentar essa grave crise sanitária e ter uma retomada econômica rápida se o país fizer o dever certo. “A China recuperando-se traz confiança para a economia mundial, auxiliando indiretamente outras economias ao promover oportunidades de negócios, continuando de portas abertas para importar produtos de nossos parceiros. Nós estamos construindo uma política extremamente liberal de atração de parceiros internacionais para o mercado doméstico chinês. No âmbito internacional, a Iniciativa do Cinturão e Rota traz um impacto positivo para a economia desses países. Os projetos garantem os empregos e aceleram a retomada econômica“, conclui.

Sobre as relações específicas com o Brasil e a fase difícil atualmente enfrentada com o governo de Jair Bolsonaro, a pandemia e a crise econômica mundial, Li Yang afirmou que a China observa esta parceria como estratégica global. “O Brasil e a China são membros do BRICS e durante 46 anos sempre tiveram uma relação extremamente amistosa. Os frutos que nós vemos dessa relação são um grande comércio e investimento entre os dois países. Neste ano, em que a pandemia do coronavírus alastrou-se pelo mundo todo, a economia retraiu, o comércio retraiu; o que eu posso colocar como exemplo é que curiosamente o comércio entre Brasil e a China não retraiu. A intenção da parte chinesa, seja ela de parte do governo, ou do empresariado, é continuar nesse ritmo de desenvolvimento alto, de parceria em alto nível, construir essa parceria estratégica que existe entre o Brasil e a China e ajudar os países a atravessar esse momento difícil“.

Ainda sobre as relações Brasil-China, o diplomata salientou o desejo da parte chinesa de aprofundar a cooperação na área de tecnologia e comunicação. Já da parte brasileira, os chineses esperam que continue existindo uma atitude justa, positiva, sem discriminação em relação à China e suas empresas. No que diz respeito a cooperação no setor agrícola, Li Yang enfatizou que se trata de um dos grandes pilares da relação Brasil – China e ainda tem um grande potencial para crescer.

Ele também fez questões de relembrar a cooperação ao combate da Covid-19. “Em 2019, os líderes dos dois países fizeram visitas recíprocas. No mês de março, quando já havia eclodido a pandemia do coronavírus, os líderes dos dois países também se comunicaram por telefone. De acordo com as informações que tenho, desde o dia 6 de maio até o dia 19 de julho, foram 39 aeronaves fretadas que saíram da China e chegaram ao Brasil com material chinês. São mais de 1200 toneladas de material para combate à Covid-19. Pelas informações que temos foram aproximadamente 240 milhões de máscaras cirúrgicas e mais outros equipamentos. Segundo palavras do ministro de Infraestrutura, Tarcísio Freitas, esse material foi amplamente utilizado na linha de frente do combate à Covid-19 no Brasil, poupando muitas vidas“.

Muito questionado sobre a atuação de empresas tecnológicas chinesas, o caso mais emblemático é a Huawei, e as retaliações por parte de países como o EUA, Li Yang afirmou que infelizmente esta questão de teor puramente econômico foi transferida para uma disputa política, em razão da dificuldade dos estadunidenses de concorrer com a tecnologia de empresas da China. “A qualidade da tecnologia 5G da Huawei já é inconteste. É a melhor que tem no mundo neste momento. Existem diversos artigos falando sobre esse tema. É por isso que ocorre uma espécie de campanha para gerar dúvidas sobre a confiabilidade da tecnologia 5 G chinesa, visando atacá-la. No entanto, ela é a mais segura que existe no mundo“.

Na aplicação de suas tecnologias, a empresa sempre assina um acordo de segurança com o cliente, algo feito às claras. Nada é usado para espionagem. E é por essa razão que os EUA hoje atacam a Huawei: eles perderam o ‘timing’, a liderança no setor e, agora, estão reagindo como bandidos. Outra preocupação do Estados Unidos é que se todos esses países resolvem adotar a tecnologia da Huawei, que é segura, eles perdem a prerrogativa de ter acesso aos dados do mundo todo, não podendo mais continuar a espionar, como vêm fazendo há anos“, explica Li Yang em resposta à Susana Lischinsky do Hora do Povo.

Por fim, ainda sobre embates com o Estados Unidos e a Inglaterra, em resposta à CNN Brasil, o diplomata salientou que diferentemente do que se pensa, a maioria da população de Hong Kong apoiou a promulgação da Lei de Segurança Nacional. “Hong Kong é um centro econômico e financeiro da Ásia e já vem com protestos e descontentamento há tempos. Vários setores da sociedade de Hong Kong ansiavam por esta lei, para apaziguar a situação, em favor do retorno da estabilidade e da garantia da prosperidade desta zona autônoma“.

O cônsul ainda comentou sobre a ingerência de norte-americanos e ingleses em assuntos domésticos da China. “A parcela descontente com a lei é um pequeno grupo de manifestantes que é contra a China e que conta com apoio internacional dos EUA e da Inglaterra, interessados no separatismo de Hong Kong.  E por que a promulgamos? Além da estabilidade e garantia da prosperidade, como já foi dito, nossa preocupação é com a segurança nacional. O objetivo de estadunidenses e ingleses é o separatismo de Hong Kong. Eles falam que querem a independência judiciária desta parte da China, o que é mentira“.

Ele concluiu a conferência sendo muito enfático na atuação chinesa para manter a sua coesão nacional. “Nenhum país do mundo permitiria que este tipo de situação fosse prolongada por muito tempo. Posso dizer que o governo central da China teve muita paciência. Foram já 23 anos do retorno de Hong Kong e o governo administrativo da zona especial ainda não conseguiu levantar uma política, ou um conjunto de leis para o seu projeto, porque sempre um grupo associado com alguns países do ocidente provoca uma briga, impedindo a construção de tal projeto. Hong Kong é uma parte da China e assim permanecerá. Dizendo isso, afirmo que as ameaças de retaliação contra nosso país não nos preocupam. Eles que deveriam estar preocupados com o tipo de ameaças que estão fazendo a nós“.

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por Anders Noren

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