
O clássico de Sun Tzu, ou Sunzi, a “Arte da Guerra” é uma obra muito difundida em todo mundo e acredita-se que foi utilizado por grandes estrategistas militares ao longo dos séculos: de Cao Cao, passando por Napoleão, a Mao Zedong eVo Nguyen Giap. Atualmente, esta obra ganhou uma versão bilíngue no Brasil, em chinês e português, publicada pela editora Edipro e com a tradução do professor de filosofia chinesa clássica Chiu Yi Chih. Nesta oportunidade, o leitor confere a tradução do capítulo I, seguida de um comentário realizado pelo especialista que faz também referências ao pensamento de Laozi, em especial do seu princípio de não ação.
Sun Tzu disse:
“A guerra é o assunto vital do Estado, o terreno da sua vida ou morte, o Caminho da sua sobrevivência ou ruína. Por isso, é necessário que seja examinada. Assim, devemos analisar os seus cinco fatores imprescindíveis, e através de avaliações comparativas e estratégicas, investigar as suas condições. O primeiro fator é o Caminho; o segundo, o Céu; o terceiro, a Terra; o quarto, o Comando e o quinto, a Ordem. O Caminho é seguido quando o povo, em harmonia com a vontade do governante, compartilha com ele a vida e, se necessário, sacrifica-se até a morte sem nenhum temor.
O Céu envolve os Sopros Yin e Yang, o frio e o calor e o princípio que rege as mudanças das estações. A Terra abarca os terrenos distantes ou próximos, difíceis ou suaves, extensos ou estreitos, funestos ou auspiciosos. O Comando inclui as qualidades do comandante como a inteligência, a confiança, a benevolência, a coragem e a disciplina. E a Ordem engloba a organização das tropas, as normas do Comando, a hierarquia das funções, as regras da administração e o fornecimento dos recursos.
Geralmente, são esses cinco fatores que precisam ser conhecidos por um comandante. Aquele que os conhece, vence. Aquele que os desconhece, perde. Por isso, ao realizar avaliações comparativas e estratégicas, procure investigar as seguintes condições: Quem é o governante que segue o Caminho? Quem é o comandante mais habilidoso? Quem sabe tirar proveito das condições do Céu e da Terra? Quais são as leis e decretos mais eficazes? Quem conduz o exército mais forte? Quem possui os soldados mais bem treinados? Quais são as premiações e punições mais justas? É dessa forma que saberemos se venceremos ou fracassaremos.
Se um comandante seguir e empregar minha estratégia, sairá vitorioso e, então, não deverá ser abandonado! Caso contrário, sairá derrotado e deverá ser dispensado. Assim, sendo capaz de fazer as avaliações e conhecendo as vantagens de tal estratégia, o comandante criará situações favoráveis à realização dos seus planos. As situações são aquelas circunstâncias nas quais, sabendo aproveitar-se das vantagens, ele poderá direcionar melhor as suas ações. A arte da guerra baseia-se no método da artimanha.
Por isso, sendo capacitado, mostre-se incapacitado. Quando puder realizar a ofensiva, finja-se inofensivo. Ao estar próximo do inimigo, finja-se distante. Estando distante, finja-se próximo. Se o inimigo for ambicioso, utilize armadilhas para enganá-lo. Se desorientado, capture-o. Se vigoroso, esteja preparado. Se forte, evite-o. Se colérico, irrite-o. Se medíocre, incite seu orgulho. Se descansado, deixe-o esgotado. Se tiver aliados, leve-o à desunião. Ataque-o quando ele estiver despreparado. Avance quando ele menos esperar. Essas são as estratégias para a vitória que não podem ser determinadas e conhecidas antecipadamente.
Assim, se alguém, por meio de previsões realizadas no templo ancestral, conseguiu vencer antes do confronto, a sua conquista se deve ao fato de que realizou muitas avaliações estratégicas que lhe mostraram as condições vantajosas. Por outro lado, se elas apontaram para sua derrota, isso apenas revelou que as condições eram-lhe pouco favoráveis. Somente alcançaremos a vitória se fizermos muitas avaliações estratégicas. Caso contrário, jamais venceremos. Como é possível vencermos sem nenhum plano estratégico? Portanto, através da observação dessas condições, saberemos se venceremos ou fracassaremos“.

