
O Profissão Repórter completa 13 anos em 2021, e começou esta temporada, em fevereiro último, cumprindo um papel fundamental neste caos em que o Brasil está afundado. Pena o horário seja ingrato, como já escrevi em outros foros. Enquanto concessão pública, como é a TV Globo, um jornalístico que cumpre com primor seu dever de informar com pluralidade, sob o ponto de vista do interesse público, deveria ir para horário nobre. (Talvez não vá exatamente por isso: porque presta serviço sob o ponto de vista do interesse público, não sob o interesse de quem manda – o mercado, as elites).
Bom, Profissão Repórter vem engendrando uma narrativa audiovisual precisa sobre o Brasil que acumula retrocessos desde o golpe de 2016. São relatos e imagens contundentes, desesperadores, revoltantes; todavia, com muito zelo, cuidado, para não fragilizar ainda mais as fontes; para não terminar de destruir de vez esperanças e sonhos dos espectadores. Não. Até agora, tudo na medida, na dose certa para mostrar as mazelas da realidade, com a dureza que é essa realidade. Contudo, com o tempero exato para que transformemos a indignação em ação, não em fatalismo.
Tampouco se utiliza de retórica panfletária e proselitista, como alguns – geralmente os que se veem desmascarados pelos fatos trazidos pelo programa – chegam a apontar. Não é a narrativa audiovisual que é panfletária e proselitista; os fatos o são, de forma didática: por este caminho em que estamos não dá. Nos afundaremos ainda mais neste fundo-de-poço-sem-fundo. A realidade é que escancara: há um outro mundo possível. Mais que possível: necessário.
A alternância entre planos abertos e em planos em destaques, entre a câmera fixa e a câmera em movimento; os repórteres como narradores, assumindo sua humanidade, sem fazerem-se protagonistas; as perguntas imprescindíveis, assim como os momentos de silêncio, também imprescindíveis; todo esse conjunto de elementos que compõem o jornalismo audiovisual é muito bem agenciado pela equipe, comandada por Caco Barcellos. Profissão Repórter apresenta-se indispensável para compreender o Brasil hoje. E constitui-se documento raro para, amanhã, entendermos o Brasil de ontem.
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