
Os avanços das relações sino-brasileiras, assim como o posicionamento semelhante do Brasil e China sobre as principais questões e desafios que o cenário internacional apresenta no presente momento histórico destacaram-se na Conferência de Imprensa realizada pelo Consulado Geral da China no Rio de Janeiro nesta quarta-feira passada, dia 28 de junho de 2023. Acompanhada pela equipe consular, a cônsul geral da China, Tian Min, abriu o evento destacando a importância do Brasil e China para o cenário mundial atual.
“Estas são grandes nações em desenvolvimento com impacto global. Ambas ainda são parceiras estratégicas abrangentes que possuem interesses em comuns e assumem amplas responsabilidades no cenário internacional. Desde o estabelecimento das relações diplomáticas, em 1974, a cooperação entre os dois países tornou-se um modelo para outras nações e regiões. Diante de uma situação internacional cada vez mais complexa, as relações sino-brasileiras permanecem estáveis, a compreensão pragmática segue avançando, assim como o conhecimento cultural mútuo”.
Segundo ainda a diplomata, a abrangência e a reciprocidade das relações são um exemplo nos quadros multilaterais, trazendo energia positiva e estabilidade para o mundo. A história desta relação chega, neste ano de 2023, ao seu trigésimo aniversário. Uma jornada que teve início em 1993, com o estabelecimento da parceria estratégica entre o Brasil e a China, a primeira do tipo entre países em desenvolvimento.

“Recentemente, o presidente Lula realizou uma visita bem-sucedida à China, encontrando-se também com o presidente Xi Jinping. Nesta ocasião, os dois líderes abriram um novo caminho para o futuro, aprofundando a parceria estratégica abrangente, chegando a um consenso em diversas questões e assinando uma série de documentos que compreendem áreas como: comércio, investimento, finanças, economia digital, telecomunicações, inovação tecnológica, aviação espacial, segurança alimentar, intercâmbio de mídia, entre outros. Questões internacionais e regionais também foram tópicos centrais nesta visita como mudanças climáticas, a crise na Ucrânia e a cooperação global entre a China e a América Latina”.
A colaboração sino-brasileira diante de um mundo em crise
A cônsul Tian Min destacou que diante dos crescentes desafios globais, China e Brasil farão maiores contribuições para a manutenção da paz mundial e a promoção do desenvolvimento e da modernização comum, inclusiva e de benefício mútuo. “No campo da proteção ambiental e mudanças climáticas, o financiamento, a colaboração para promover a agricultura sustentável e o desenvolvimento tecnológico são pontos que Brasil e China têm espaço amplo para cooperação. Quanto à questão de saúde pública, a colaboração e compartilhamento no campo da pesquisa, além do suprimento de insumos médicos são a resposta para o enfrentamento de pandemias e outras situações equivalentes que podem ocorrer no futuro”.

Contudo, o maior avanço das relações sino-brasileiras ocorre na área econômica. Conforme a vice-cônsul e secretária da cônsul geral da China no Rio, Cai Zhiwen, o Brasil foi o primeiro país da América Latina a ter um volume de comércio bilateral com a China superior a marca dos cem milhões de dólares, por cinco anos consecutivos. “A China tem sido o maior parceiro comercial do Brasil por quatorze anos consecutivos. O Brasil é o maior destino das exportações chinesas e a principal fonte de importação da China na região. A mesma situação ocorre com os investimentos chineses. Trata-se de uma relação próspera no campo econômico e que se estende para uma parceria bem-sucedida em outras áreas cruciais como a garantia de promover a segurança alimentar, emprego e o acesso da população a um bom sistema de saúde”.