Comentário ao Capítulo I
Nesse capítulo, Sun Tzu enfatiza a importância da arte da estratégia na realização da guerra e na administração do Estado. A palavra antiga chinesa estratégia (计-jì) implica a noção de um plano/estratagema criado por meio de uma ponderação consciente e racional a respeito de como devemos proceder na realização de um determinado objetivo. Assim, no contexto da guerra, segundo o pensamento filosófico de Sun Tzu, uma ação somente será eficaz e bem-sucedida se for planejada antecipadamente.
Quando traduzida para o chinês moderno pelos estudiosos chineses, a palavra estratégia pode ser compreendida como cálculo (计算-jìsuàn), planejamento (计划-jìhuà), estimativa (预计-yùjì) e estratagema (计谋-jìmóu). Todos esses sentidos estão interrelacionados, reforçando a ideia de que é fundamental que um governante faça uma prévia e cuidadosa avaliação das condições de uma situação bélica. Essa avaliação estratégica consiste na ação de traçar planos e na elaboração de métodos eficazes com o propósito de atingir resultados positivos. É por esse motivo que Sun Tzu adverte sobre a necessidade vital de uma tal avaliação no sentido de que não se pode negligenciar as possíveis consequências desastrosas que uma guerra poderia causar a um Estado.
Portanto, um comandante deve possuir uma compreensão global de toda a situação, ser prudente em suas palavras e ações para que não sejam violados os interesses do povo e os princípios de organização do Estado. Ora, sem essa compreensão, ele corre o risco de agir de maneira precipitada. Assim, uma ação militar nefasta é justamente aquela que trata com leviandade a vida da população e que não leva em conta as despesas onerosas da guerra, e que por isso mesmo, quando não é estrategicamente planejada acarretará na destruição do Estado.
É por isso que, ao utilizar a palavra terra (地-dì), Sun Tzu diz explicitamente que se trata de um terreno onde ocorrem as ações militares. Existe uma situação (势-shì), um lugar, um contexto com as suas condições específicas que deveriam ser conhecidas por um comandante. Ou seja, antes de adotar qualquer investida bélica, é necessário que ele investigue (索-suǒ) e conheça as circunstâncias do contexto em que será travada a guerra. Sem tal investigação, ou seja, sem um conjunto de avaliações comparativas e estratégicas a respeito daquelas condições específicas, é provável que durante a guerra, o Estado fique suscetível aos riscos de uma derrota. É por esse motivo que o guerreiro, estrategista e comentador Liu Ji (1311 d.C.-1375 d.C.) impregnado de espírito taoista faz a seguinte observação condizente com a filosofia do mestre Laozi:
“As armas são instrumentos de mau agouro; a guerra é imoral. Realmente, recorre-se a elas quando não há outra escolha. Não é certo buscar a guerra agressiva porque o país de alguém é maior e mais próspero, pois isso finalmente acaba em derrota e destruição. Aí, então, é tarde para arrependimentos. A ação militar é como o fogo – se não for interrompido, queima-se a si mesmo. A expansão militar e aventureira logo leva ao desastre. A regra é: mesmo que um país seja maior, se for militarista, ele finalmente perecerá”.
Nesse sentido, um comentador antigo, estrategista e general Zhuge Liang (181 d.C.-234 d.C.) também considera que a guerra só deverá ser travada em caso de extrema necessidade e jamais por meros interesses pessoais, arbitrários e egoístas. É preciso que um comandante tenha uma compreensão lúcida, prudente e objetiva a respeito das condições e consequências de toda atividade bélica, já que se acontecer a guerra, ele terá de organizar uma preparação estratégica, adotando uma série de ações e medidas preventivas:
“Armas são instrumentos de mau agouro, devendo ser usadas apenas quando inevitável. O curso adequado da ação militar é, primeiro, estabelecer a estratégia e, depois, colocá-la em prática. Monitorar o ambiente, observar as mentes das massas, praticar o uso do equipamento militar, clarificar os princípios de premiação e punição, observar os esquemas dos inimigos, prestar atenção nos perigos das estradas, distinguir locais seguros e perigosos, descobrir as condições das partes envolvidas e reconhecer quando avançar e quando se retirar.
Seguir o tempo das oportunidades, estabelecer preparações para a defesa, fortalecer o seu poder de ataque, melhorar as habilidades de seus soldados, mapear as estratégias decisivas e considerar questões de vida e morte. Somente após tudo isso, você deve enviar as forças armadas, nomeando os líderes militares e estendendo o poder de capturar inimigos. Esse é o esquema de coisas em assuntos militares”.
O sábio taoista Laozi já fazia a mesma observação crítica no seu clássico Dao De Jing:
Armas belíssimas não são instrumentos propícios.
