Sudão enfrenta escassez de alimentos ou até crise em 2022, dizem especialistas

Um proprietário com seus cereais à venda em um mercado local em Cartum, capital do Sudão. Crédito: Mohamed Khidir/Xinhua.

Neste ano, o Sudão está enfrentando uma escassez de alimentos ou mesmo uma crise, e as pessoas que sofrem de fome aguda podem chegar a cerca de 18 milhões do total de 45 milhões de habitantes do país, alertaram especialistas locais. Os três principais contribuintes para o agravamento da situação no país são a crise russo-ucraniana, as políticas econômicas internas e a fraca produção agrícola, segundo especialistas econômicos sudaneses.

Sabemos que o Sudão importa mais de 90 por cento de suas necessidades de trigo da Rússia e da Ucrânia“, disse à Xinhua, Abdul-Khaliq Mahjoub, especialista sudanês em economia. “É difícil encontrar fontes alternativas no momento e, devido ao impacto da crise, o Sudão enfrenta riscos representados pela incapacidade de comprar trigo a preços altos“, acrescentou ele.

Atualmente, o preço do trigo por tonelada no Sudão é superior a 600 dólares, 180 por cento superior ao mesmo período do ano passado. Mohamed Al-Nayer, professor de economia da Universidade Internacional da África, na capital Cartum, culpou as políticas governamentais pelos riscos de insegurança alimentar no país. “A maioria dos relatórios internacionais tentam mostrar que a crise russo-ucraniana é a causa da crise alimentar global, mas para o Sudão, as políticas irracionais do governo atuam como o principal motivo“, disse Al-Nayer em entrevista à Xinhua.

Um agricultor sudanês trabalhando em seu campo em Cartum, capital do Sudão. Crédito: Mohamed Khidir/Xinhua.

Pela falta de preocupação com os agricultores, falta de tecnologia agrícola e maquinário de colheita, além da falta de compra de trigo dos agricultores (a um preço razoável), o governo é obrigado a importar trigo“, explicou ele. A produção de grãos, especialmente trigo, diminuiu este ano no Sudão em razão dos altos custos, especialmente em derivados de petróleo, escassez de fertilizantes e epidemias, de acordo com o relatório anual da Missão de Avaliação de Abastecimento de Culturas e Alimentos (CFSAM). Durante a temporada agrícola 2021-2022, a produção total de grãos foi de 5,1 milhões de toneladas, 37 por cento abaixo da temporada anterior de 8,1 milhões de toneladas, segundo o relatório.

“Além disso, o fracasso do governo em comprar trigo a um preço definido anteriormente pode forçar os agricultores a contrabandear sua colheita para fora do país”, disse Al-Nayer. Em seu último relatório sobre a situação alimentar no Sudão, o Escritório da ONU para Assuntos Humanitários alertou que 14,3 milhões de sudaneses, representando cerca de 30 por cento da população do país, precisariam de ajuda alimentar em 2022.

O Sudão vive um aumento contínuo nos preços do pão feito de farinha de trigo, já que um pedaço de pão agora custa cerca de 50 libras sudanesas (0,11 dólar americano). O Sudão vem sendo afetado por uma crise econômica desde a secessão do Sudão do Sul em 2011, que custa ao país 75 por cento de suas receitas de petróleo. A crise foi exacerbada quando os Estados Unidos e as agências internacionais suspenderam a ajuda depois que Abdel Fattah Al-Burhan, comandante geral das forças armadas sudanesas, declarou estado de emergência em 25 de outubro de 2021 e dissolveu o Conselho Soberano.

Os Estados Unidos suspenderam 700 milhões de dólares em ajuda econômica ao Sudão, enquanto o Banco Mundial não ofereceu ao Sudão os 500 milhões de dólares com vencimento em novembro de 2021. O Fundo Monetário Internacional (FMI) também suspendeu os 150 milhões de dólares em direitos de saque especiais para o Sudão. O processo de alívio da dívida do Sudão no âmbito da Iniciativa para Países Pobres Altamente Endividados do FMI também foi suspenso.

Fonte: Texto originalmente publicado no site da Xinhua
Link direto: http://portuguese.news.cn/2022-05/24/c_1310602750.htm

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por Anders Noren

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