
No dia 18 de junho de 1908 aportou em Santos, São Paulo, o primeiro navio que trouxe imigrantes japoneses ao Brasil. Décadas depois, o país tornou-se a casa para a maior comunidade de japoneses e seus descendentes fora do Japão, contando com uma população em torno de 2 milhões que hoje vivem por aqui. Ao levar em conta a data histórica, neste ano de 2022, a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro organizou três iniciativas que ocorreram na quarta-feira passada, dia 1 de junho, no plenário da Câmara: uma solenidade de entrega do título de cidadão honorário ao cônsul-geral do Japão, Ken Hashiba, organizada pelos vereadores Tarcísio Motta (PSOL) e Cesar Maia (PSDB); a entrega do título à Kōbe, no Japão, de cidade-irmã do município do Rio de Janeiro, promovida pelo vereador Eliseu Kessler (PSD); e a abertura da exposição “Japão na Câmara”, idealizada pelo vereador Pedro Duarte (NOVO). A exposição é gratuita, aberta ao público e conta com bonecas ilustrativas do teatro Kabuki, peças em madeira, origami e cerâmica. A visitação ocorre até dia 21 de junho, de segunda a sexta, das 9h às 18h, no Saguão José do Patrocínio, na Câmara do Rio.
Na solenidade estiveram presentes diversas entidades que promovem a cultura e a língua japonesa, representantes de instituições da cidade e do estado do Rio e autoridades locais e diplomáticas de outros países, além de integrantes da comunidade do Rio de Janeiro. Compuseram a mesa do plenário: os vereadores Tarcísio Motta (PSOL), Eliseu Kessler (PSD), Pedro Duarte (NOVO), o presidente do Instituto Cultural Brasil-Japão (ICBJ) e cônsul geral honorário do Sri Lanka Sohaku Bastos, o presidente da Associação Nikkei do Rio de Janeiro e da Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira do Estado do RJ (RENMEI) Minoru Matsuura e o cônsul geral do Japão Ken Hashiba.
Em sua exposição, Matsuura fez questão de salientar a importância da homenagem da câmara na entrega do título de cidadão carioca ao cônsul geral do Japão: “É motivo de orgulho e satisfação e demostra a proximidade da comunidade japonesa com o povo do Rio”, salientou. Já Sohaku Bastos, em sua fala, enfatizou que ser cidadão é ter consciência de ser sujeito de direitos e deveres: “Podemos declarar que o homenageado se enquadra perfeitamente neste conceito de cidadania… sempre colaborador com o desenvolvimento e a divulgação da cultura japonesa em nossa cidade e estado, da mesma forma que ele tem contribuído e muito para a divulgação da cultura brasileira em terras nipônicas”.
O presidente atual do ICBJ, que viveu e tem parentes na cidade de Kōbe, relembrou antes da cerimônia, em entrevista à Intertelas, que tais homenagens refletem a importância da relação entre Brasil e Japão e que o instituto cultural teve um papel central nesta trejatória. “Em mais de 100 anos, tirando o período da Segunda Guerra Mundial, a história desta longínqua relação é de uma aproximação sólida e cuja retomada no pós-guerra, quando o Rio ainda era capital do país, o Instituto Cultural Brasil-Japão teve papel fundamental. Com a sua recriação outras iniciativas foram ocorrendo. Hoje temos já 65 anos de existência promovendo a cultura japonesa no Rio. Mesmo durante este duro período da pandemia do Covid -19, seguimos com atividades online, inauguramos nossa sede social em Laranjeiras e reformamos nossa sede tradicional no Rio”.
O vereador Pedro Duarte (NOVO), que promoveu a exposição cultural, argumentou aos presentes de quão a cultura japonesa está presente no dia a dia do brasileiro, mesmo que isso não seja perceptível a todos. Ele recordou que desde as artes marciais como o Judô e o Caratê, que muitos brasileiros praticam e que o país tem medalhistas olímpicos, à culinária e à indústria de animês, o Japão tem uma presença significativa na vida de toda uma geração. “Gerações de brasileiros foram criados assistindo a desenhos japoneses. Eu faço parte de uma destas gerações”. O ex-prefeito do Rio e vereador Cesar Maia (PSDB), que junto com Tarcísio Motta (PSOL) teve a iniciativa de homenagear o cônsul, contou, em participação online, um pouco da sua trajetória com o Japão e destacou que o país asiático atualmente tem um grande compromisso com o meio ambiente. Segundo ele, muitas das iniciativas realizados em território nipônico podem servir de exemplo ao Brasil.

Nesta mesma linha, o vereador Eliseu Kessler (PSD), também presidente do Conselho Deliberativo do ICBJ e presidente da Frente Parlamentar Brasil-Japão na Câmara do Rio, relatou a sua intensa trajetória com o Japão, a comunidade e a cultura japonesa. Sendo arquiteto, Kessler iniciou seu contato com o país nipônico na intenção de conhecer melhor as fundações da arquitetura do país asiático, também conhecido por experienciar diversos desastres naturais. “Eu queria conhecer a forma funcional de solucionar as questões arquitetônicas e queria também entender como os japoneses lidavam com as catástrofes naturais, já que tinha o objetivo de realizar um projeto de lei nesta casa que tratasse sobre calamidades públicas e catástrofes naturais”.

Assim, o título de cidade-irmã à Kōbe, conforme Kessler, em entrevista à Intertelas, auxilia a fomentar o relacionamento entre as instituições do parlamento carioca e a comunidade japonesa. “Fazemos este projeto para que haja uma aproximação, para que haja uma relação mais intensa do poder executivo, para que recebamos tudo o que a comunidade japonesa no Rio deseja realizar e, consequentemente, tudo o que nós quisermos um dia realizar em Kōbe, as portas estejam abertas através deste decreto, através desta irmandade”. Durante a solenidade de entrega do título de cidade-irmã, ele ainda destacou que Kōbe representa toda a pujança da nação japonesa. “Kōbe é o exemplo da força motriz econômica japonesa e é uma das cidades mais cosmopolitas da região”.
Conforme o vereador Tarcísio Motta (PSOL), tanto o título de cidadão ao cônsul geral do Japão, quanto o de cidade-irmã à Kōbe são uma demonstração de amizade e irmandade. “São um reconhecimento da importância desta relação histórica entre Brasil e Japão. Somos todos cidadãos do mundo e temos muito a aprender uns com os outros. Especificamente entre Rio e Japão há muito para aprender no campos da educação, da cooperação técnica e tecnológica, da prevenção de desastres socioambientais, além da cooperação cultural”.
Por fim, o cônsul geral Ken Hashiba, de 55 anos, que iniciou sua trajetória diplomática em 1991, agradeceu aos presentes dizendo que a homenagem a ele deve ser creditada também a todos os amigos do Japão que atuam e atuaram durante estes mais de 100 anos de intercâmbio com o Brasil. O diplomata ainda leu carta do prefeito de Kōbe Kizō Hisamoto em agradecimento ao título de cidade-irmã. As festividades encerraram com um coquetel e apresentação de tambores taiko, do tradicional Rio Nikkei Taiko da Associação Nikkei do Rio de Janeiro.
Agradecimento especial aos fotógrafos Takayuki Fuchigami, Janaína Lima (clique aqui) e Márcio Oliveira (clique aqui) pela colaboração com esta matéria.
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