São coisas que todos detestam!
Quem possui o Dao não se empenha nelas.(…)
Sendo necessário utilizá-las,
ele age com quietude e sobriedade.
Vence sem encontrar o prazer na guerra.
Porém, caso venha a sentir o prazer
e a satisfação em matar as pessoas,
não alcançará seu propósito no mundo.
Com efeito, através dos comentários de Zhuge Liang e Liu Ji, percebe-se que Sun Tzu havia elaborado uma filosofia de arte militar cujo ensinamento essencial estava fundamentado no princípio de Não Ação de Laozi. Segundo tal concepção taoista, no momento em que agimos, geralmente queremos interferir nos eventos mediante o emprego de nossas forças, intenções e desejos. Assim, ao invés de observarmos atentamente os acontecimentos no seu processo natural e agirmos de acordo com as situações, acabamos por agir de maneira forçosa (有为-yǒuwéi). Em outras palavras, nossa ação (为-wéi) é permeada pela interferência de nossa mente (心-xīn) que justamente bloqueia o fluxo natural com a sua artificialidade.
Desse modo, no caso da guerra, se perpetrarmos atrocidades simplesmente motivados pelo sentimento de ódio, estaremos sendo constrangidos pelos nossos próprios desejos e intenções mentais. É por isso que Laozi concebe uma ação da Não Ação: podemos agir sem nos fixarmos em nossos próprios pensamentos, desejos, caprichos, sentimentos e intenções. Tal atitude não significa passividade, indiferença ou inação (“não fazer nada”), como se os acontecimentos fossem produtos do mero acaso.
Trata-se simplesmente de agir com desapego em conformidade com as circunstâncias de um contexto mais amplo, com o que se chama de Caminho (道-dáo), a saber, a ordem da totalidade. Nesse sentido, mesmo que tenhamos de lutar na guerra, é possível combatermos sem disputar. Como nos diz Laozi: “O Dao do Céu é bom em vencer sem disputar (不争-bùzhēng).” , ou seja, sem trazer consigo o estado mental/artificial da rivalidade. É nesse sentido que podemos alcançar a máxima eficiência em nossas ações com o mínimo emprego da força, já que, em muitos casos, quando mal utilizada essa última mostra-se prejudicial e maléfica.
Assim, de modo análogo, na nossa vida, seria mais prudente que pudéssemos refletir se devemos iniciar ou não um determinado projeto, um trabalho ou qualquer outra atividade empreendedora. É necessário que ponderemos as consequências, as condições e as ações estratégicas que deveríamos assumir antes mesmo de entrarmos em confronto com o contexto situacional (antes de iniciarmos a “guerra”). Ora, a vitória ou o fracasso de qualquer empreendimento será determinado pelo conhecimento pragmático das circunstâncias específicas nas quais agimos.
Portanto, agir simplesmente movido pela impulsividade e sem refletir sobre a nossa ação será certamente muito danoso. É por isso que, depois de ter sublinhado a relevância da investigação a respeito da situação da guerra, Sun Tzu examina as cinco condições necessárias para a realização de uma ação bélica: o Caminho, as condições climáticas (Céu), o terreno (Terra), o comando militar (Comando) e a organização (Ordem).
A primeira condição fundamental é o Caminho (道-dào), porque é na dimensão ética do Caminho que se realiza um acordo mútuo entre a vontade do povo e a vontade do governante soberano. Esse acordo, essa harmonia das vontades não só é fundamental para a conquista da vitória na guerra, como para a implementação de qualquer ação coletiva. É evidente que o povo só se harmonizará com o líder governante se esse último puder tratá-lo com benevolência, justiça e lealdade. Não é por outra razão que a noção do Caminho que preconiza essa harmonização traz consigo uma dimensão ética, visto que se não houver uma reciprocidade ética baseada naquelas virtudes, dificilmente o povo confiará no seu soberano a ponto de sacrificar-se na luta até a morte.
Por isso, para o sucesso de qualquer empreendimento, é necessária a construção de uma reciprocidade baseada nas virtudes da benevolência, justiça e lealdade. Do ponto de vista humano, é compreensível que o sucesso de qualquer ação dependa da harmonia recíproca entre as partes envolvidas. Assim, se num grupo de pessoas, uma parte manifesta opiniões e interesses divergentes, o desafio consiste precisamente em chegarmos a um acordo no sentido de conciliação dos conflitos, buscando assim o Caminho de integração e de complementaridade das partes. Sem essa integração, a ação coletiva perde forças e dificilmente alcança bons resultados.