Os diplomatas chineses também salientaram que Brasil e China são os maiores países em desenvolvimento, no ocidente e no oriente, respectivamente e, consequentemente, tornam-se representantes significativos de suas regiões, auxiliando o mundo em desenvolvimento a ter mais destaque e assertividade em suas demandas e objetivos perante a comunidade internacional. “É importante lembrar que o Brasil e a China estão vivenciando um estágio crítico de seus processos históricos. A China está direcionando seus esforços para o desenvolvimento de qualidade e para a abertura de alto nível ao exterior, objetivando o rejuvenescimento da nação chinesa; já o governo brasileiro está promovendo ativamente a reindustrialização da economia nacional e aplicando esforços na construção moderna do país”, observou a cônsul Tian Min.
Os idiomas português e mandarim como base para um intercâmbio cultural e compreensão mútua
Nas áreas da educação e da cultura, os diplomatas acreditam ser crucial a ampliação do ensino da língua chinesa no Brasil, assim como do português na China. Segundo o cônsul Yang Huiquan, atualmente há mais de trinta universidades e instituições que ensinam português aos jovens chineses. Já no Brasil, ainda há falta de professores de mandarim. No entanto, a cidade e o estado do Rio já contam com um Instituto Confúcio, que se localiza na PUC-Rio e o Confucius Classroom que fica na Universidade Federal Fluminense (UFF). Em especial, nos últimos anos, a diplomacia chinesa colaborou com programas do Governo do Estado do RJ e com os Governos Municipais para difundir o ensino do mandarim em escolas públicas cariocas e fluminenses.

O trabalho conjunto resultou na existência do CIEP 097 Carlos Chagas Brasil-China, em Duque de Caxias, e no CE Matemático Joaquim Gomes De Sousa – Intercultural Brasil-China, em Niterói. Outro exemplo, no setor privado, é a Escola Chinesa do Rio de Janeiro, que recebe crianças da comunidade chinesa, brasileiras e de outras nacionalidades. “Para além disso, há iniciativas individuais como o Clube Mandarim, dirigido pela professora Maria e cursos de língua como o Oi China que dá aulas para um público amplo”, informou a cônsul Tian Min. Atualmente, o Batalhão de Polícia Turística (BPTur) iniciou aulas de mandarim para seus agentes policiais. Além das áreas da cultura e da educação, outros campos em que Brasil e China apresentam potencial para aprofundar a cooperação são dos esportes, principalmente com o futebol, e do turismo, já que o Rio é o principal destino dos turistas chineses.

Comunidade chinesa no Brasil: um elo para fortalecimento das relações sino-brasileiras e para a prosperidade da economia brasileira
“A comunidade chinesa no Brasil tem em torno de 200 a 300 mil integrantes, com significativa atuação na economia do país, e que cada vez mais integra-se à sociedade brasileira, já considerando o Brasil como sua segunda casa”, explicou vice-cônsul Duan Yunxuan. De acordo com o diplomata, da mesma forma que a comunidade chinesa no Brasil vem crescendo em números, o número de empresas chinesas que chegam ao Brasil e ao estado do Rio vem aumentando nos últimos anos.
“Hoje em dia há cerca de 25 mil chineses nos quatro estados que estão sob nossa jurisdição: Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo. Na cidade do Rio, o bairro da Tijuca e o Centro são as regiões onde se concentra o maior número de chineses que atuam no setor do comércio de varejo de pequenos produtos e restaurantes principalmente. Ao todo, existem seis associações da comunidade chinesa na cidade e que, em conjunto com a população carioca e fluminense, atuaram para amenizar os desafios que surgiram em momentos críticos como na pandemia e em desastres naturais. Especificamente os chineses contribuíram com suprimentos médicos e cestas básicas aos mais afetados”, informou o diplomata.

Crise na Ucrânia: Brasil e China insistem na busca pelo diálogo e o retorno à paz
Finalmente, a atuação do Brasil e China na solução de conflitos certamente teria de ser mencionada, diante de um cenário internacional bastante turbulento. Como relatou o vice-cônsul, Zeng Can, ambos os países apresentam posições muito próximas, defendendo o respeito à soberania e à territorialidade dos países pelos propósitos e princípios das Nações Unidas e são assertivos ao defender que a segurança dos países deve ser levada a sério, mas sempre com a perseverança de encontrar soluções pacíficas para os conflitos e crises.

“Especificamente quanto à crise ucraniana, o Brasil e a China novamente concordam na forma de achar uma solução. No começo deste ano, a China lançou um documento onde enfatiza que é preciso abandonar a mentalidade de Guerra Fria, manter a segurança de usinas nucleares, garantir a estabilidade de suprimento da cadeia industrial, promover a construção de uma estrutura de segurança comum e abrangente para a Europa e o mundo, além de reduzir outros riscos estratégicos e perseverar no diálogo e na negociação como formas de pôr fim à crise na Ucrânia“.
Excelente matéria
Fotos muito boas também.