A Redenção vem quando humanizamos o Inimigo, em “Terras de Minas” (2015)

O ator Roland Møller interepreta o sargento Carl Rasmussen (E) em “Terra de Minas” (2015).

O tema da Segunda Guerra continua ocupando lugar relevante na psique mundial, sobretudo europeia. A memória do conflito resiste. Em especial na Europa, onde novas fronteiras foram desenhadas, povos foram deslocados, ódios foram deflagrados e depois contidos.

E é nesse contexto que o drama de guerra dinamarquês “Terra de Minas” (Under sandet), de 2015, foi selecionado para o Oscar de melhor filme estrangeiro na edição daquele ano, além da boa participação em festivais e mostras mundo afora. No Brasil teve estreia discreta.

O filme é um drama dirigido com segurança por Martin Zandvliet (ele também assina o roteiro), que joga luz sobre atos ocorridos no ápice do sentimento antigermânico que imperava na Europa nos meses e anos após o fim do conflito, quando o mundo ainda contabilizava as devastadoras perdas humanas e materiais provocadas pela guerra. Em vários lugares do continente, milhões de minas terrestres foram instaladas pelos exércitos alemães e, com o fim do conflito, precisaram ser removidas urgentemente.

O arriscado trabalho foi realizado, ao menos na Dinamarca, por soldados alemães, “recrutados” entre os milhares de prisioneiros de guerra. O filme de Zandvliet resgata a memória desses prisioneiros, na sua grande maioria, garotos recém-saídos da adolescência, recrutados nos meses que precederam o fim da Alemanha Nazista.

Cena do filme “Terra de Minas”.

Na história, acompanhamos o sargento Carl Rasmussen (Roland Møller), endurecido pelos anos de domínio alemão, responsável por comandar um grupo de prisioneiros encarregados da remoção das minas terrestre de uma praia na costa dinamarquesa. O personagem de Møller garante certa complexidade ao duro sargento, evoluindo do ódio aos alemães ao despertar, gradativo, da sua sensibilização para com a condição humana daqueles garotos. Mesmo com um arco dramático previsível, a direção dos atores carrega a ação sem sentimentalismos.

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O roteiro é preciso e econômico, e a direção sóbria faz do filme um importante relato histórico de uma passagem inglória da história Dinamarquesa, reconhecida por sua postura civilizada e altiva, durante a dominação nazista, ao recusar-se a participar da sanha assassina da solução final nazista.

O filme Zandvliet nos convida a refletir sobre a força corrosiva do ódio, e como a redenção vem, normalmente, quando humanizamos o inimigo. Um bom filme, que nos mostra como o tema da segunda guerra reserva muitas histórias que ainda precisam ser reveladas.

Título: Terra de Minas
País: Dinamarca e Alemanha
Direção:  Martin Zandvliet
Roteirista:  Martin Zandvliet
Elenco: Roland Møller, Louis Hofmann, Joel Basman
Duração: 1h40min
Lançamento: 3 de dezembro de 2015 (Dinamarca)
Idioma: dinamarquês, inglês e alemão
Legendas: português

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por Anders Noren

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