Na análise das condições da guerra, precisamos também examinar o Céu (天-tian). Nesse caso, o Céu envolve as condições climáticas. Há estações como o verão e o inverno que não são propícias para a ação bélica e circunstâncias como inundações, pragas e secas contra as quais deveríamos nos precaver. Da mesma forma, do ponto de vista das relações humanas, somos confrontados com as inúmeras situações que são sempre variáveis e contingentes. Como há situações favoráveis e desfavoráveis – e nisso consiste a condição da vida humana – a questão fundamental passa a ser: como devemos nos adaptar às tais inconstâncias? Como devemos agir, sendo flexíveis e atentos às dificuldades que possam surgir nesse caminho? Há sempre momentos apropriados e inapropriados aos quais devemos estar atentos. Se ignorarmos essa condição circunstancial, agiremos de maneira inapropriada.
Ademais, devemos também examinar a condição da Terra (地-dì), ou seja, examinar o “terreno” e as diversas condições topográficas, considerando as distâncias (longas ou curtas) que poderão facilitar ou dificultar as expedições militares. Ora, na nossa vida, é necessário que conheçamos a área em que estamos atuando. É importante saber quais são as rotas e os meios que podemos adotar para a realização de nossos objetivos. Geralmente, devemos evitar terrenos íngremes e difíceis, já que desperdiçaremos enormes quantidades de energia no processo da caminhada. Vale a pena refletirmos sobre o conselho do mestre taoista Laozi: “Planeje o difícil a partir do fácil. Realize o grande a partir do pequeno”. Seria mais produtivo conseguirmos trilhar um terreno mais fácil, realizando bem as pequenas obras para que gradualmente venhamos a atingir objetivos maiores.
Em seguida, é preciso observar a condição de quem é comandante (将-jiāng), ou seja, daquele indivíduo que, exercendo o comando militar, deveria possuir as virtudes tais como a inteligência (智-zhì), a confiança (信-xìng), a benevolência (仁-rén), a coragem (勇-yǒng) e a disciplina (严-yán). A razão principal é que, sendo inteligente, um comandante será hábil em traçar estratégias e saberá como deve ajustar-se a uma nova situação. Sendo benevolente, sentirá amor e compaixão pelo seu exército e por todo o povo. Sendo confiável, será digno da confiança do povo. Sendo corajoso, possuirá o espírito de determinação. Sendo disciplinado, revelará sua firmeza de caráter.
Assim, se por um lado, um comandante deveria possuir aquelas virtudes, por outro lado, o seu exército deveria submeter-se à condição da Ordem (法-fǎ), ou seja, a um sistema de organização. Ora, tal ordenamento sistemático deve estar ancorado nas normas e orientações determinadas pelos seus altos oficiais. Dentro dessa organização, é necessário que haja uma divisão de funções de acordo com o princípio de hierarquia. Além disso, toda a organização deve ser também provida de recursos e ser bem administrada. De maneira análoga, na nossa existência, se pudermos cultivar as virtudes como a inteligência, a confiança, a benevolência, a coragem e a disciplina, estaremos desenvolvendo as potencialidades de nosso ser.
Além disso, para realizarmos uma obra, é necessário que planejemos as etapas necessárias para a sua consecução. Daí por que antes de iniciarmos qualquer tipo de empreendimento, trabalho ou atividade, antes de entrarmos no “campo de batalha”, devemos avaliar as circunstâncias do momento e organizar os nossos planos de modo que estejamos preparados para enfrentar qualquer tipo de adversidade. Para atingir a excelência na operação militar, Sun Tzu preconiza a conduta ética como uma qualificação primordial de um bom governante. É esse o sentido de sua pergunta: “quem é o governante que segue o Caminho (道-dào)?”.
Aqui novamente a palavra Caminho remete à dimensão ética. O que Sun Tzu está dizendo é que um governante deve possuir a virtude da benevolência para que possa agir de maneira equânime e justa com o seu povo. É apenas desse modo que sua administração será eficaz e ética do ponto de vista humano. Portanto, o melhor governante jamais se comporta como uma pessoa arbitrária e imoral. Ora, além da qualificação ética do governante, a vitória na guerra depende também da existência de comandantes habilidosos, de soldados treinados e de um exército poderoso.
