
O conflito na Ucrânia causou muito debate no Ocidente sobre se as alegações da Rússia de que está lutando contra forças nacionalistas e até neonazistas neste país são legítimas. Desde o golpe de Estado de 2014 era difícil não perceber que esses processos no país ganhavam força junto com sentimentos russofóbicos e procissões de tochas das unidades de combate. De onde vieram essas teorias e visões na sociedade ucraniana? Para responder a essa pergunta, precisamos relembrar a história.
Com o colapso da URSS, Kiev teve a oportunidade de escolher uma ideologia construtiva para criar um Estado independente. Era possível confiar ideologicamente na velha história da Kiev Rus ou parcialmente na herança soviética, como foi feito na Bielorrússia. Em vez disso, as autoridades ucranianas escolheram uma ideologia, em primeiro lugar destrutiva e, em segundo lugar, pelos padrões históricos, absolutamente nova – do início do século XX – que já não funcionou no passado próximo.
Essa ideologia recebeu o nome de uma pessoa que viveu há relativamente pouco tempo – Stepan Bandera. Assim, foi formado como um movimento nacionalista ucraniano no território da Ucrânia Ocidental – nas condições primeiro da ocupação austríaca, depois polonesa, depois, sob pressão assimilatória e influência da Alemanha, e, mais tarde, transformado em organização anti-soviética.
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O problema sempre foi que a ideologia de Bandera, limitada por sua estrutura nacionalista, não estava pronta para as realidades de toda a Ucrânia como um Estado multinacional. Sua incapacidade de construir um Estado durante a Segunda Guerra Mundial finalmentefez com que seus adeptos adotassem a única linguagem que eles podiam falar – a linguagem do ódio e da violência contra todos os dissidentes.
Essa ideologia não conhece nenhum outro modo de existência a não ser cercada de inimigos. No alvorecer (na década de 1920) do surgimento da Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN), os poloneses eram considerados o principal inimigo. Mais tarde, suas teorias e visões aproximaram os nacionalistas ucranianos dos nazistas alemães, que os usaram durante a Segunda Guerra Mundial em atividades subversivas no território da União Soviética. É difícil acreditar, mas durante a ocupação fascista, os nacionalistas, agindo como cúmplices dos nazistas, alimentaram esperanças fantasticamente ingênuas de que Hitler doaria-lhes a Ucrânia e eles criariam um Estado sob o patrocínio dos nazistas.

Sendo nacionalista, precisava da imagem do inimigo eterno. Sem tal imagem, o nacionalismo perde o propósito de existência e, se não há inimigo, o nacionalismo o inventa. Curiosamente, esse legado migrou para o século XXI e como resultado o mundo russo tornou-se um inimigo inventado. Infelizmente, muitos herdeiros dessa ideologia restaurada chegaram ao poder na Ucrânia trazendo seus pontos de vista para a política, mas havia muitos que discordavam deles no país.
Foi isso que acabou causando a desintegração interna do Estado ucraniano e levou à retirada da Crimeia e de duas regiões orientais de Kiev. Pela tentativa implacável de espalhar idéias nacionalistas por toda a Ucrânia, o regime de Kiev conseguiu apenas que essa ideologia tóxica dividisse o país. Como resultado, testemunhamos as consequências catastróficas e de longo alcance que agora estão em curso.
Fonte: Texto originalmente publicado em russo no site da International Affairs.
Link direto: https://en.interaffairs.ru/article/ukraine-nationalism-as-the-basis-of-a-failed-state/
Alex Gursky
Colaborador para a Revista International Affairs
Tradução e adaptação – Alessandra Scangarelli Brites – Intertelas
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