As premiações e punições aplicadas aos soldados na guerra devem ser bem administradas para que não haja, por exemplo, premiações exageradas que não resultarão em nenhuma ação proveitosa ou punições severas que apenas demonstrarão arbitrariedade e autoritarismo. No que diz respeito à questão das premiações e punições aplicadas de maneira eficiente, Zhuge Liang considera que:
“uma política de premiações e punições significa premiar os bons e penalizar os malfeitores. Premiar os bons é promover os feitos heróicos; penalizar os malfeitores é prevenir a traição. É imperativo que prêmios e punições sejam justos e imparciais. Quando sabem que prêmios são dados, guerreiros corajosos sabem pelo que morrerão; quando sabem que punições serão aplicadas, os vilões sabem o que temer.
Portanto, os prêmios não serão dados sem razão e as punições não deverão ser aplicadas arbitrariamente. Se os prêmios forem dados sem razão, aqueles que trabalharam duramente no serviço público ficarão ressentidos; se as punições forem aplicadas arbitrariamente, as pessoas tornar-se-ão amargas”.
Portanto, na dimensão das realizações humanas, além de agirmos de maneira ética, devemos nos manter sempre preparados para enfrentar qualquer espécie de situação. Como observa Sun Tzu, se formos capazes de criar as situações favoráveis das quais poderemos tirar um bom proveito, é provável que sejamos bem-sucedidos nos nossos empreendimentos. Assim, por exemplo, utilizando o método da artimanha (诡道-guǐdào) que consiste em agir de maneira ardilosa, isto é, se escondermos as nossas intenções e agirmos de maneira simulada, nosso adversário sempre ficará confuso e impossibilitado de nos atacar.
Ele sempre estará vulnerável aos nossos ataques e situado numa posição desvantajosa, já que desconhecerá nossas intenções e estratagemas. Se estivermos atentos e preparados, aproveitaremos de nossa situação vantajosa e o atacaremos de maneira inesperada. É esse espírito de prontidão que Zhuge Liang aconselha para que conservemos em cada momento da guerra, ainda que estejamos em condições favoráveis de vitória:
“Quando você derrotar os inimigos em batalha, será bom não se tornar arrogante, nem descansar sobre os louros da vitória. Você deve estar seriamente preparado para os adversários o tempo todo. Então, mesmo que os inimigos ataquem, você estará pronto e não terá prejuízos…Quando derrotado em batalha pelo inimigo, não tema. Você deve pensar em como tirar algum benefício do prejuízo sofrido: cuide de seu equipamento, levante seus soldados e veja o inimigo relaxar da tensão, de modo que você possa atacar. Aí, então, vencerá”.
Portanto, o segredo da boa realização é realizar uma avaliação das circunstâncias do momento e saber tirar proveito de todo o contexto situacional. É por essa razão que podemos ainda criar novas situações que sejam propícias à realização de nossos objetivos. Mas isso só será possível se tivermos uma compreensão global de todos os fatores (事-shì) e condições (情-qíng) envolvidas num determinado contexto antes de adotarmos qualquer tipo de iniciativa, e é por isso que Sun Tzu sugere que investiguemos esses elementos. Pois, se cada situação é única, teremos sempre de nos adaptar a ela e sermos flexíveis na nossa estratégia de ação.
Esse conhecimento circunstancial é valioso na medida em que poderemos modificar as ações sempre quando houver a necessidade. Assim, seria contraproducente agirmos sem nenhuma prévia e cuidadosa avaliação das situações nas quais nos encontramos. Se não tivermos a prudência de analisar um determinado contexto situacional, correremos seriamente o risco de agir de maneira irrefletida. Logo, a vitória ou o fracasso dependerá do nosso conhecimento das circunstâncias e da capacidade adaptativa de nossas ações.
Chiu Yi Chih (邱奕智)
É professor de filosofia chinesa clássica no Centro Cultural de Taipei (São Paulo) e em cursos online. É chinês nascido em Taiwan e naturalizado brasileiro. Filósofo, tradutor, poeta, mestre em Filosofia Antiga Grega (USP), graduado em Letras Clássicas (Grego Clássico-Português/USP) e praticante de Tai-Chi. Publicou um livro de poesia “Naufrágios” (Multifoco-2011), um livro de ensaios filósoficos e poemas “Metacorporeidade” (Córrego-2016), “Caminho taoísta” (2021) e a tradução dos clássicos “Dao De Jing” (Mantra-2017), “Vazio Perfeito” de Liezi e “A arte da guerra” de Sun Tzu em versão bilíngue comentada. Em breve publicará o seu novo livro de poesia “Osso Vazio”. Atualmente vem pesquisando as obras de Zhuangzi, os Sutras do Budismo Chan
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